ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS

Amanhã, os trabalhadores saem à rua exigindo à quadrilha de governantes em funções o respeito pelos direitos e pela dignidade de quem trabalha, vive do seu trabalho e com o seu trabalho produz a riqueza do País.
Nas acções de Lisboa e do Porto, milhares de homens, mulheres e jovens erguerão, certamente, uma grande Jornada de Luta que constituirá o mais relevante acontecimento do dia.

Assim sendo, se vivêssemos numa democracia a sério, com uma comunicação social a sério, as manifestações marcadas para amanhã seriam notícia nos jornais de hoje.
Não foram.
É claro que não se esperava que eles dessem honras de primeira página à luta dos trabalhadores. Como é sabido, as primeiras páginas são ouro e, por isso, estão reservadas para as notícias rentáveis, como se constata vendo, por exemplo, o Correio da Manhã («Magistrados suspeitos de burla»), ou o DN («Isaltino preso na câmara») ou o Público («Duarte Lima é o único suspeito da morte de Rosalina no Brasil»)...
É óbvio que não há manifestação que possa competir com notícias desta envergadura...

Também nas páginas interiores, cheias a aborratar das mais diversas notícias, não se encontra nada sobre as manifestações dos trabalhadores: nada: nem uma notícia pequenininha, escondida no recanto mais escondidinho, como às vezes acontece...

O mesmo acontece lendo as habituais análises, comentários e politologias produzidas pelos habituais analistas, comentadores e politólogos: como é óbvio, a luta dos trabalhadores não tem lugar nas reflexões destes pensadores...
(aqui, com uma excepção que importa assinalar e saudar: a crónica de António Vilarigues no Público, essa sim, virada para a situação real e concreta dos trabalhadores, do povo e do País: para as causas e para as consequências da política de direita; para a existência de uma alternativa a essa política; para o papel decisivo da luta de massas, nomeadamente as manifestações de 1 de Outubro, na construção dessa alternativa)

E amanhã?: será que os jornais vão dizer que há Jornada de Luta?
E no domingo?: dirão que houve Jornada de Luta?
Não!, tanto mais que os «Magistrados» e o «Isaltino» e o «Duarte Lima» dão pano para mangas, e vão servir para, durante muitos dias, desviar as atenções do que de importante acontece em Portugal - designadamente a Jornada de Luta de 1 de Outubro.

Até amanhã, camaradas.

POEMA

(Morreu Picasso, que não se limitou a
mostrar com génio nos seus quadros as coisas
e os homens destruídos pelo sistema capitalista...)


Mais nos ensinou Picasso:
que não se é jovem apenas biologicamente,
em virtude
da força com que se luta, o vigor do passo,
o sangue ardente,
nenhuma ruga na face,
o punho agreste e rude.

Na opinião dele
a juventude
nada tem a ver com a pele.
é um sonho mais profundo.
Constrói-se, faz-se
hora a hora, dia a dia,
segundo a segundo.

Sobretudo quando se é comunista
como ele era,
e se ambiciona um Novo Mundo
em que exista
a imaginação, a alegria
e a dupla primavera
nos homens e na Terra.


José Gomes Ferreira

O «FUNDO DO CORAÇÃO» DO PASTOR ALEMÃO

O papa Bento XVI, nos múltiplos discursos que proferiu durante a visita que fez ao seu país natal, voltou a exibir o seu anticomunismo primário, procedendo uma vez mais à equiparação entre nazismo e comunismo - ou, como o animal diz, entre «a ditadura negra» e «a ditadura vermelha».

Sabe o papa que, dizendo o que diz, o que está, de facto, a fazer é a branquear o nazi-fascismo e o seu projecto de, a ferro e fogo, conquistar o mundo.
E sabe, igualmente, que as suas afirmações vêm na continuidade do posicionamento da sua Igreja em relação ao Terceiro Reich, bem como em relação a todas as ditaduras fascistas nos diversos países, tratadas sempre com carinhos maternais...

Aos que procedem a essa equiparação soez, respondeu um dia o grande escritor alemão Thomas Mann com palavras que hoje mantêm viva actualidade:

«Colocar no mesmo plano moral o comunismo e o nazismo, como sendo ambos totalitários, no melhor dos casos é superficialidade, no pior dos casos é fascismo. Quem insiste nessa equiparação pode considerar-se democrático mas, na verdade e no fundo do seu coração, já é fascista».

Até parece que, ao escrever isto, o genial autor de A Montanha Mágica estava a pensar em Bento XVI - o qual, quando fala em público, tenta sempre, por razões óbvias, esconder o «fundo do seu coração...

POEMA

VIAGEM ATRAVÉS DE UMA LÁGRIMA


Nós, comunistas,
não habitamos
o deserto
nunca.

Há sempre
alguma coisa
alguém
uma palavra
uma canção
um nome
que de repente
se transforma em lágrima.

A lágrima
ao sol
é um pequeno punho
de cristal.


Mário Castrim

O «LÍDER DA OPOSIÇÃO»...

António José Seguro anda num frenesim: ele exige ao primeiro.ministro que; ele avisa o Governo que; ele garante aos portugueses que... - e no final de cada exigência, aviso ou garantia, com voz enérgica, proclama. «Eu sou o líder da oposição».

Com toda esta encenação, o líder do PS está a cumprir o papel que lhe compete de se fingir oposição ao governo e à política por este praticada - um papel que, nas últimas três décadas e meia, tem vindo a ser desempenhado em cordial alternância com o PSD: ora agora governo eu e tu fazes de oposição, ora agora governas tu e eu faço de oposição...

Reconheça-se que o cumprimento de tal tarefa é muito mais difícil para o PS do que para o PSD.
Na verdade, é preciso muita tarimba de palco e de representação para, sendo de facto o líder da política de direita, se auto-denominar «socialista» e de «esquerda»...
Mas também é verdade que todos os líderes do PS - do insuperável Soares ao apatetado Seguro - se têm mostrado exímios praticantes na arte da trapaça e da mentira.

Há dias, assistimos a um sketch bem revelador das capacidades histriónicas de Seguro: o primeiro-ministro Passos Coelho recebeu o «líder da oposição», o qual, com voz enérgica, lhe cantou das boas: que mais isto, e mais aquilo, e mais aqueloutro; eu não tolero que; eu não permitirei que, eu não admito que... após o que, com a mesma voz enérgica e já a falar a sério, sintetizou numa dezena de palavras o seu conceito de «oposição».
Disse Seguro, seguro de si e expressando o que lhe vai na alma: «A obrigação do primeiro-ministro é cumprir o memorando da troika».

E saindo de cena, apressado, foi fazer «oposição» para outro lado.

POEMA

IDIOTAS, PALHAÇOS E BANDIDOS...


Idiotas, palhaços e bandidos,
enfatuados, ocos, ignorantes,
do capital humildes servidores,
ante os trabalhadores majestosos,
melífluos, devotos, afectados,
hipócritas, sem escrúpulos, grosseiros,
no apetite à solta insaciáveis,
na total desvergonha sem remédio,
agiotas vorazes para os pobres,
para os ricos mãos rotas sem medida,
impávidos na asneira triunfal,
relapsos no logro e na mentira,
useiros e vezeiros na traição,
são os que nos governam e eu desprezo.


Armindo Rodrigues

O «PIOR» E O «MELHOR»...

15 dias, o ministro Gaspar das Finanças disse que «o ano de 2012 será o princípio do fim da crise».
Ontem, o ministro Gaspar das Finanças, disse que «em 2012, os sacrifícios pedidos às famílias vão acentuar-se» - porque, explicou do alto do seu saber, «o pior está para vir».
E manifestou receios com as anunciadas e anunciar manifestações de massas...
Daqui por 15 dias o que dirá o ministro Gaspar das Finanças?
Cá por mim, acho que melhor fora o homenzinho não dizer mais nada, calar-se, ir fazer o inferno para outro lado, sei lá... tanto mais que as manifestações do próximo sábado, em Lisboa e no Porto, pelas dimensões que previsivelmente atingirão, vão concerteza acentuar-lhe os receios...

Já o primeiro-ministro Passos Coelho diz que o melhor está para vir...
para os capitalistas, entenda-se...
E informou que os homens da massa, em Portugal e no estrangeiro, «têm muita confiança no trabalho que o Governo está a fazer»- pudera! - como o confirma o facto, diz o primeiro-ministro, de muitos deles, em vários países, se manifestarem interessados na aquisição das empresas que o Governo vai privatizar -pudera!

É esta relação entre o «pior e o melhor que está para vir» que melhor exemplifica o carácter da política de direita, a sua natureza de classe, os interesses que serve.
É condenando à miséria a imensa maioria dos portugueses - os trabalhadores e o povo - e enchendo os cofres da imensa minoria - os chefes dos grandes grupos económicos e financeiros - que os executantes e apoiantes da política de direita exemplificam o seu conceito de democracia...

E é intensificando e ampliando a luta de massas que os trabalhadores e o povo conseguirão dar a volta a isto, ou seja, derrotar esta pseudo democracia e construir a Democracia que Abril nos mostrou ser possível.
Dia 1 de Outubro lá estaremos!

POEMA

COMEI VOSSOS PERUS


Comei vosso perus
burgueses anafados
e dai esmolinha aos pobres
que tende esfomeados.
Um dia há-de chegar
em que sereis assados
não para subir ao céu.


Jorge de Sena

A INTRÉPIDA

Ana Gomes - a intrépida... - voltou à Líbia, «onde esteve três vezes nos últimos meses».
«Tenho a obrigação de estar bem informada sobre a situação», diz a intrépida, justificando as três visitas feitas - através das quais foi «colher elementos em directo, manter contactos com as autoridades e a sociedade civil»...
(sendo certo que «os contactos com as autoridades» são fáceis de visualizar, o mesmo não se pode dizer dos contactos com a «sociedade civil», a não ser que esta seja uma senhora das relações da intrépida...)

Diz Ana Gomes, entusiasmada, que «o ambiente em Tripoli é como o do 25 de Abril em Portugal»... e que reina a calma em todos os lares e a paz nos espíritos e nas ruas...
Diz, ainda, que, «hoje, os líbios não precisam de apoio humanitário» (talvez, digo eu, porque acabaram os bombardeamentos da NATO e terminou o embargo a alimentos, medicamentos, etc): o apoio de que precisam, agora, é - diz a intrépida - «tudo o que facilite o relacionamento e cooperação com a UE»... e, a propósito, lá vai dizendo que os líbios precisam de casas... «pré-fabricadas ou definitivas», logo, «a nível de negócios» há que aproveitar...

Diz, também, que há zonas destruídas: as que Kadhafi mandou destruir - porque os bombardeamentos da NATO, esses, foram «de facto, cirúrgicos»...

Aguardo, ansioso, a quarta visita da intrépida à Líbia: é que, sem estas visitas e as informações que delas decorrem, nada saberíamos do que por lá se passa...


POEMA

PREFERIR O NEBULOSO...



Preferir o nebuloso ao evidente,
por ser feio o evidente e belo o nebuloso,
é um defeituoso gozo
de doente.


Armindo Rodrigues

OS «NÃO» DE OBAMA

Obama disse «Não!» - duas vezes «Não!», em dois dias.

Obama disse «Não!» ao apelo que lhe chegou no sentido de impedir a execução de Troy Davis - execução concretizada ontem, na sequência de uma condenação perpetrada por um daqueles tribunais norte-americanos peritos em condenar sem provas; em forjar provas; em ignorar e calar a verdade.
Aos apelos de chefes de Estado de todo o mundo, do Papa, de milhares e milhares de cidadãos do seu País, Obama, como César na arena romana, apontou o polegar para o solo e Troy Davis foi executado.
Dizendo com mais rigor: Troy Davis foi assassinado: pelos juízes que o condenaram sem provas, forjando provas e ignorando e calando a verdade - e por Obama, pelo polegar do imperador virado para o solo.

Obama disse «Não!» ao reconhecimento do Estado da Palestina pela ONU.
À vontade expressa por milhões de pessoas de todo o mundo, solidárias com a luta e o sofrimento do martirizado povo palestino, o todo-poderoso Obama - que há um ano defendeu a «Palestina independente» - deu, agora, o dito por não dito e, qual chefe imperial, disse «Não!» - invocando a «amizade profunda e muito forte com Israel», que o mesmo é dizer com a política criminosa do governo fascista de Netanyahu.
E dizendo «Não!» deu mais força a essa política e assumiu-se como o criminoso que de facto é.

Cada «Não!» de Obama é uma cruel sentença de morte.
Ai daqueles - homens, mulheres, crianças - a quem Obama diz «Não!»

POEMA

SEMEARÁS O VENTO


semearás o vento
o trigo a sede

sentirás o grão
amadurecer
ao longo do teu corpo

escutarás no teu peito
o largo silêncio
da seara

colherás outro tempo
uma romã
uma fonte

semearás o vento
com o amor
que cria a tempestade


Rui Namorado

A LEMBRAR !

ISTO ANDA TUDO LIGADO...

Dizer «os Cinco» é dizer RAMON, FERNANDO, ANTÓNIO, GERARDO, RENÉ - os heróis cubanos, combatentes do terrorismo, presos nos EUA em 12 de Setembro de 1998. Precisamente por combaterem o terrorismo.
Julgados num tribunal fantoche de Miami, por juízes fantoches que nem as leis dos EUA respeitaram, foram condenados a pesadas penas e encerrados em prisões de segurança máxima, privados de visitas dos familiares aos quais foi negada a autorização de entrada nos EUA.

René, o que sofreu a condenação menos pesada (13 anos), termina a sua pena no próximo dia 7 de Outubro e deveria, em condições normais, regressar de imediato a Cuba para junto dos seus familiares e dos seus amigos.
Só que «condições normais» é coisa que para os tribunais da «pátria da democracia» significa continuação do arbítrio, da injustiça, da anormalidade...

Com efeito, um comunicado do Comité Internacional para a Libertação dos Cinco (CILC) informa a alerta para o facto de o governo dos EUA pretender impedir o regresso a Cuba de René González - alegando que ele terá que cumprir os três anos de liberdade condicional na Florida, respeitando as seguintes condições: dar provas de que «não constitui qualquer perigo para os Estados Unidos» e «proibição de frequentar lugares frequentados por indivíduos ou grupos terroristas»...

Uma fiscal, que dá pelo nome de Carolina Heck Miller, é a mais aguerrida defensora destas medidas... e se se disser que foi ela quem, em tempos, se negou a julgar como criminoso o criminoso Luis Posada Carrilles, está tudo dito... ou quase tudo: na verdade, como sublinha o comunicado do CILC, «obrigar René a cumprir três anos de liberdade vigiada na Flórida, guarida de terroristas internacionais, é pôr em sério risco a sua integridade física e a sua vida» - ou seja, é quase o mesmo que condená-lo à morte...

O CILC apela a que denunciemos esta situação e exijamos que, no dia 7 de Outubro, René possa regressar a Cuba para junto da sua esposa, dos seus familiares, dos seus amigos.

Registe-se que as condições de liberdade condicional impostas a René são exactamente as mesmas que a PIDE impunha aos presos políticos portugueses após o cumprimento das penas de prisão e das chamadas «medidas de segurança».
A confirmar que isto anda tudo ligado...

POEMA

ATÉ AMANHÃ


agachados na cova da noite
pequeninos e enormes
esperávamos o homem da bicicleta

embrulhados em papel de jornal
ele transportava uma foicinha
e um martelo

mal chegado
um minuto de silêncio conspirativo
e logo o trabalho

sobre o chão húmido e rugoso
ensinava a construir
e a semear
na inteligência dos homens
no coração dos homens
na coragem dos homens

quando partia
e montava a tosca e fiel bicicleta
sabia
que na próxima vez
vinha encontrar a terra semeada de esperanças
e mais uma telha
e mais uma trave
na casa da construção

foi ontem
e amanhã se for preciso


Francisco Gonçalves de Oliveira

IMPUNIDADES...

Um dos muitos métodos a que o anti-comunismo recorre na sua acção permanente é o da invenção de mentiras sobre os objectivos e a actividade dos comunistas - mentiras que, porque muitas vezes repetidas pelos média dominantes, acabam por se impor como se verdades fossem e, como tal, passam a fazer parte do arsenal argumentativo de toda a fauna anti-comunista.
Exemplos disso são, para referir apenas dois, os chamados casos «República» e «Rádio Renascença», ambos obra da esquerdalhada ao serviço da contra-revolução, mas sempre atribuídos aos comunistas - mentiras que serviram, na altura, para espalhar, no País e no mundo, uma imagem terrorista dos comunistas portugueses e da Revolução Portuguesa; mentiras que, apesar de sobejamente desmascaradas, ainda hoje servem de alimento aos tarefeiros-mercenários do anti-comunismo.

Vem isto a propósito de um texto vomitado há dias no Público por Vasco Pulido Valente (VPV) e no qual o autor, criticando a «impunidade» de que gozam, desde o 25 de Abril, os autores de muitas malfeitorias, dá o exemplo e dispara contra os que, no sinistro PREC, segundo ele, «proclamavam nas ruas a necessidade de fuzilar a reacção e de estabelecer rapidamente uma ditadura do PC» - e que, graças à tal «impunidade»... não foram punidos...


Trata-se de uma provocação baixa, reles, mas natural vinda de quem vem.
E consciente.

Com efeito, não estamos perante um cidadão moldado pela desinformação organizada dos média dominantes e que repete as mentiras por eles difundidas julgando tratar-se de verdades: VPV é um produtor e um difusor dessa desinformação organizada; é um produtor de mentiras que, de tanto repetidas, são aceites como verdades; é um tarefeiro do anti-comunismo, tarefa pela qual é, certamente, bem remunerado, e que desempenha com total impunidade...

Neste caso concreto, ele sabe - ó se sabe! - que os que diziam querer «fuzilar a reacção» eram, de facto, sabendo-o ou não, instrumentos da reacção e da sua acção contra-revolucionária visando, se possível, o regresso ao passado;
eram, de facto, parte integrante e activa da poderosa ofensiva anti-Abril e anti-comunista que tinha no PCP o seu alvo primeiro e principal;
eram, de facto, pessoas que o reaccionário VPV muito prezava - e que agiram, todos, VPV incluído, gozando de total impunidade...
A mesma impunidade com que VPV, hoje, com os seus vómitos, desinforma, mente, calunia...

POEMA

A ÚNICA SABEDORIA


Toda a crença
pressupõe uma pretensa sabedoria
revelada.
Eu quero-a conquistada
dia a dia.


Armindo Rodrigues

E ANDAM NISTO HÁ 35 ANOS!

Perdido em mil e uma leituras, perdi uma frase...
Uma frase pequena mas que, segundo me dizem, foi proferida em tom solene e peremptório, no decorrer de uma entrevista; uma frase de, exactamente, meia dúzia de palavras, nem mais uma nem menos uma, mas que vale um tratado.
Eis a frase: «Eu sou o líder da oposição!».
E quem é que tal disse?
António José Seguro, obviamente...
Mas Seguro não é só isto...
Seguro, certeiro, aduziu provas concretas e irrefutáveis do que disse...
Seguro, didáctico, demonstrou por a+b que é, de facto, «o líder da oposição».

E que provas e demonstrações foram essas?
A confirmar a liderança, Seguro jurou respeitar e cumprir o memorando da troika, assim honrando a palavra dada pelo partido que ele, Seguro, lidera...
Que é um partido de palavra!
Que é o partido que, então no Governo, liderou a assinatura do dito memorando.
E que, agora, como se está mesmo a ver, lidera a oposição...

É um brincalhão, este Seguro. Igual a ele só o seu gémeo Passos Coelho...
E é assim a oposição e são assim os seus líderes: se António José Seguro fosse o primeiro-ministro, caberia a Pedro Passos Coelho - actual primeiro-ministro e líder do segundo partido a assinar o tal memorando - cumprir a tarefa que Seguro agora cumpre.
E ouviríamos Passos Coelho, no tom, no jeito e na pose saídos da mesma forma de plástico que moldou o tom, o jeito e a pose de Seguro, dizer: «Eu sou o líder da oposição!»

E andam nisto há 35 anos!...

POEMA

OS PRAZERES DA JUVENTUDE


Ao fim de 24 jogos perdidos,
o time ganhou o desafio.
O público inundou o campo, desceu à cidade,
e durante horas interrompeu o trânsito, bebeu na rua,
quebrou montras, partiu mesmo os faróis dos carros
da polícia que, risonha, comungava
naquele entusiasmo regional e jovem
por um triunfo tão longamente ansiado.

Uma centena de pessoas manifesta-se na rua
(contra uma «vitória» que não se vê no Viet-Nam),
e os cacetes desabam, a prisão enche-se,
porque interromperam o trânsito, incitaram à desordem,
e resistiram malignamente à autoridade
que os mandou dispersar.


Jorge de Sena

HOJE NÃO HÁ POST!

Primeiro, pensei fazer um post sobre as declarações do patrão Van Zeller ao Diário de Notícias de hoje.
Mas desisti da ideia: as declarações de Van Zeller - dizendo que, para «patrões e banqueiros», tanto faz um governo PS como um governo PSD: são ambos bons; ou que «a crise da Grécia e do euro pode obrigar o PS a entrar no Governo» - já foram, ontem, comentadas aqui no Cravo de Abril...

Depois, pensei na Madeira: nas tropelias do Jardim; nos negócios do Jardim; nas contas ocultas do Jardim; nos insultos do Jardim; na impunidade do Jardim - mas logo desisti de postar sobre tal matéria: é domingo, está um dia tão bonito!...


Numa derradeira tentativa, pensei, ainda, nas «melhores tiradas do Jardim», assim lhes chama, divertido, o DN de hoje (o DN é um brincalhão...): «Fui eu que fiz a democracia na Madeira»; «Vamos pôr na rua o grande mafioso (Guterres), vamos dar-lhe um pontapé no traseiro»; «O sr. Silva deveria ser expulso do PSD»; «Não sou separatista, mas oxalá Lisboa não continue a fazer tantas e tais que eu tenha de mudar de opinião»... - pensei, dizia, escrever sobre estas «melhores tiradas»... mas lembrei-me que, na avisada opinião do dr. Jaime Gama, «Alberto João Jardim é um exemplo supremo na vida democrática»... e que, na avisadíssima opinião do sr. Silva, «Alberto João Jardim não precisa de elogios, a obra que realizou fala por si»...
E quem sou eu para comentar e contestar o dr. Gama & o sr. Silva?...

Perante tudo isto, decidi: hoje não há post!

Até amanhã e bom domingo.

POEMA

NÃO NOS DEIXAM CANTAR


Não nos deixam cantar, Robeson,*
meu canário com asas de águia,
meu irmão negro com dentes de pérola,
não nos deixam cantar as nossas canções.
Têm medo, Robeson,
medo da aurora, medo de olhar
medo de ouvir, medo de tocar.
Têm medo de amar,
medo de amar como amou Ferhat, apaixonadamente.
(Decerto que também vocês, irmãos negros,
têm um Ferhat, como é que lhe chamas, Robeson?)
Têm medo da semente e da terra,
medo da água que corre,
medo da lembrança.
A mão de um amigo que não deseja
nem desconto nem comissão nem moratória
igual a um pássaro quente,
não apertou nunca a sua mão.
Têm medo da esperança, Robeson, medo da esperança!
Têm medo, meu canário com asas de águia,
têm medo das nossas canções, Robeson...


Nazim Hikmet

* Paul Robeson, cantor negro norte-americano. Do seu reportório faziam parte cantos espirituais negros e outras canções tradicionais, de combate e de luta. A dada altura foi proibido de fazer espectáculos nos EUA: ficou célebre o espectáculo que realizou no Canadá, no limite da fronteira com os EUA, ouvido por milhares de compatriotas seus...

NÃO SE PODE SER MAIS CLARO...

A entrada do PS para o actual governo é hipótese colocada hoje pelo jornal i.
Diz o jornal que, apesar de nos «círculos políticos socialistas, social-democratas e centristas» poucos admitirem abertamente» tal hipótese, a sua concretização está bem mais próxima do que pode parecer. Isto de acordo com «opiniões ouvidas pelo i»...
E o jornal lembra e informa que, por um lado, «Paulo Porta e a ministra da Justiça já defenderam num passado recente a necessidade de uma coligação com o PS, sem Sócrates» e, por outro lado, «vários dirigentes do PS estão convencidos que só com um "governo de salvação nacional" se pode sair da crise»...
Portanto...

Acresce que, diz o i, o agravamento brutal da «crise»; a «Grécia à beira da bancarrota e os riscos de «contágio para Portugal admitidos por Passos Coelho»; as «contingências agravadas» que se adivinham; a inexistência de perspectivas de saída; as múltiplas vozes que falam da saída de Portugal do Euro como uma possibilidade - são, entre outras, razões que tornam «um governo alargado de coligação como uma necessidade evidente»...

Postas as coisas assim, até parece que sim...
Com efeito, um governo composto pela troika nacional que assinou o pacto de submissão com a troika ocupante, seria a solução governamental mais lógica - e também a mais... transparente, na medida em que envolveria na governação os partidos colaboracionistas, todos juntos no barco naufragado da política de direita...

Todavia, há um outro dado a ter em conta: a política de direita, praticada seja por que partido for, precisa sempre de um partido que, ficando fora do governo, finja ser a oposição - de modo a constituir um seguro de vida e de continuidade dessa política.
Vimos como, ao longo dos últimos 35 anos, esse papel foi desempenhado ora pelo PS, ora pelo PSD - cada um deles cumprindo o seu turno de serviço de oposição à política praticada por cada um deles no cumprimento do turno de governo de serviço.

Por isso, de entre as «opiniões ouvidas pelo i», destaco a do dirigente do PSD, Guilherme Silva, que chama a atenção para o «importante papel» que o PS tem a desempenhar, «como partido maior de oposição», ajudando à boa concretização do «memorando da troika» - e sublinha que quanto mais grave for a situação mais importante é esse papel de «oposição» desempenhado pelo PS...
Não se pode ser mais claro...

POEMA

UM FANTASMA PERCORRE A EUROPA


... E as velhas famílias fecham as janelas,
reforçam a segurança das portas,
e o pai corre às escuras para os Bancos
e o pulso pára-lhe na Bolsa
e sonha de noite com fogueiras,
com reses a arder,
que em vez de trigais tem chamas,
em vez de grãos, chispas,
caixas,
caixas de ferro, cheias de faúlhas.
Onde estás,
onde estás?
Os camponeses passam e calcam-nos o sangue.
O que é isto?

Fechemos,
fechemos depressa as fronteiras.
Vede como avança rápido no vento de Leste,
das estepes vermelhas da fome.
Que os operários não lhe ouçam a voz,
que o seu silvo não penetre nas fábricas,
que não divisem a sua foice erguida os homens dos campos.
Detende-o!
Porque transpõe os mares,
percorrendo toda a geografia,
porque se esconde nos porões dos barcos
e fala com os fogueiros
e trá-los tisnados para a coberta,
e faz com que o ódio e a miséria se sublevem
e as tripulações se levantem.

Fechai,
fechai os cárceres!
A sua voz estilhaçar-se-á contra os muros.
Que é isto?

Mas nós seguimo-lo,
fazemo-lo baixar do vento Leste que o traz,
perguntamos-lhe pelas estepes vermelhas da paz e do triunfo,
sentamo-lo à mesa do camponês pobre,
apresentamo-lo ao dono da fábrica,
fazemo-lo presidir às greves e às manifestações,
falar com os soldados e os marinheiros,
visitar os pequenos empregados nas oficinas
e erguer o punho aos gritos nos Parlamentos do ouro e do sangue.

Um fantasma percorre a Europa,
o mundo.
Nós chamamos-lhe camarada.


Rafael Alberti

ANTI-AMERICANISTA PRIMÁRIO ME CONFESSO

Num post recente do Cantigueiro, veio à baila a questão do «anti-americanismo primário», ou seja da acusação feita, por pró-americanistas primários, a toda e qualquer pessoa que ouse contestar, mesmo que timidamente e em voz baixinha, a superioridade absoluta dos EUA em matéria de «liberdade», «democracia», «direitos humanos» e «combate ao terrorismo» - e que ouse denunciar a monumental fraude que é a democracia made in USA, ou ouse denunciar os EUA como o maior centro de terrorismo de Estado do planeta.
Quando o prevaricador leva mais longe sua ousadia e, por exemplo, levanta a voz nessa contestação e nessa denúncia, então os diligentes pró-americanistas primários de serviço - regra geral pagos a peso de ouro - fazem chegar a quem de direito o nome e o currículo do infractor, o qual vai parar direitinho a uma daquelas «listas negras» de que os EUA são o maior produtor mundial... e tantas são que delas bem se pode dizer que constituem uma espécie de instituição nacional daquele país e fazem dele o «país das listas negras».

Se a contestação parte de países - ou seja, se um qualquer país rejeita o domínio dos EUA e adopta uma política correspondente à vontade do seu povo e aos seus interesses soberanos - aí a coisa fia mais fino... porque os governos dos EUA - de Bush a Obama, para não irmos mais longe - não toleram nem admitem que a qualidade auto-atribuída de «pátria da liberdade, da democracia, dos direitos humanos e do combate ao terrorismo» seja posta em causa seja por que país for...

Para esses casos, a «lista negra» passa a ter uma segunda classificação: a de «lista dos países patrocinadores de terrorismo».
E ai dos países que nela sejam incluídos!: mais tarde ou mais cedo os aviões do «combate ao terrorismo» despejarão sobre eles toneladas e toneladas de bombas - bombas «humanitárias», obviamente, porque são lançadas em «defesa da paz», «da salvação de milhares de vidas humanas», «da protecção de civis»...
E, assim, esses países serão exaustivamente «libertados», e os seus chefes máximos locais passarão a louvar as mil virtudes da «pátria da democracia, da liberdade, etc, etc», e engraxarão as botas dos soldados libertadores, e receberão de braços abertos os negócios dos que mandaram lançar as bombas, e... deixarão de fazer parte da «lista negra», e ganharão o estatuto de «amigos» - e receberão a «medalha da liberdade», directamente das mãos do presidente dos EUA em exercício.

E é tudo isto que faz dos EUA o país das listas negras da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, do combate ao terrorismo...
Isto digo eu, que anti-americanista primário me confesso...

POEMA

SONETO ESCRITO NA MORTE DE TODOS OS ANTIFASCISTAS ASSASSINADOS PELA PIDE


Vararam-te no corpo e não na força
E não importa o nome de quem eras
naquela tarde foste apenas corça
indefesa morrendo às mãos das feras

Mas feras é demais. Apenas hienas
tão pútridas tão fétidas tão cães
que na sombra farejam as algemas
do nome agora morto que tu tens

Morreste às mãos da tarde mas foi cedo
Morreste por que não às mãos do medo
que a todos pôs calados e cativos

Por essa tarde havemos de vingar-te
por essa morte havemos de cantar-te:
Para nós não há mortos. Só há vivos.


José Carlos Ary dos Santos

Sublinho apenas... Parte II

Espaço Internacional 30ª Festa do Avante! 2006

SUBLINHO APENAS...

Informa um relatório da UNICEF que Cuba é o único país da América Latina e Caribe que eliminou a desnutrição infantil.

Eis uma notícia que, se quiséssemos, daria pano para mangas em matéria de ilações e conclusões a tirar, designadamente sobre as diferença existentes entre a Cuba socialista e os países sujeitos à dominação capitalista - para além de tudo o que poderia ser dito sobre as dificuldades e malefícios provocados por meio século de criminoso bloqueio económico, financeiro e político contra Cuba, levado a cabo pelo imperialismo norte-americano.

Mas, palavras para quê?: a informação fornecida pela UNICEF, por si só, diz tudo o que é necessário dizer.

Sublinho apenas: 146 milhões é o número de crianças vítimas de desnutrição nos países do outrora chamado «terceiro mundo» - e nenhuma delas é cubana.

POEMA

REVOLUÇÃO


Entre tu e mim
há um montão de contradições
que se juntam
para fazer de mim o sobressalto
que fica de testa suada
e te edifica.


Miguel Barnet

DEMOCRATICAMENTE QUÊ?...

Foi no Funchal: nas eleições presidenciais de 1980, uma colossal trapaça roubou a vitória ao candidato Ramalho Eanes e ofereceu-a a Soares Carneiro.
Quem o diz é uma pessoa que presenciou a golpaça: António Fontes, na altura militante da JSD/Madeira e agora deputado na Assembleia Regional pelo PND.

«Eu estive lá. Eu sei o que vi e o que se fez»: diz Fontes - e explica como a trapaça foi feita: «pondo cruzinhas em boletins de voto e descarregando nos cadernos eleitorais», nos eleitores que se abstiveram.
E acentua: «E não foram 10 ou 15 votos por mesa, mas 300 a 400».

Resultado da trapaça: Ramalho Eanes ganhou, de facto, em todas as mesas, mas o «vencedor oficial», em todas as mesas, foi Soares Carneiro...

Perguntado porquê só agora, mais de trinta anos passados, denunciou a fraude, Fontes esclareceu que o fez logo na altura, junto de Alberto João Jardim - nem podia escolher melhor, digo eu... - mas que este não deu andamento à denúncia - pudera!...

A meu ver, este caso reveste-se de grande importância e empurra-nos para a inevitável interrogação: quantas golpaças semelhantes ocorrerão em cada acto eleitoral, não apenas na Madeira mas também aqui no contenente, em especial naqueles jardinzinhos onde os partidos da política de direita têm um domínio absoluto?

Mas não esqueçamos que, como todos os dias nos é dito, temos um Parlamento «democraticamente eleito»...

POEMA

HOMEM COM ESPERANÇA


Acabaremos algum dia, talvez amanhã,
com as palavras inúteis e bonitas,
com o tinir da porcelana fina,
e com as marionetes de escuras cores.
E ensinaremos aos nossos filhos, paridos sem dor,
o como e o porquê de cada coisa,ẽ deixamo-los ir para a rua, sem medo,
e brincarão a construir povos.
E tocarão na terra,
e fá-la-ão sua e de todos,
e escreverão, com novas palavras,
novas leis, nova história e nova vida.
Também virá um barco de ágil vela,
esquivando tempestades e altivas rochas,
e levará todo o ouro da terra, mitos e falsos deuses,
e deixar-nos-á quedo o mar e uma pequena barca.
Com ela iremos saudar os povos,
às costas uma mochila com ferramentas e livros,
nos olhos um brilho de alegria,
e a esperança nos homens e nos dias.


Joaquim Horta

E ETC. E TAL...

O bispo D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social - e etc. e tal... - pronunciou-se sobre a situação do País;
apontou o dedo aos «responsáveis»;
e aprovou «as medidas» para, como é uso dizer-se, «superar a crise».

O bispo acha que a situação é «muito grave».
E é: o bispo não disse, mas digo eu, que a situação é dramática para milhões de portugueses, para todos os que trabalham e vivem do seu trabalho - já que, para os grandes e poderosos, a situação não está nada, mesmo nada má...

Quanto aos responsáveis pela situação «muito grave», o bispo acha que são «os políticos» - «os políticos» todos?: o bispo não disse, mas sabe que ao não dizer está a absolver os políticos de facto responsáveis pela situação, isto é, os políticos dos partidos da política de direita, que são, como o bispo bem sabe, o PS, o PSD e o CDS.

Sobre os cortes nos salários e reformas e outras medidas semelhantes, o bispo acha que «a situação é tão grave que as medidas também têm que ser muito fortes», ou seja, o bispo concorda com todas as medidas - e bem vistas as coisas e dado que a situação é «muito grave», talvez ache, mesmo, tal como o governo de serviço à política de direita, que as medidas já tomadas e anunciadas ainda não chegam...

É claro que, como o bispo sabe, com as tais «medidas muito fortes», a pobreza e a miséria vão aumentar.
Mas é a contar com isso que o bispo tem a sua abençoada Comissão Episcopal da Pastoral Social - ou seja, o etc. e tal necessário para fazer face à fome: a caridosa sopinha. Católica. Apostólica. Romana.

Já vos disse aqui que não gosto de papas.
Já vos disse aqui que não gosto de cardeais patriarcas.
Hoje chegou a altura de vos dizer que não gosto de bispos.

E tenho dito.

POEMA

QUADRAS


Tu fazes a vida inteira
esgares junto ao altar,
porque vês nisso a maneira
de viver sem trabalhar.

O padre não mostra cor
política na contenda:
é apenas o defensor
do governo que o defenda.

Se os homens dum deus precisam,
não me deixa satisfeito
o que os padres utilizam
apenas em seu proveito.

Se gostas de bem fazer
com qualquer interesse em vista,
não és quem pretendes ser
és simplesmente egoísta.

Se cá voltasse Jesus,
o mártir, filho do homem,
escorraçava os que comem
à sombra da sua cruz.

Quando a noção do dever
nos der ampla liberdade,
acabará por esquecer
a palavra «caridade».


António Aleixo

CARTAS DE COMUNISTAS (6)

JURDAN LUTIBRODSKI


Operário, militante comunista, Jurdan Lutibrodski foi preso, em 1934, pela polícia da ditadura fascista que, então, oprimia e reprimia o povo búlgaro.
A mulher estava grávida, mas ele nunca viu o filho entretanto nascido.
Em Dezembro desse ano, foi condenado à morte.
Pouco antes da data da execução, os fascistas propuseram-lhe o perdão da pena e a libertação se assinasse uma declaração renegando a sua actividade revolucionária e exortando os seus camaradas a seguirem-lhe o exemplo.
O pai de Jurdan, desesperado, escreveu ao filho suplicando-lhe que assinasse a declaração.

Eis a resposta do jovem Jurdan Lutibrodski ao pai:

«Prisão de Varna, 3 de Maio de 1935

Querido pai:
Recebi a tua carta há alguns dias. Aconselhas-me a tudo fazer para escapar à forca. E escreves: "Fá-lo hoje porque amanhã será tarde de mais".
Não compreendes que essa proposta não é a salvação mas a morte, ainda que me reste a vida?
Para que o compreendas, é preciso examinar a questão a fundo.

Actualmente, a burguesia conseguiu desfechar golpes severos sobre o proletariado e o seu Partido. Mas será que isso quer dizer que a dominação burguesa esteja estabilizada e a vitória final não pertence ao proletariado? Não! Se não for hoje, será amanhã: o proletariado vencerá a classe agonizante e, graças ao seu Partido, impulsionará o desenvolvimento da sociedade humana. Nós, filhos dessa classe ascendente e membros da sua vanguarda consciente, não devemos temer pelas nossas vidas e, assim, sacrificar o prestígio do Partido.
Para que queremos, pai, as nossas vidas, se nos sujeitarmos à condição de cadáveres vivos, com o auxílio dos quais a classe reaccionária se esforçará por levar a decomposição às fileiras do proletariado revolucionário?
E eu, pai, a quem eles teriam deixado viver para prolongarem a sua existência, para que quereria eu a minha vida?
Não, antes morrer permanecendo vivo no coração da minha classe! Antes morrer do que ser cadáver vivo e fedorento!

Dizes-me: "Pensa na tua companheira e no teu filho, pensa na Marta e no Ilitch, que farão sem ti?"
E eu penso muito neles, pai. Eu mesmo não sei como exprimir-lhes o amor que lhes tenho.
Quando penso neles, uma amargura imensa apossa-se de mim e sinto como que um chumbo no meu peito, um sofrimento que me obriga a cerrar os dentes tão fortemente que rangem. E, não obstante, prometo a mim próprio resistir, conservar as minhas forças e continuar combatendo até ao último momento contra a classe que é responsável, não apenas pelo facto de o meu Ilitch ficar sem mim, mas também pelo facto de milhões de famílias terem que viver na miséria, nas privações e na fome.

Em vista dos milhões de desempregados, do perigo de uma nova guerra cujo horror é inimaginável para o cérebro humano, em vista de milhões de vítimas que abaterá, não apenas entre os soldados, mas também entre as mulheres e as crianças, em vista de todos os horrores que o capitalismo nos traz e nos trará ainda, como poderia eu dar ao inimigo uma arma para ele continuar a sugar o sangue dos trabalhadores?
Não! Não o posso fazer!
Para responder a este maldito capitalismo, não vejo outra saída senão a apontada pelo meu Partido, a saída que conduz à completa libertação económica e política do proletariado.

A minha vida foi uma vida de luta para conquistar essa saída. E se a burguesia búlgara entende condenar-me à morte, isso quer dizer que permaneci filho fiel da minha classe, filho fiel do meu Partido.
E isso bastará para ti, Marta, para o meu Ilitch que nunca vi, mas que saberá que o seu pai lutou e tombou nessa luta e as razões pelas quais o fez; saberá que o seu pai preferiu cair na luta a cobrir-se de vergonha.

Certo: é duro esperar a morte a qualquer momento, estremecer ao menor ruído, contar-lhes os passos... Aí vêm eles, vêm para te levar... o coração bate até estalar... E quando os passos se afastam, caio no catre como um fruto maduro cai da árvore. E chamo pela morte: a agonia é terrível, a morte não.

E precisamente neste momento, o inimigo tenta obter de mim que condene toda a minha actividade revolucionária. E sabes, pai, o inimigo já tentou isso várias vezes, já tentou várias vezes o triunfo de poder ir dizer: Vêde, mais um filho pródigo que volta à razão, que lamenta o que fez!...
É com tais ignomínias que o inimigo quer enfraquecer a confiança no Partido e prolongar a existência dessa classe exploradora.
Não, pai, não participarei nesse jogo ignóbil.

Marcharei calmo para a forca e com a consciência de, na minha curta vida dedicada à luta pela liberdade, não ter enxovalhado nem o nome do meu Partido, nem o teu nome, pai.
E quando me colocarem a corda à volta do pescoço, gritarei: Cabeça erguida, pai, mulher amada, meu filho querido que nunca vi! Camaradas, avante!

Embora paga com duros sacrifícios, a vitória é nossa!
Quem estiver disposto aos sacrifícios, vencerá!
Mortos fisicamente, os combatentes continuarão a viver na consciência do proletariado vitorioso.
E os filhos dos que morreram lutando, colherão os frutos da luta que os seus pais travaram.
Tu, também, meu pequenino Ilitch, que não posso beijar nem pela primeira nem pela última vez.

Jurdan Lutibrodski»


Jurdan Lutibrodski foi executado em fins de Maio de 1935,
Perante a forca, gritou o seu desprezo pela ditadura e a sua confiança na vitória final do proletariado.

POEMA

A LUTA


A luta é implacável e cruel.
A luta, como se diz, é épica.
Já tombei. Outro me tomará o posto.
Nada mais. O que conta a vida dum qualquer?

Fuzilamento: e depois os vermes,
tudo isso é lógico e simples.
Nas tempestades estaremos sempre juntos,
meu povo, porque te amámos tanto.

Nicola Vaptzarov

OS OUTROS «11 DE SETEMBRO»

O 11 de Setembro de 2001 em Nova-York, foi o que foi: o terror, o horror, a morte de cerca de três mil pessoas.
Dele vêm falando, há dez anos - e, de forma intensa, na última semana e hoje - os média dominantes de todo o mundo.
Repetindo-se na leitura dos acontecimentos decidida pelos ideólogos do imperialismo e exportada para todo o planeta, esses média silenciam ou deturpam, por razões óbvias, muitos outros «11 de Setembro»: todos os que resultaram da ambição de domínio do mundo do imperialismo norte-americano - e que provocaram o terror, o horror, a morte de milhões de pessoas.

A lista que se segue - feita de memória e certamente incompleta - regista os nomes de países onde ocorreram, nas últimas décadas, esses outros diversos e diversificados actos de terrorismo, esses outros «11 de Setembro» perpetrados pelos EUA:

Afeganistão, África do Sul, Angola, Arábia Saudita, Argentina, Bolívia, Brasil, Cambodja, Chile, China, Colômbia, Congo, Coreia do Norte, Cuba, Egipto, Equador, Espanha, Etiópia, Filipinas, Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Indonésia, Irão, Iraque, Japão, Jordânia, Jugoslávia, Kwait, Laos, Líbano, Líbia, Nicarágua, Paquistão, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana, Salvador, Síria, Somália, Sudão, Timor-Leste, Tunísia, Uruguai, Venezuela, Vietname.

Todos estes países ou foram bombardeados pelos EUA ou às suas ordens;
ou foram invadidos e ocupados pelos EUA;
ou foram alvo de bombas atómicas, ou bombas de urânio empobrecido, ou do napalm, ou de terrorismo biológico e químico, de desfolhantes e do «agente laranja», ou do vírus da peste, utilizados pelos EUA;
ou, neles, os EUA instalaram sangrentas ditaduras;
ou, neles, os EUA apoiaram ditaduras fascistas;
ou, neles, os EUA armaram e apoiaram grupos terroristas;
ou..., ou..., ou...


São estes outros «11 de Setembro» que o Cravo de Abril relembra, hoje, aos seus visitantes. 
Em homenagem à memória de todas as vitimas do terrorismo.

POEMA

HOMENAGEM AO POVO DO CHILE


Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Nas suas almas abertas
traziam o sol da esperança
e nas duas mãos desertas
uma pátria ainda criança.

Gritavam Neruda Allende
davam vivas ao Partido
que é a chama que se acende
no povo jamais vencido.
- o povo nunca se rende
mesmo quando morre unido.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Alguns traziam no rosto
um rictus de fogo e dor
fogo vivo fogo posto
pelas mãos do opressor.
Outros traziam os olhos
rasos de silêncio e água
maré-viva de quem passa
uma vida à beira-mágoa.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Mas não termina em si próprio
quem morre de pé. Vencido
é aquele que tentar
separar o povo unido.
Por isso os que ontem caíram
levantam de novo a voz.
Mortos são os que traíram
e vivos ficamos nós.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que nasceram para o Chile
morrendo de corpo inteiro.


José Carlos Ary dos Santos

POLITOLOGIAS...

O Sapo quis saber se sim ou não o novo ano político vai ser de «estabilidade de governo», fez a pergunta aos politólogos do costume e estes responderam o costume...
Mas disseram mais: falaram daquilo a que chamam «oposição», coisa que, na politóloga opinião dos ditos é o PS (quando o PSD está no governo) e é o PSD (quando o PS está no governo).
Partindo desse princípio, dizem os politólogos que «ao longo destes anos tem havido mau governo porque não há oposição, nem boa nem má» - e deviam ter dito, mas não disseram, que PS e PSD defendem e aplicam a mesma política de direita, pelo que, no governo ou fora dele, nunca são oposição à política que cada um faz...

É claro que se os referidos politólogos quisessem falar de oposição a sério, teriam que falar da acção do PCP no combate à política de direita dos governos PS ou PSD (com ou sem CDS), e da luta dos trabalhadores contra essa mesma política.
Mas eles não estavam ali para isso: como bem se compreende, os comunistas e os trabalhadores não têm lugar na sua politóloga análise...

Também a Taxa Social Única (TSU) foi tema abordado: os politólogos mostraram-se compreensivos para a «prudência» do governo no que toca à formalização da decisão já tomada nessa matéria.
E a propósito, o Sapo fez questão de lembrar o que sobre o assunto disse há tempos o «economista Daniel Bessa», que foi o seguinte: «uma forma de evitar a diminuição da TSU e ainda assim estimular a competitividade, seria pedir a cada português que trabalhasse mais 4 horas por dia recebendo o mesmo».
Aí está uma grande ideia!
Que seria ainda maior se se pedisse a cada português que trabalhasse mais 8 horas por dia, não recebendo nada - mas tendo garantida pelo patrão uma sopinha e um bocadinho de pão... vá lá, três vezes ao dia...

Cá para mim, que não sou politólogo, este Bessa está no governo não tarda muito: quando o Passos tiver que correr com o Álvaro e com o Gaspar, é seguro e certo que o chama.
E o Bessa, com a sua rica experiência no governo Guterres, é homem para sobraçar as pastas da economia e das finanças - ou até mais, se necessário for, porque pastas é com ele...
e certamente estará absolutamente disponível para trabalhar «mais 4 horas por dia recebendo o mesmo»...

Se assim acontecer, é bom para todos - os politólogos incluídos...
Enfim, politologias.

POEMA

A SOCIEDADE DE CONSUMO


A sociedade de consumo é um balcão.
Nela se vende o pão,
se vende o amor,
se vende o sonho, se vende a bondade,
se vende a justiça, se vende o favor,
se vende o acesso à informação,
se vende a modéstia, se vende a vaidade,
se vende a honra, se vende a fé,
se vende a vontade, que é uma ilusão,
se vende a morte, que não o é.


Armindo Rodrigues

O SONHO E O PESADELO

Diz chamar-se António Ribeiro Ferreira, é um provocadorzeco de meia tijela, um fascistóide cheio de saudades do antigamente e escreve nos jornais.
Antes, tinha uma coluna no Correio da Manhã: o Diário da Manhã - onde vertia prosa inspirada no órgão oficial salazarista com o mesmo nome.
Agora, é Director do i, onde editorializa a meias com a adjunta Ana Sá Lopes, com a qual faz um vistoso par de jarras.

Hoje, diz-nos em título que «é urgente partir a espinha aos sindicatos».
Porquê?: porque os sindicatos, para além de «terem uma quota-parte na bancarrota», teimam em, «meter o nariz onde não são chamados».
Por exemplo: os dirigentes dos sindicatos dos professores «falam sobre tudo: curriculos, preços de manuais escolares, escolha de directores para as escolas, extinção de direcções regionais»... e até... e até, vejam bem!, até estão «preocupados e indignados com a falta de papel higiénico nas escolas»!!!!
Ora, sindicatos destes nem vê-los! - parta-se-lhes a espinha, já!: ordena Ferreira.

Mas pior, muito pior do que isso, é o caso da «política de privatizações», coisa com a qual os sindicatos «não têm nada a ver» e sobre a qual eles, vejam bem!, querem ser ouvidos...
Os sindicatos a debater e a combater as «privatizações da TAP, da EDP, dos CTT, das Águas, da RTP»?: era o que faltava! - clama Ferreira engraxando o cassetete - eles «não têm nada a ver com isso», nem pensar, era o que faltava!
Depois, pousando o cassetete engraxado sobre a mesa de trabalho, e num gesto magnânimo, generoso, democrático, concede: os sindicalistas «podem opinar» sobre a matéria... «Opinar, mas apenas isso» - repete, lançando um olhar à mesa de trabalho e talvez pensando para si que... opinar, mas baixinho... porque se não!...

E deixa o aviso: «há uns anos, muitos, Maldonado Gonelha disse que era preciso partir a espinha aos sindicatos» - e, empunhando o cassete e agitando-o no ar, proclama, qual Gonelha dos tempos actuais: «hoje, em 2011, com o país numa emergência nacional é urgente não só repetir a frase como pô-la em prática».
E pensa para si: ah! que saudades dos saudosos bons velhos tempos em que coisas destas eram escritas no saudoso Diário da Manhã e no dia seguinte eram levadas à prática pela saudosa e benemérita pide!...


«Partir a espinha à Intersindical» foi o sonho maior do famigerado Gonelha, ao serviço do PS/Soares, do PSD/Sá Carneiro, do CDS/Freitas, da CIA, etc, etc. - e a resistência e o fortalecimento da CGTP-IN foi, para ele e para os seus patrões, um autêntico pesadelo...
É certo que criaram a chamada UGT , mas essa foi, para eles, uma criação fácil
- tão fácil como a criação, pela mesma altura, da chamada CAP, ou dos grupos do terrorismo bombista... -
porque dependia apenas daquilo que aos patrões de Gonelha não faltava: dinheiro: milhões de dólares, marcos, francos, libras, coroas...

«Hoje, em 2011», o Ferreira revive o sonho do Gonelha
E reviverá idêntico pesadelo...

POEMA

O COMBOIO DE SERVIÇO


1
Por ordem expressa do Fuhrer,
o comboio de luxo expressamente feito para o Congresso do Partido em Nuremberga
recebeu o nome de COMBOIO DE SERVIÇO.
O que quer dizer que
os que o tomam prestam com isso um serviço
ao povo alemão.


2
O comboio de serviço
é uma obra-prima da técnica ferroviária. Os passageiros
têm apartamentos privativos. Pelas largas janelas
vêem os camponeses alemães mourejar pelos campos.
Se por acaso transpirassem nesse momento
poderiam tomar banho
em cabines cobertas de ladrilhos.
Um subtil sistema de luzes permite-lhes
ler à noite, de pé, sentados ou deitados, os jornais
com as grandes reportagens sobre os benefícios do regime.
Os vários apartamentos
comunicam entre si por linhas telefónicas
tal como as mesas dos grandes dancings cujos clientes
podem perguntar às mulheres das mesas vizinhas
o preço que cobram.
Sem sair da cama os passageiros também podem
ligar o rádio, que transmite as grandes reportagens
sobre os erros dos outros regimes. Jantam,
se assim o desejarem, no respectivo apartamento,
e fazem as respectivas necessidades
em privadas privativas revestidas de mármore.
Cagam
Na Alemanha.


Brecht

ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA...

Os jornais, satisfeitos - satisfeitíssimos! - dão notícia de uma «sondagem internacional» feita pela empresa Transatlantic Trends segundo a qual «73% dos cidadãos da União Europeia querem os EUA como líder forte do mundo» e «apoiam Obama na luta contra o terrorismo»...
De acordo com a mesma sondagem, a percentagem, em Portugal, atinge os 81%, o que faz com que os portugueses ocupem o primeiro lugar europeu no apreço pelos EUA e pela actividade anti-terrorista de Obama... -
Assim, se já estávamos no «pelotão da frente» em matéria de salários baixos, de impostos altos, de desigualdades sociais, etc, etc, com este resultado reforçamos a nossa posição de líderes nessas coisas todas que revelam o estado desgraçado a que o nosso País chegou.

Os resultados obtidos por esta sondagem não surpreendem: surpresa seria um resultado de sentido oposto, isto é, um resultado que evidenciasse, por parte da generalidade dos portugueses, um conhecimento profundo sobre o tema da sondagem.
Na verdade, que outro (des)conhecimento que não este se poderia esperar de pessoas que todos os dias, a todas as horas, em todas as televisões, rádios e jornais, são exaustivamente (des)informadas sobre as bondades dos EUA como «líderes do mundo» e como campeões da «luta contra o terrorismo»?...

Já lá dizia o outro, há 70 anos, que uma mentira muitas vezes repetida transforma-se em verdade... com a agravante de as repetições das mentiras terem, hoje, uma dimensão, um volume e um alcance muitíssimo maior, já que, nos tempos actuais, aqui na Europa, por exemplo, contam-se pelos dedos de uma só mão os média que, combatendo a desinformação organizada reinante, informam.
E, se todos os dias, a todas as horas e pelas mais diversas formas, todas as televisões, rádios e jornais garantem a milhões de pessoas as bondades anti-terroristas dos EUA, é óbvio que a esses milhões de pessoas nada mais resta senão acreditar... porque... «eles disseram, que eu bem ouvi...» - e não lhes passa pela cabeça a ideia de que, ao contrário do que bem ouviram, os EUA são, de facto, o maior e mais organizado centro de terrorismo de estado do mundo e são, de facto, os responsáveis, directos e indirectos, pelos mais brutais e sangrentos actos terroristas verificados.

Por isso essas pessoas responderam o que responderam à sondagem.
Por isso, os resultados, agora amplamente divulgados, vão chegar a todas essas pessoas e cimentar nelas ainda com mais força a ideia de que estavam certas quando responderam errado.

E é, no essencial, graças à mentira muitas vezes repetida que, em relação ao que se passa por cá, essas mesmas pessoas acreditam em tudo o que lhes dizem, todos os dias e a todas as horas, as mesmas televisões, as mesmas rádios e os mesmos jornais:

«os sacrifícios são inevitáveis»; «a subida dos impostos é inevitável», «o roubo no 13º mês é inevitável», «o desemprego é inevitável», «os salários ainda mais baixos são inevitáveis»... , porque «os milhares de milhões para o BPN são inevitáveis», «o aumento das grandes fortunas é inevitável»... - porque, a pairar sempre sobre todas essas «inevitabilidades», estão as maiores de todas elas: «a inevitabilidade do capitalismo» e a «inevitabilidade da alternância entre PS e PSD - e vice-versa - no governo...

E é por tudo isso que essa maioria respondeu o que respondeu à sondagem sobre os EUA.
E é por tudo isso que essa maioria vota como vota nas eleições por cá.

E é tudo isso que faz do nosso esclarecimento, do nosso apelo à inteligência e à sensibilidade dessas pessoas, da nossa acção contra a mentira e pela verdade, uma difícil batalha.
Uma muito, muito difícil batalha
- a exigir-nos muitos esforços, muita perseverança, muita paciência, muito, muito trabalho.
Uma batalha da qual, no entanto, não desistiremos - com a certeza de que água mole em pedra dura...