UM TEMA DE REFLEXÃO

Mussolini sorri: depois das legislativas, os seus sucessores ganham, também, o município de Roma...
E anteontem o Parlamento italiano tomou posse - pela primeira vez, desde 1946, sem eleitos comunistas.

Com mais de um milhão de militantes e com uma fortíssima infuência social, eleitoral e política, o Partido Comunista Italiano era, nos anos 70, o maior Partido Comunista da Europa Ocidental.
Contudo, no seu seio nasceram e cresceram (ou foram lá implantadas) forças que, minando a identidade do Partido, conduziram à sua liquidação.
Achille Occhetto foi o último secretário-geral do PCI - e foi ele que, convocando um congresso para o efeito, deu o passo decisivo para a liquidação do Partido.

Durante todo esse processo de destruição, o PCI foi louvado pela comunicação social dominante que o aconselhava a todos os partidos comunistas da Europa como modelo a seguir.
Partidos houve que seguiram o conselho - e tiveram o mesmo fim.
Os que persistiram em continuar comunistas - caso do PCP - eram apontados por essa comunicação social inimigos da «renovação» e da «modernização», «ortodoxos», «estalinistas», etc, etc.

Dos destroços do PCI, surgiu, a dada altura, o Partido da Refundação Comunista e, de uma cisão deste, o Partido dos Comunistas italianos (os dois que, agora, se viram afastados do Parlamento) - e quer um quer outro estão muito, muito, muito longe de poderem ser considerados partidos revolucionários, marxistas-leninistas, com a sua específica natureza de classe, com o seu projecto, comunistas, enfim.

Pronunciando-se sobre esta derrota eleitoral, Occhetto diz que ela se deve ao facto de «os dois partidos comunistas» terem «atrasado a sua renovação» rumo à «criação de uma nova esquerda pluralista e democrática», bla-blá-blá. - o que, traduzido, significa que, para Occhetto, eles ainda são demasiado partidos comunistas e é preciso que o deixem de ser total e absolutamente...

Tudo isto faz pensar - e deve ser tema de reflexão - em como o inimigo de classe, ao longo do tempo, tem conseguido penetrar nos partidos comunistas, criando e pondo a funcionar ao seu serviço activas fracções revisionistas que, não raras vezes, logram mesmo chegar ao topo.
Occhetto, na Itália; Carrilho, na Espanha... - isto para não falar de Gorbachev que, depois de se vender e de vender a União Soviética ao imperialismo norte-americano, correu mundo a fazer «conferências» pagas a peso de ouro e terminou propagandista de malas de viagem...


Também por cá não têm faltado os «renovadores».
A primeira vaga surgiu em finais dos anos 80: todos juravam que o que queriam era «um PCP mais forte», todos se apresentavam como «vítimas de perseguições estalinistas» - e todos juravam que seriam «comunistas sempre».
Desse grupo, a maior parte está hoje no PS e no PSD - são ministros, secretários de Estado, deputados, autarcas, administradores de empresas...
A segunda vaga surgiu em finais dos anos 90: todos juravam o mesmo que os seus antecessores, todos eram «vítimas» das mesmas «perseguições»... e por aí andam...
E a terceira vaga surgirá logo que as condições se proporcionem... e fará as mesmas juras e proclamará as mesmas vitimizações e seguirá os mesmos destinos.

E o PCP continuará a ser o que é há 87 anos.
Porque os seus militantes - que são comunistas e portugueses - o querem assim: Partido Comunista Português.

5 comentários:

GR disse...

Como é possível destruir um Partido em troca de dinheiro e protagonismo?
Podem ter destruído, mas continuará haver muitos comunistas, em grande sofrimento.

O PCP continua a ser o que os militantes querem!
Um Partido Marxista-Leninista,
Um Partido verticalidade, integro e fiel ao seu Programa e Estatutos.
Viva o PCP!

GR

Anónimo disse...

O Partido Comunista Português, é um Partido político, com a sua ediologia marxista- Leninista, partido da classe operária, e de todos os trabalhadores.
Os outros são empresas, sociedades por quotas, essa é a grande diferença.
Abraço Manangão

Anónimo disse...

Excelente post, fernando samuel.
Se as experiências dos outros não nos servem, a quem hão-de servir se os outros já não são?! Foram...
E que a nossa experiência sirva para outros. Lutámos, lutamos e continuamos a lutar.
Grande abraço.

Crixus disse...

Felizmente que os militantes e os dirigentes do nosso Partido conseguiram resistir a essa onda de oportunismo e destruição que varreu grande parte dos partidos comunistas europeus. Estou certo que saberemos manter o caminho correcto, e tomara que os historicos partidos comunistas europeus (frances, italiano, espanhol...) conseguissem retomar esse mesmo caminho, reconquistar a dignidade perdida, ultrapassar o oportunismo e divisionismo, porque fazem muita falta a esses povos, á Europa e ao Mundo.

Fernando Samuel disse...

gr: a luta de classes está em todo o lado...

josé manangão: a diferença é essa...

zambujal: lutámos, lutamos e continuamos a lutar: por isso somos o que somos - que é o que queremos ser.

crixus: resistimos colectivamente e vencemos - e é claro que os que se afastaram fazem muita falta à luta - mas creio que hão-de voltar...