ÁLVARO CUNHAL

Em 31 de Março de 1961 - faz hoje cinquenta anos - o Comité Central do PCP elegeu ÁLVARO CUNHAL secretário-geral do Partido.

Nos dezanove anos que se seguiram à morte de Bento Gonçalves, no Tarrafal (1942), o Partido não teve secretário-geral. E, se se tiver em conta que Bento Gonçalves passou os seus últimos seis anos de vida na prisão, pode dizer-se que o PCP não teve secretário-geral no exercício das suas funções durante 25 anos.

A não existência de um secretário-geral durante um tão longo período de tempo - porque se considerou que, nas condições concretas existentes à altura, era difícil e inconveniente a escolha de um camarada para esse cargo - viria a ter profundas e positivas consequências na evolução do trabalho de direcção, na medida em que contribuiu decisivamente para a criação, a prática e a ulterior institucionalização da direcção colectiva e do trabalho colectivo.
De tal forma que a decisão tomada em 1961 de eleger um secretário-geral não mudou as tarefas e responsabilidades individuais de qualquer dos membros da direcção do Partido.
Tão pouco mudou, antes contribuiu para o seu aprofundamento, os métodos de trabalho colectivo, conceito nascido no decorrer de um longo processo iniciado com a reorganização de 40-41; ampliado e aprofundado nos III e IV Congressos (1943 e 1946) e desenvolvido ao longo dos anos - e que foi ponto de partida para a construção de um outro conceito dele decorrente: o de «colectivo partidário».

Nessa importante reunião de 31 de Março de 1961, o Comité Central procedeu, também, a uma profunda análise ao trabalho de direcção central nos anos anteriores e submeteu a uma severa crítica o desvio de direita que se verificara em vários campos da sua acção no período de 1956-1959.
Tudo isto era o culminar do amplo debate ideológico travado em todo o Partido durante o ano de 1960 - na sequência da fuga de Peniche - e tendo como base dois importantes trabalhos de ÁLVARO CUNHAL: «A Tendência Anarco-Liberal na Organização do Trabalho de Direcção» e «O Desvio de Direita no Partido Comunista Português nos Anos de 1956/1959» (Obras Escolhidas, II Tomo)
O impulso gerado pela correcção colectiva do desvio de direita teve imediatas repercussões positivas na acção, na dinâmica e no conteúdo da intervenção do Partido.

ÁLVARO CUNHAL foi secretário-geral do Partido até 1992.
Ele foi o mais destacado obreiro da construção colectiva que é o Partido Comunista Português.

POEMA

CANÇÃO DE GUERRA


Aos fracos e aos covardes
não lhes darei lugar
dentro dos meus poema.
Covarde já eu sou.
Fraco, já o sou demais,
e se entre fracos for
me perderei também.

Quero é gente animosa
que olhe de frente a Vida,
que faça medo à Morte.
Com esses quero ir,
a ver se me convenço
de que também sou forte.
Quero vencer os medos...
Vencer-me - que sou poço
de estúpidos terrores,
de feminis fraquezas.
Rir-me das sombras, rir-me
das velhas ondas bravas,
rir-me do meu temor
do que há-de acontecer.

Venham comigo os fortes...
Façam-me ter vergonha
das minhas cobardias.
E de seus actos façam
(seus actos destemidos)
chicotes prós meus nervos.
Ganhe o meu sangue a cor
das tardes das batalhas.
E eu vá - rasgue as cortinas
que velam o Porvir.
Vá - jovem e confiado,
cumprindo o meu destino
de não ficar parado.


Sebastião da Gama

VAMOS A ISSO

Vamos, então, para eleições.
Serão em fins de Maio, princípios de Junho.
O vencedor já está decidido: ou é o PS ou é o PSD.
O Sistema não brinca em serviço e é especialista em eleições, ou seja, em assegurar previamente que elas sejam ganhas por quem fez juramento de fidelidade canina e eterna ao Sistema.

O vencedor das eleições, seja um ou outro daqueles dois partidos, vai prosseguir a política de direita que ambos vêm fazendo, à vez, há 35 anos.
Porque, como dizem os analistas de serviço no seu linguajar típico, «os sacrifícios são para continuar ou mesmo aumentar», «é inevitável» que assim seja. blá-blá-blá.

Isto é:
se o PS voltar a ser governo, os salários vão baixar ainda mais; as reformas e pensões, também; os impostos vão subir ainda mais; o desemprego, também, etc, etc, etc.
se o PSD for governo, os salários vão baixar ainda mais; as reformas e pensões, também; os impostos vão subir ainda mais; o desemprego, também, etc, etc, etc.
E quer o futuro governo seja PS, quer seja PSD, quer seja PS/PSD, quer seja PSD/CDS, quer seja PS/PSD/CDS, os grandes grupos económicos e financeiros vão aumentar ainda mais os seus já fabulosos lucros.

Estamos, portanto, a dois meses de umas eleições gerais que, a bem do Sistema, têm como objectivo principal assegurar que tudo continue na mesma - mudando as moscas, apenas. Ou nem isso...

Quer isto dizer que, para as forças de esquerda, e particularmente para o PCP, não vale a pena travar esta batalha eleitoral?
Bem pelo contrário: a meu ver, os comunistas devem participar intensamente nesta batalha eleitoral e desenvolver todos os esforços no sentido de reforçar a sua votação - sempre com a consciência de que se trata de uma batalha travada no terreno armadilhado do inimigo de classe e num quadro de profunda disparidade de meios e de forças: o quadro que garante, previamente, a vitória de um dos partidos do Sistema.

Porquê, então, a participação dos comunistas numa batalha cujo vencedor está previamente decidido?
Porque se trata de uma batalha que, para os comunistas, é parte integrante da luta de massas.
Porque quanto mais forte for a expressão eleitoral do PCP, maior será o número de deputados no Parlamento a defender os interesses dos trabalhadores, do povo e do País.
E mais forte será a luta de massas no futuro imediato.
E é a luta de massas que acabará por derrotar a política de direita e impor uma política de esquerda.

Fazer uma grande campanha eleitoral - e, ao mesmo tempo, manter acesa e forte a luta das massas trabalhadoras - é a grande tarefa do momento.
Vamos a isso.

POEMA

BALADA DO QUE NUNCA FOI A GRANADA


Que longe por mares, campos e montanhas!
Outros sóis já olham minha cabeça branca.
Nunca fui a Granada.

A minha cabeça branca, os anos perdidos.
Quero encontrar os velhos, apagados caminhos.
Nunca vi Granada.

Dai à minha mão um ramo verde de luz.
Um rédea curta e um galope largo.
Nunca entrei em Granada.

Que gente inimiga povoa os seus adarves?
Quem os claros ecos livres dos seus ares?
Nunca fui a Granada.

Quem hoje os seus jardins aprisiona e põe
cadeias à fala dos seus repuxos?
Nunca vi Granada.

Vinde, vós que nunca fostes a Granada.
Há sangue caído, sangue que me chama.
Nunca entrei em Granada.

Há sangue caído do melhor dos irmãos.
Sangue nos mirtos e na água dos pátios.
Nunca fui a Granada.

Do melhor amigo, há sangue nas murtas.
Sangue no Darro, sangue no Genil.
Nunca vi Granada.

Se altas são as torres, é alta a coragem.
Vinde por montanhas, por mares e campos.
Entrarei em Granada.


Rafael Alberti

CUIDADO, ELES ANDAM POR AÍ!

Informa o Público que o último número do Boletim do «Centro de Recursos em Conhecimento do Instituto de Segurança Social» recomenda aos seus leitores a participação num «banquete de celebração dos 122 anos do nascimento de Salazar».
Para mais informações sobre o banquete, o Boletim remete para um site da organização fascista que promove a iniciativa.

A coordenadora do Centro de Recursos em Conhecimento do ISS, de seu nome Mónica Baptista, explica assim a inclusão desta «sugestão» na agenda do Boletim e a divulgação do site:
«Foi-nos enviada esta informação e divulgámos. E aquele foi o link fornecido para completar a informação» - isto, não obstante reconhecer que se trata de matéria que «nada tem a ver com o âmbito das competências do Centro»...

E desvalorizando o caso - ou seja: dando de barato o facto de o Boletim de que é responsável estar a divulgar uma iniciativa que tem como objectivo homenagear o ditador que durante quase meio século oprimiu e reprimiu brutalmente Portugal e os portugueses - a senhora coordenadora acrescentou:
«Para nós não tem interesse, mas uma vez que nos foi solicitado achámos bem (divulgar o banquete). Estamos em democracia e as pessoas podem seleccionar aquilo que mais lhes interessa»...

Sem comentários.
Apenas com um alerta que, aliás, é recorrente aqui no Cravo de Abril:
Cuidado, eles andam por aí!

POEMA

SOLIDARIEDADE


Vamos, dêem as mãos.

Porquê esse ar de desconfiança?
esse medo, essa raiva?
Porquê essa imensa barreira
entre o EU e o NÓS na natural conjugação do verbo ser?

Vamos, dêem as mãos.

Para quê esses bons-dias, boas-noites,
se é um grunhido apenas e não uma saudação?
Para quê esse sorriso
se é um simples contrair de pele e nada mais?

Vamos, dêem as mãos.

Já que a nossa amargura é a mesma amargura,
já que a miséria para nós tem as mesmas sete letras,
já que o sangrar dos nossos corpos é o vergão da mesma chicotada,
fiquemos juntos,
sejamos juntos.

Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo, essa raiva?

Vamos, dêem as mãos.


Mário Dionísio

«INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA»...

Furando a cerrada malha da rede de desinformação organizada veiculada pelos média dominantes, começam a chegar as primeiras notícias sobre o que, de facto, está a acontecer na Líbia.

Por detrás de expressões como «intervenção humanitária para proteger civis», «bombardeamentos cirúrgicos», «danos colaterais mínimos ou inexistentes», «bombas inteligentes» - e outros exemplos da suprema e criminosa hipocrisia dos Obama, Cameron, Sarkozy & CIA - esconde-se um brutal acto de guerra em que o vale-tudo é lei.

Na verdade, as «bombas inteligentes» sabem ao que vão: elas destroem depósitos de combustíveis e de produtos tóxicos, pontes, portos, edifícios públicos, quartéis, fábricas, centrais eléctricas, sedes de televisões e de jornais.
Ou seja: destroem sistematicamente a infra-estrutura produtiva da Líbia e a sua rede de comunicações.
E matam. Inteligentemente...

Os «bombardeamentos cirúrgicos exclusivamente sobre instalações militares», destruíram bairros residenciais e um hospital, em Tripoli - e duas clínicas de Ain Zora (localidade onde não existia uma única instalação militar, um único blindado, uma única arma) foram completamente arrasadas.

O «bombardeamento humanitário» sobre Ajdabya traduziu-se em centenas da casas de habitação destruídas, numa matança cruel de pessoas inocentes.


Entretanto, os média dominantes - jornais, rádios, televisões - escrevem mais uma página negra da sua negra história: escondendo o que se passa e divulgando o que não se passa, mentindo, desinformando, assumem-se como porta-vozes dos criminosos e das patranhas com que estes pretendem transformar as barbaridades que cometem em meritórias acções humanitárias.
São cúmplices do crime.

A monstruosa agressão à Líbia - que, não esqueçamos, possui as maiores reservas de petróleo e de gás da África... - constitui mais um passo da escalada do imperialismo norte-americano no seu objectivo de domínio do planeta.
Provavelmente, seguir-se-á a Síria. E... e...

... e só a luta dos povos conseguirá travar esta caminhada infernal.
E pôr fim à barbárie.

POEMA

CANÇÃO DO PEDAÇO DE ESPERANÇA


Sou operário da pena.
Outros o são da enxada,
do martelo.

Que cada um crie
com a sua ferramenta um pedaço
de esperança.


Jesus Lopez Pacheco

UM SER ABJECTO

Há tempos, a propósito da relembrança de um daqueles múltiplos episódios soaristas que evidenciam a natureza, o carácter, o sentido da intervenção política de Mário Soares,
comprometi-me a ir recordando aqui alguns desses episódios - episódios que, como na altura sublinhei, não constituem qualquer novidade para os visitantes do Cravo de Abril, mas que, em meu entender, é bom ir recordando... para não os esquecermos...

Em 26 de Abril de 1997, um jornalista da TSF pergunta a Soares se «Álvaro Cunhal merece a Ordem da Liberdade».
Soares responde que «Não» - e explica porquê: «Porque os comunistas lutaram contra a ditadura, mas não pela liberdade».
E, prosseguindo na explicação: «Os comunistas lutaram pela liberdade deles. Eram liberticidas»...

Pergunta o jornalista: «E o seu amigo Frank Carlucci, que Ordem é que merece?»
Responde Soares: «Certamente merece uma Ordem. O Carlucci bateu-se pela liberdade, e os comunistas, que vivem em total liberdade, devem um pouco esse facto ao contributo que Carlucci deu para isso»...

Sobre o relacionamento entre os dois, diz Soares:
«Com a repetição dos encontros, tornámo-nos amigos»
E diz Carlucci: «Mário Soares telefonava-me praticamente todos os dias»
E diz Soares: «Carlucci convidava-me com alguma frequência para almoçar com ele no zimbório que existe no quinto andar da embaixada, onde ele estava seguro de não haver microfones e de poder falar à vontade»...

E foi certamente tendo em conta este relacionamento íntimo e estreito que Balsemão escolheu Carlucci para, em 1996, entregar a Soares o «Globo de Ouro», na categoria «Carreira», instituído pela SIC...

Enfim, é a desvergonha à solta - a confirmar o ser abjecto que é Mário Soares.

POEMA

ITINERÁRIO


Os milhares de anos que passaram viram
a nossa escravidão.

NÓS carregámos as pedras das pirâmides,
o chicote estalou,
abriu rios de sangue no nosso dorso.
NÓS empunhámos nas galés dos césares
os abomináveis remos
e o chicote estalou de novo na nossa pele.
A terra que há milhares de anos arroteámos
não é nossa,
e só NÓS a fecundamos!
E quem abriu as artérias? quem rasgou os pés?
quem sofreu as guerras? quem apodreceu ao abandono?

E quem cerrou os dentes, quem cerrou os dentes
e esperou?

Spartacus voltará: milhões de Spartacus!

Os anos que aí vêm hão-de ver
a nossa libertação.


Papiniano Carlos

HISTÓRIA TRÁGICO-MARÍTIMA

«Portugal está de tal forma descredibilizado financeiramente que poderá estar em preparação (na Europa) um plano de salvamento».
Onde está «plano de salvamento», leia-se plano de afundamento total...

«Vários especuladores - muitos dos que têm ganho bastante dinheiro a negociar a dívida pública nacional - apostam que o plano de salvamento pode ser anunciado já no próximo domingo».
Se eles apostam...

«Seja qual for o governo em funções, Portugal vai ter de cumprir os compromissos assumidos em Bruxelas» (Ângela Merkel)

Não se preocupe, senhora Merkel, o «governo em funções», seja ele qual for, seja ele do PS ou do PSD, vai cumprir todos os compromissos já assumidos e mais os que, daqui até lá, irá assumir.

Em matéria de afundamento de Portugal, os dois partidos que chefiaram os «governos em funções» nos últimos 35 anos, pedem meças um ao outro.
São, de facto, os dois grandes heróis desta história trágico-marítima dos tempos modernos que é a política de direita.

POEMA

HOMEM COM ESPERANÇA


Acabaremos algum dia, talvez amanhã,
com as palavras inúteis e bonitas,
com o tinir da porcelana fina,
e com as marionetes de escuras cores.
E ensinaremos aos nosso filhos, paridos sem dor,
o como e o porquê da cada coisa,
e deixamo-los ir para a rua, sem medo,
e brincarão a construir povos.
E tocarão na terra,
e fá-la-ão sua e de todos,
e escreverão, com novas palavras,
novas leis, nova história e nova vida.
Também virá um barco de ágil vela,
esquivando tempestades e altivas rochas,
e levará todo o ouro da terra, mitos e falsos deuses,
e deixar-nos-á quedo o mar e uma pequena barca.
Com ela iremos saudar os povos,
às costas uma mochila com ferramentas e livros,
nos olhos um brilho de alegria,
e a esperança nos homens e nos dias.


Joaquim Horta
(poeta catalão)

LUTAR SEMPRE!

Dos jornais:
«O chumbo do PEC IV levará à demissão do Governo».

E (se chumbar) por que é que o PEC irá chumbar?
Porque o PSD não está de acordo com ele?
Não: porque o PSD quer aproveitar a oportunidade para substituir o PS no Governo e ir fazer o que sempre fez quando lá esteve - que é o mesmo que o PS sempre tem feito.
Com PEC ou com FMI, que é outra forma de dizer o mesmo.

Entretanto, estão aí a chegar as «medidas» decretadas pelo Conselho Europeu - «medidas» com as quais tanto o PS como o PSD estão de acordo, porque constituem uma autêntica declaração de guerra aos trabalhadores e aos povos: nova ofensiva contra os salários, aumento da idade da reforma, perda da soberani e da independência, institucionalização do capitalismo na sua versão neoliberalista, etc, etc, etc.

Tudo isto a confirmar que o que é necessário é derrotar a política de direita que o PS e o PSD (de vez em quando com o CDS/PP) têm vindo a aplicar desde há 35 anos.

E, para isso, é preciso lutar.
Lutar muito.
Com determinação e confiança.
Lutar muito.
Sem impaciências.
Lutar muito.
Trazer à luta novos segmentos da sociedade.
Lutar muito.

LUTAR SEMPRE!

POEMA

(De uma entrevista qualquer num jornal inquiridor: «Mas estarão os comunistas dispostos a aceitar o princípio da "alternância" no poder?»)



«Democracia é alternância»
repetiu de novo a embalar o tédio,
um senhor de sonho espesso.

Como se fosse possível - ó glória! ó ânsia! -
construir um prédio,
mudando de vez em quando
os mesmos tijolos do avesso.


José Gomes Ferreira

SOARES & CIA

Conta Mário Soares, no Diário de Notícias de hoje, que, após o Conselho de Segurança da ONU ter condenado «a brutalidade do regime de Kadhafi contra o seu próprio povo» - e numa altura em que «os mercenários de Kadhafi já estavam perto de Bengazi»- iniciou-se, enfim, a operação «contra Kadhafi e o seu regime».
Assim, numa dúzia de palavras, Soares papagueia o essencial da propaganda do imperialismo norte-americano e dos seus lacaios europeus em relação à Líbia.

E já de sua exclusiva lavra, mostrando serviço, a soarenta cavalgadura desabafa, aliviada:
«Já não era em tempo».
Porque, garante ele - e se ele o garante alguém lho garantiu a ele... - «Kadhafi e o seu governo estão dispostos a matar toda a população revoltada».

Pronto, Soares está feliz e satisfeito: imundo, porco e gordo, limpando o sangue dos beiços e das bochechas, imagina os libertadores misseis Tomahawak a cair sobre a Líbia, destruindo, arrasando, espalhando o horror e a morte.

Mas atenção: matando só a população não revoltada, porque a outra - a revoltada - essa está protegida quer pelo escudo invisível dos criminosos que ordenam o lançamento dos mísseis, quer pelos seus criminosos cúmplices, género Soares & CIA.

(Entretanto, diz uma sondagem que «60% dos norte-americanos acham que os EUA não devem interferir no conflito da Líbia». Aí está um dado positivo. A indicar que também nos EUA há excelentes condições para lutar contra a guerra e pela paz)

POEMA

A VIAGEM


A viagem fazemo-la num qualquer modesto cargueiro.
Existe ainda um porto onde não tivéssemos tocado?
Existe alguma espécie de tristeza que ainda não tivéssemos cantado?
O horizonte que a cada manhã tínhamos pela frente
não era igual ao que à noite deixávamos para trás?
Quantas estrelas desfilaram à nossa frente
roçando as águas?
Não era cada aurora o reflexo
da nossa grande nostalgia?

Mas é em frente que vamos, não é verdade?,
é em frente que vamos.


Nazim Hikmet

SEM SURPRESA

Eis os factos:
Sem surpresa, o Conselho de Segurança da ONU decidiu que deveriam ser tomadas «todas as medidas necessárias para proteger a população civil» na Líbia.
Sem surpresa, os mesmo de sempre - EUA, Grã-Bretanha e França - tomaram «todas as medidas necessárias para proteger a população civil»: os caças do minúsculo Sarkozy entraram em acção e o Prémio Nobel da Paz mandou disparar 110 mísseis Tomahawak contra 20 alvos.
Sem surpresa, os mísseis Tomahawak não atingem civis, antes cumprem a sagrada missão de os proteger, como mandou a ONU (Se, por qualquer razão, um ou outro desses mísseis cai sobre um hospital ou um bairro residencial, mesmo assim é da «protecção da população civil» que se trata: por isso, nesse caso, as vítimas passam a ser designadas por «danos colaterais».

Sem surpresa, os comentadores e politólogos do costume, aplaudiram a «intervenção necessária» e, com trinados democráticos na voz, declamaram que «o uso da força na Líbia é um imperativo moral».

Sem surpresa, a chacina vai prosseguir até que o objectivo de proteger a população civil seja exaustivamente alcançado - mesmo que, para isso, seja necessário matar centenas, milhares, de... terroristas disfarçados de população civil...

Sem surpresa, o PCP é o único grande partido nacional a condenar inequivocamente a brutal agressão do imperialismo ao povo líbio, assim confirmando, uma vez mais, que ao contrário do que corre por aí, os partidos não são todos iguais...

POEMA

FIDELIDADE


Creio no homem. Já vi
costas rasgadas a golpes de chicote,
almas cegas avançando aos arrancos
(Espanhas a cavalo
da dor e da fome). E acreditei.

Creio na paz. Já vi
altas estrelas, incendiadas regiões
amanhecendo, rios ardentes
e profundos, caudal humano
para outra luz: Vi e acreditei.

Creio em ti, pátria. Digo
o que vi: relâmpagos
de raiva, amor falado e uma faca
rangendo, fazendo-se em pedaços
de pão: se bem que haja hoje apenas trevas
eu vi e acreditei.


Blas de Otero

HIPOCRISIAS

Sobre a Líbia, o Conselho de Segurança (CS) da ONU fez o que o Governo dos EUA mandou:
aprovou aquilo a que eufemísticamente chamou a «adopção de todas as medidas necessárias para proteger civis...».

Tal expressão, devidamente traduzida, significa que o CS deu luz verde para que os criminosos do costume - EUA, Grã-Bretanha, França... - iniciem, quando quiserem, o bombardeamento da Líbia.

Bombardeamento «para proteger civis»?
Não:
bombardeamento que vai provocar a morte de cidadãos líbios;
bombardeamento que vai provocar a destruição da Líbia:
bombardeamento que vai proteger, sim, os interesses do imperialismo na Líbia e na região.

O início dos bombardeamentos está iminente.
A operação de propaganda para os apresentar como «humanitários» está am marcha.
É a hipocrisia no seu máximo esplendor!

(na AR, Francisco Louçã criticou hoje o Governo por, no CS da ONU, ter votado a favor da decisão de bombardear a Líbia. Critica justa mas hipócrita, se tivermos em conta que os deputados do BE no Parlamento Europeu votaram exactamente no mesmo sentido)

POEMA

JOEIRA!


Até quando te calarás, povo?
Até quando te quedarás irresoluto?
Até quando te verei receoso?
Até quando serás ingénuo?
Até quando escutarás
os pregadores
que exploram
a tua inefável candura?

Mestres e guias infalíveis...?
Há-os de voz potente
e de botas ferradas;
há-os mais suaves,
até angélicos
e muito sábios...
Há os que usam, com palavras demasiado escolhidas,
a tua língua.
Joeira, povo,
com uma peneira finíssima
e esfrega a pele
nos cardos que te rodeiam
até que a dor se torne insuportável,
até sentires a dor soar
como um clarim de combate.


Félix Cucurull

DUAS NOTÍCIAS


1 - A cidade de Bengasi - «capital dos rebeldes» - está prestes a cair nas mãos das tropas de Kadhafi.
É, ao que parece, uma questão de dias, ou até de horas.

2 - O Governo dos EUA, através da secretária de Estado, Hillary Clinton, fez saber que «o tempo está contra nós e é urgente agir», acrescentando esperar que hoje, quinta-feira, «a ONU aprove uma resolução» que dê luz verde a uma intervenção militar. Isto porque «Kadhafi parece determinado a matar tantos líbios quanto possível», diz a Clinton - e se ela o diz...


É óbvia a ligação entre as duas notícias: a urgência da intervenção militar decorre do facto de os rebeldes estarem prestes a ser derrotados...
E é óbvio que a intervenção militar, se vier a concretizar-se, constituirá uma invasão, um acto de guerra contra um povo e um país soberanos.

Isto digo eu, porque para a «comunidade internacional» - que é uma senhora cuja opinião, tal como a dos média dominantes, coincide sempre com a opinião dos governos dos EUA... - tratar-se-á de uma acção libertadora dos EUA - mais uma daquelas acções libertadoras que permitem ao imperialismo norte-americano libertar um país ocupando-o, instalando-se nele e explorando-o até ao tutano. Em nome da democracia, da liberdade e dos direitos humanos...


Desta vez, no entanto, pode acontecer que os EUA não consigam que a ONU aprove a tal resolução - e que os deixe perante a alternativa de terem que avançar sozinhos para a libertação da Líbia ou de terem que desistir da acção libertadora...
Aguardemos.

POEMA

GRITO NEGRO


Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder, sim
e queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão
até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão!
Tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu serei o teu carvão, patrão!


José Craveirinha

DIA DE INDIGNAÇÃO E DE PROTESTO



TEMPO DE ANTENA DA CGTP-IN

CUIDADO, ELES ANDAM POR AÍ...

Cavaco Silva, quando da sua recente tomada de posse como Presidente da República, mal acabou de prestar o juramento de «defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa» - juramento que é obrigatório e, por isso, e só por isso, o fez - proferiu um discurso com o qual, desde logo, quebrou o juramento acabado de fazer...

Ontem, na sua qualidade de «Comandante Supremo das Forças Armadas», voltou a discursar. E voltou a reincidir no desprezo e na afronta à Constituição e ao regime democrático que ela configura.

E desta vez foi ainda mais longe.
Aquilo que muitos julgavam impossível, aconteceu: 37 anos após o 25 de Abril, o Presidente da República Portuguesa fez a defesa e o elogio da guerra colonial conduzida pelos ditadores fascistas Salazar e Caetano - uma guerra que o regime fascista impôs a Portugal e aos portugueses, especialmente aos jovens soldados portugueses, e que provocou dezenas de milhares de mortos, feridos, estropiados e vítimas das mais graves sequelas.

E fê-lo com o recurso a frases e ideias repescadas da propaganda fascista da época: «os soldados portugueses foram, em África, soldados de excepção» e encontram-se «entre os melhores servidores da Pátria»...
Fê-lo recorrendo ao patrioteirismo rasteiro dos dirigentes fascistas de então, enaltecendo a «intervenção militar que permitiu que um País com a dimensão e os recursos de Portugal pudesse manter o controlo sobre três teatros de operações distintos, vastos e longínquos».
Fê-lo retomando os velhos slogans fascistas: «Juntos continuaremos a afirmar Portugal»...
Fê-lo, enfim, num discurso aos jovens de hoje que é uma assumida e desavergonhada adaptação do discurso de Salazar aos jovens de então: «Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do País com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar»...

Com este discurso, Cavaco Silva confirmou o que já se sabia: que nada tem a ver com Abril, a liberdade, a democracia - e tem tudo a ver com o regime de opressão e repressão a que os valentes militares do MFA, em aliança com o Povo, puseram termo.
Com este discurso, Cavaco Silva confirmou que, sem o 25 de Abril de 1974, teria sido um natural sucessor de Américo Tomás.

E é caso para nos interrogarmos sobre as razões que o levaram a exibir tais confirmações...
Por mim, continuo a dizer: cuidado, eles andam por aí...

POEMA

1936


Lembra-o tu e lembra-o aos outros,
quando enojados da baixeza humana,
quando furiosos pela dureza humana:
Este homem único, este acto único, esta fé única.
Lembra-o tu e lembra-o aos outros.

Em 1961, numa cidade estranha,
mais de um quarto de século
depois. Vulgar a circunstância,
obrigado tu a uma leitura pública,
por causa dela conversaste com esse homem:
Um antigo soldado
na Brigada Lincoln.

Há vinte e cinco anos, este homem,
sem conhecer a tua terra, para ele distante
e estranha, resolveu ir para lá
e nela, se chegasse o momento, decidiu apostar a sua vida,
julgando que a causa que lá estava em jogo
então, digna era
de lutar pela fé que enchia a sua vida.

Que essa causa pareça perdida,
nada importa;
que tantos outros, pretendendo crer nela,
apenas trataram de si mesmos,
importa menos.
O que importa e nos basta é a fé de alguém.

Por isso outra vez hoje a causa te parece
como naqueles dias:
Nobre e tão digna de lutar por ela.
E a sua fé, aquela fé, ele a manteve
através dos anos, da derrota,
quando tudo parece atraiçoá-la.
Mas essa fé, a ti mesmo dizes, é o que somente importa.

Obrigado, Companheiro, obrigado
pelo exemplo. Obrigado por me dizeres
que o homem é nobre.
Nada importa que tão poucos o sejam:
Um homem, um só, basta
como testemunho irrefutável
de toda a natureza humana.


Luís Cernuda

REVER A MATÉRIA DADA...

Mário Soares é, muito provavelmente, o maior mentiroso nascido em Portugal.
Não há, nele, a mínima preocupação com a verdade: a mentira é o instrumento de trabalho que mais utiliza e, sem ponta de vergonha, faz uso dela ao sabor dos interesses que defende em cada momento.
E se, por qualquer razão, uma vez por outra lhe acontece dizer uma verdade, é porque, nessa situação concreta, isso lhe rende mais do que a habitual mentira...

Com isto não estou a dar novidade nenhuma aos visitantes do Cravo de Abril que, salvo raríssimas excepções, o conhecem de ginjeira.
Mas entendi não deixar passar em branco a sensacional revelação feita por Soares, no Diário de Notícias de hoje, ao declarar que é «há mais de cinquenta anos um europeísta convicto»...

Vejamos, então, a estória deste «europeísta convicto» contada pelo próprio:

nos seus Escritos do Exílio, Soares declarou ser contrário à entrada de Portugal para a CEE, porque era «pela Europa dos trabalhadores e não pela Europa dos trusts» - que grande traste!;

em Dezembro de 1974, em entrevista a Le Monde, dizia que «se tivéssemos que aplicar o princípio da livre circulação de pessoas, capitais e produtos, a nossa economia não resistiria» - com a verdade me enganas...;

nesse mesmo mês de Dezembro, em entrevista a A Capital, repetia que «Portugal não está em condições de se integrar no Mercado Comum», pois se isso acontecesses, «a nossa economia ficaria arruinada a curto prazo» - e não é que acertou?...;

em 1976, clamava contra «certas forças políticas em Portugal que se encaminham para defender a aproximação de Portugal às Comunidades Europeias numa perspectiva puramente capitalista que não corresponde aos verdadeiros interesses do povo português e se afasta dos imperativos de uma verdadeira independência nacional» - em cheio, novamente...

Aqui chegado, dou comigo a pensar que, bem vistas as coisas, é bem possível que o aldrabão esteja a dizer a verdade quando exibe os seus cinquenta anos de europeísta convicto, ou seja: é bem possível que, quando disse o que acima se cita, estivesse a mentir...
O que faz dele não apenas um reles aldrabão mas também um miserável traidor.

E já agora, sobre as tais forças políticas que defendiam a integração de Portugal na CEE numa perspectiva capitalista, etc, etc, tem a palavra Carlucci, que num relatório enviado ao governo dos EUA, em 1977, informava: «Mário Soares está agora envolvido numa campanha para tentar fazer entrar Portugal no Mercado Comum, porque acredita que a adesão ligará Portugal ao campo democrático ocidental» ...


Repito: com isto não estou a dar novidade nenhuma aos visitantes do Cravo de Abril.
Mas não há mal - e até talvez haja bem - em, de vez em quando, revermos a matéria dada...

POEMA

BALADA DAQUELE QUE CANTOU NA TORTURA


E se houvesse que voltar
atrás eu voltaria
Uma voz sobe dos ferros
e fala de um outro dia

Dizem que na sua cela
dois homens tinham entrado
Sussurravam: Capitula
vê-se que estás cansado

Podes viver a vida
acata os nossos conselhos
diz a palavra que livra
e viverás de joelhos

E se houvesse que voltar
atrás eu voltaria
A voz que sobe dos ferros
fala já para o novo dia

Só uma palavra e a porta
abre-se logo e tu sais
Assim o carrasco exorta
sésamo: Não sofras mais

Uma palavra só mentira
o teu destino retém
na doçura das manhãs
pensa pensa pensa bem

E se houvesses que voltar
atrás eu queria ir
A voz que sobe dos ferros
fala aos homens do porvir


Aragon

UMA LIGEIRA DIFERENÇA...

Durante cerca de três semanas fomos «informados» pelos média dominantes que:
1 - os rebeldes líbios dominavam praticamente todo o país e que a conquista de Tripoli, a capital, estava iminente;
2 - que os rebeldes líbios não destruíam nem matavam ninguém e que quem destruía e matava eram os partidários do Kadhafi;
3 - que o povo líbio odiava o Kadhafi e festejava entusiasticamente os êxitos dos rebeldes;
4 - que o grande trunfo de Kadhafi eram os aviões, com os quais «bombardeava o seu povo» - pelo que era urgente a criação de uma zona de exclusão aérea (ZEA) - ou seja a destruição das bases aéreas líbias - de modo a parar os bombardeamentos.

Afinal, ao que parece, as coisas não eram exactamente assim.
Sabe-se agora que:
1 - os rebeldes nunca estiveram perto de dominar o país - e há até quem «vaticine que a queda de Bengasi, a "capital" dos rebeldes, está para breve»;
2 - a cidade de Ras Lanup, reconquistada aos rebeldes pelas tropas de Kadhafi, foi devastada pelos rebeldes - desde os edifícios públicos ao próprio hospital (que os rebeldes pilharam, destruindo camas, portas e janelas e atirando os medicamentos para a rua) - e que há «grandes manifestações de regozijo por parte dos apoiantes de Kadhafi na cidade»;
3 - o regime vai somando êxitos e a exibição desses êxitos por parte do regime é festejada «pela loucura entusiástica do povo que idolatra o líder líbio»;
4 - «é com as tropas terrestres (e não com a aviação) que as tropas de Kadhafi estão a vencer os rebeldes» - no entanto, o general líder dos rebeldes «pede e apela à criação urgente da ZEA para evitar que os interesses dos EUA sejam prejudicados»...

Isto é: entre o que os média dominantes nos diziam estar a acontecer e a realidade parece haver uma ligeira diferença...

POEMA

AVISO


A noite que precedeu a sua morte
foi a mais breve de toda a sua vida
Pensar que estava vivo ainda
era um fogo no sangue até aos punhos
A sua força era tal que ele gemia
Foi quando atingia o fundo deste horror
que o seu rosto num sorriso se lhe abriu
Não tinha apenas um único camarada
mas sim milhões e milhões de camaradas
para o vingarem sim bem o sabia
E então para ele ergueu-se alvorada


Paul Éluard

POSITIVO, SAUDÁVEL E A SAUDAR

Gente nas ruas a protestar contra a política de direita, é sempre um acontecimento positivo, saudável e a saudar.
Milhares e milhares de pessoas manifestaram-se, ontem, em várias cidades do País.
Entre os muitos milhares de manifestantes, muitos havia que saíram à rua a dizer de sua justiça pela primeira vez.
Óptimo: que venham para ficar - e que da próxima vez tragam outros amigos com eles.
É isso que desejam, certamente, todos os que por cá andam há muitos anos, a lutar todos os dias, sem desânimos, contra todas as muitas precariedades geradas pela política de direita.

As manifestações de ontem confirmam o profundo e amplo descontentamento provocado pelas consequências de 35 anos de política de direita, praticada em harmoniosa convergência pelo PS, pelo PSD e pelo CDS/PP - consequências que atingem e deixam à «rasca» a imensa maioria dos portugueses de todas as idades.

Registe-se o facto de, pela primeira vez, os média dominantes terem sido activos propagandistas das manifestações.
Com efeito, nos últimos quinze dias, a generalidade desses média (jornais, rádios e televisões) dedicou à mobilização para as manifestações parte grande dos seus tempo e espaço - e ontem sucederam-se, durante horas, os longos directos; e hoje, os jornais dedicam páginas e páginas aos relatos do sucedido.
Muito bem: que continuem nessa postura é que se deseja.


Ontem, também, os professores - sem ajudas dos média dominantes - encheram a Praça do Campo Pequeno - numa luta que dura há muito, muito tempo, e que, garantiram eles, ontem, está para durar.

Entretanto, a CGTP-IN prepara - através de um esforço notável dos seus filiados - a manifestação nacional que, no próximo sábado, fará desaguar em Lisboa um mar de gente - também sem ajudas dos média dominantes, antes pelo contrário...

Mas tudo vai mudar: a partir de amanhã, os jornais, rádios e televisões passarão a dedicar-se à mobilização para dia 19 com o empenho de que já mostraram ser capazes.
Ou não?

POEMA

SALMO 57


Senhores defensores da Ordem e da Lei:
porventura o vosso direito não é de classe?
- o Civil para proteger a propriedade privada
o Penal para aplicá-lo às classes dominadas

A liberdade de que falam é a do capital
o seu «mundo livre» é a livre exploração
sua lei é a das armas, sua ordem a dos gorilas
vossa é a polícia
são vossos os juízes
na prisão não há latifundiários nem banqueiros

Extraviam-se os burgueses já no seio materno
têm preconceitos de classe desde que nasceram
como a cascavel nasce com venenosas glândulas
como nasce o tubarão devorador de gente

Oh Deus acaba com o statu quo
arranca os colmilhos aos oligarcas
que se precipitem como água dos autoclismos
e sequem como as ervas sob o herbicida

Eles são «gusanos» quando chega a Revolução
não são células do corpo mas somente micróbios
abortos do homem novo que é preciso atirar
antes que lancem espinhos que o tractor os arranque
o povo irá divertir-se nos clubes privativos
entrará na posse das empresas privadas
o justo há-de alegrar-se com os Tribunais do Povo
Festejaremos em grandes praças o aniversário da Revolução

O Deus que existe é o dos proletários


Erntesto Cardenal

PARA NÃO ESQUECER

«Derrotando-se o putsch do 11 de Março, assegurou-se a realização de eleições para a Assembleia Constituinte marcadas para 25 de Abril, eleições que o putsch, se vitorioso, teria anulado.
Logo depois da derrota, Soares e o PS negaram qualquer envolvimento no golpe, condenaram o golpe derrotado, fingiram desejar a unidade com o PCP. Apresentavam-se mesmo como aqueles que teriam sido violentamente reprimidos se o golpe tivesse vencido. Uma grande farsa que, em termos de opinião pública, os desresponsabilizava.

(...) Vencedor das eleições, o PS considerou que já não era necessário, como vinha fazendo desde a derrota do golpe, "aguentar", "falar ao gosto do momento", "inserir-se na corrente", como vinte anos mais tarde, viria a explicar. (1)
Tirando a máscara, o PS lançou-se no caminho aberto das provocações que passaram a ser uma arma importante da nova ofensiva da contra-revolução.
Planeadas, planificadas, difundidas, em Portugal e no mundo, por gigantescas operações publicitárias, passaram a ser apresentadas como "provas" de que o PCP, com elementos seus no MFA, estava liquidando as liberdades fundamentais, ameaçando a existência de outros partidos.
Proclamando que o PCP considerava o PS "o seu inimigo principal", o PS apontava o PCP, não só como o principal inimigo do PS, mas inimigo da liberdade, da democracia, do povo, do país.
Em aliança com o PPD e o CDS e com activas cumplicidades de grupos esquerdistas, o PS pôs imediatamente em causa a continuação do IV Governo, renovou e deu nova violência às mentiras e calúnias primárias contra o PCP, o Primeiro-Ministro Vasco Gonçalves e os militares revolucionários.
Decorrida apenas uma semana após as eleições para a Assembleia Constituinte, o PS lançou, com Mário Soares à frente, uma primeira provocação de vulto: a provocação no comício do 1º de Maio no estádio do mesmo nome, em Lisboa.
Logo se sucederam outras. O chamado caso República lançado a 19 de Maio e arrastado durante meses e a "manifestação e contra-manifestação junto ao Patriarcado" em 18 de Junho, com os "católicos" obrigados a refugiar-se no Patriarcado e a terem de ser evacuados em carros militares. A primeira destas últimas directamente organizada pelo PS, a segunda tendo como principais e visíveis operacionais grupos esquerdistas».

Álvaro Cunhal - A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril (a contra-revolução confessa-se)


(1) Soares explicou assim, em entrevista a Maria João Avilez, o facto de, tendo estado ligado ao golpe do 11 de Março, ter vindo, logo que o golpe foi derrotado, participar na manifestação popular que festejava a derrota dos golpistas: «Falei ao gosto do momento, admito-o: era necessário aguentar e inserirmo-nos na corrente»...

POEMA

MASSA


No final da batalha,
e morto o combatente, aproximou-se dele um homem
e disse-lhe: «Não morras, amo-te tanto!
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.

Aproximaram-se dele dois e repetiram-lhe:
«Não nos deixes! Coragem! Volta à vida!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.

Acudiram-lhe vinte, cem, mil, quinhentos mil,
clamando: «Tanto amor, e não poder nada contra a morte!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.

Milhões de indivíduos o rodearam,
num pedido comum: «Não nos deixes, irmão!»
Mas o cadáver, ai!, continuou a morrer.

Então, todos os homens que há na terra
o rodearam; viu-os o cadáver, triste, emocionado;
soergueu-se lentamente,
abraçou o primeiro homem. E começou a andar...


César Vallejo

CHIÇA!

«Juro pela minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa»?: MENTIRA!
Jura falsa de quem, em 10 anos de primeiro-ministro e 5 de PR, todos os dias violou e desrespeitou a Lei Fundamental do País - e agora se prepara para assim continuar a fazer por mais cinco anos.

«Presidente de todos os portugueses»?:
MENTIRA!
Nem sequer é presidente de todos os portugueses que nele votaram, a imensa maioria dos quais tramou enquanto primeiro-ministro e enquanto PR - e que agora se prepara para continuar a tramar por mais 5 anos.
Presidente, sim, dos grandes grupos económicos e financeiros, cujos interesses exclusivos defendeu nos tais 10+5 anos - e que bem podia jurar pela sua honra continuar a defender por mais 5 anos.

«Tomada de posse»?:
«Pomada de tosse», como, cheio de piada, trocadilhou o Cantigueiro.

10+5+5= 20.
CHIÇA!

POEMA

UM FANTASMA PERCORRE A EUROPA


... E as velhas famílias fecham as janelas,
reforçam a segurança das portas,
e o pai corre às escuras para os Bancos
e o pulso pára-lhe na Bolsa
e sonha de noite com fogueiras,
com reses a arder,
que em vez de trigais tem chamas,
em vez de grãos, chispas,
caixas,
caixas de ferro, cheias de faúlhas.
Onde estás,
onde estás?
Os camponeses passam e calcam-nos o sangue.
O que é isto?

- Fechemos,
fechemos depressa as fronteiras.
Vede como avança rápido no vento de Leste,
das estepes vermelhas da fome.
Que os operários lhe ouçam a voz,
que o seu silvo não penetre nas fábricas,
que não divisem a sua foice erguida os homens dos campos.
Detende-o!
Porque transpõe os mares,
percorrendo toda a geografia,
porque se esconde nos porões dos barcos
e fala com os fogueiros
e trá-los tisnados para a coberta,
e faz com que o ódio e a miséria se sublevem
e as tripulações se levantem.

Fechai,
fechai os cárceres!
sua voz estilhaçar-se-á contra os muros.
Que é isto?


- Mas nós seguimo-lo,
fazemo-lo baixar do vento Leste que o traz,
perguntamos-lhe pelas estepes vermelhas da paz e do triunfo,
sentamo-lo à mesa do camponês pobre,
apresentamo-lo ao dono da fábrica,
fazem-lo presidir às greves e às manifestações,
falar com os soldados e os marinheiros,
visitar os pequenos empregados nas oficinas
e erguer o punho aos gritos nos Parlamentos do ouro e do sangue.

Um fantasma percorre a Europa,
o mundo.
Nós chamamos-lhe camarada.


Rafael Alberti

A VER O FILME...

Desculpem a insistência na Líbia, mas as notícias que de lá me me chegam através dos média dominantes a isso obrigam.
Assim, aqui ficam quatro breves observações às noticias de hoje.

1 - Ontem, sublinhei aqui a coincidência (digamos assim...) entre as falas do Obama e do seu criado Barroso, a propósito da tal questão do «homem que manda disparar sobre o seu povo».
E a coincidência continua: dizem os jornais de hoje que um «líder rebelde», em resposta à proposta de negociações feita pelo governo de Kadhafi, afirmou: «não negociamos com quem derrama sangue do seu povo» - ou seja: mais coisa menos coisa, o mesmo que o Obama disse e o fiel Barroso papagueou.

2 - Por outro lado, esse e outros «líderes rebeldes» fizeram saber que desejam ardentemente a intervenção militar dos EUA na Líbia...
O que me leva a pensar que, para Obama, Barroso e respectivos «líderes rebeldes», a questão está em saber quem é que derrama o sangue dos líbios: se for o Kadhafi, estamos perante um acto criminoso, bárbaro, inadmissível, passível de invasão; se forem os marines norte-americanos, estamos perante um acto democrático, libertador, humanitário...

3 - Ainda a propósito de sangue líbio derramado: a crer no que dizem as notícias, nestes combates entre exército líbio e exército rebelde, só as balas do Kadhafi é que matam...
O que me leva a pensar que as balas dos «rebeldes» são absolutamente inofensivas...

4 - «Kadhafi aproveita a inacção ocidental e contra-ataca» - grita, em título, um jornal de hoje, visivelmente impaciente com o atraso da «intervenção da NATO e da ONU», ou seja, dos EUA.
Mas logo outro, paciente, sereno e confiante, põe os pontos nos is: «todas as hipóteses estão em cima da mesa, desde a proibição de voo aos caças de Kadhafi até a uma intervenção no terreno».
E estou em crer que este outro é que está a ver o filme...

POEMA

É PRECISO ESTAR CEGO


É preciso estar cego
ou ter nos olhos aparas de vidro,
cal viva.
areia a ferver,
para não ver a luz que brota em nossos actos,
que ilumina por dentro a nossa língua,
a nossa palavra diária.

É preciso querer morrer sem um sinal de glória e de alegria,
sem participação nos hinos futuros,
sem ficar na lembrança dos homens que hão-de julgar o passado
sombrio da Terra.

É preciso querer já em vida ser passado,
obstáculo sangrento,
coisa morta,
seco olvido.


Rafael Alberti

TEMPOS DE GUERRA - TEMPOS DE LUTA

Os governantes do sistema dominante todos os dias falam de guerra.
O presidente, o vice-presidente e todos os secretários de Estado dos EUA, todos os dias avisam que a guerra - neste caso a invasão da Líbia - pode estar por dias.
E os seus ecos, com lugares na maioria dos governos da Europa e do mundo, repetem e repetem, com fidelidade canina, a voz do dono...
Por seu lado, os média dominantes cumprem a tarefa de preparar o terreno para que a possível invasão da Líbia surja como uma «inevitabilidade», um «acto humanitário», um gesto de... «paz»...

Ontem, Durão Barroso - ex-revolucionário maoista e agora homem de mão dos interesses do grande capital internacional- repetindo Obama, papagueou, justificando uma possível invasão da Líbia, que «um regime que dispara contra o seu próprio povo não tem lugar na família das nações»...

Barroso é, com se sabe, presidente da Comissão Europeia, cargo que lhe foi oferecido em paga dos bons serviços prestados no apoio à invasão, destruição e ocupação do Iraque.
Por isso, quando fala na pacífica e democrática «família das nações» sabe do que está a falar...

Assim, para Barroso, os causadores directos desse crime em massa têm lugar assegurado na «família das nações».
Porque não dispararam «contra o seu próprio povo»: dispararam contra o povo de outro país - num acto de barbárie que provocou a morte de centenas de milhares de iraquianos inocentes.


São tempos de guerra, estes que vivemos.
São, por isso, tempos de luta.
Luta pela paz - que é, não o esqueçamos nunca, uma expressão da luta de classes.

Poema

PAZ


De todas as pombas houve uma que partiu pelo mundo.
Ainda
continua a girar à volta do sol
ao compasso da terra.
Voo sem dono, sempre ameaçado.
Voltará alguma vez
ao velho pombal donde saiu um dia?


Rafael Alberti

A MORTE É O SEU OFÍCIO

As forças que, sob as ordens dos EUA, ocupam o Afeganistão, mataram, no ano de 2010, pelo menos 2 400 civis - ou seja, 2 400 homens, mulheres e crianças cujo único «crime» cometido foi o de terem nascido naquele país...

E este ano as forças ocupantes continuam a matar: há quinze dias foram 65; há uma semana foram 9 crianças - isto, tanto quanto se vai sabendo, sendo legítimo presumir que os números reais serão muito superiores aos divulgados.

Sempre que estes crimes são conhecidos, o responsável norte-americano pede desculpas às famílias das vítimas... após o que passa aos crimes seguintes.

Os média dominantes, no cumprimento do papel que lhes está destinado, falam pouco destes mortos...
E quando falam, escondem-nos bem escondidinhos, fora do alcance da vista da generalidade dos leitores e apresentando-os sempre, explícita ou implicitamente, como inevitabilidades decorrentes da intrépida luta dos EUA e da sua NATO contra o terrorismo e pela defesa dos direitos humanos... - fingindo ignorar que o maior e mais poderoso centro do terrorismo internacional tem sede na Casa Branca e no Pentágono.

É certo que há mortos que têm honras de destaque nas primeiras páginas e nos grandes títulos desses média, mas esses são mortos de classe A... daqueles que servem de pretexto para que os EUA e os seus lacaios (entre eles o Governo PS/Sócrates) continuem a matar homens, mulheres e crianças inocentes.
E a pedir desculpas.
E a matar mais.
E a pedir desculpas.
E a matar mais.

Porque a morte é o seu ofício.

POEMA

OFÍCIO DE TREVAS
(Poema XXIV)


É preciso que tragam a bandeira
É preciso que alguém vá até ao fim da noite
e desenterre a bandeira
Se já não tiver mãos
que rasgue a terra com os dentes
mas que traga a bandeira
Se já não tiver dentes
que afunde os olhos nessa terra
e lhe arranque a bandeira
que nela está sepulta
É preciso que os tambores anunciem a chegada da bandeira

Se não houver tambores
que os mortos se alevantem
e façam rufar seus ossos
em sol altíssimo à chegada da bandeira

Iluminem, Iluminem, Iluminem o caminho da bandeira
Se as nuvens de baionetas forem trevas no caminho da bandeira
que incendeiem a noite com as pedras da rua
mas que haja luz à passagem da bandeira
para que os olhos vazados vejam a bandeira
para que as bocas rasgadas cantem a bandeira
para que os ferros caiam à passagem da bandeira.


Carlos Maria de Araújo

UM IDEAL PELO QUAL VALE A PENA LUTAR

Donde nos vem a nós, comunistas portugueses, esta alegria de viver e de lutar?
O que nos leva a considerar a actividade partidária como um aspecto central da nossa vida?
O que nos leva a consagrar tempo, energias, faculdades, atenção, à actividade do Partido?
O que nos leva a defrontar, por motivo das nossas ideias e da nossa luta, todas as dificuldades e perigos, a arrostar perseguições, e, se as condições o impõem, a suportar torturas e condenações e a dar a vida se necessário?
A alegria de viver e de lutar vem-nos da profunda convicção de que é justa, empolgante e invencível a causa por que lutamos.

O nosso ideal, dos comunistas portugueses, é a libertação dos trabalhadores portugueses e do povo português de todas as formas de exploração e opressão.
É a liberdade de pensar, de escrever, de afirmar, de criar.
É o direito à verdade.
É colocar os principais meios de produção, não ao serviço do enriquecimento de alguns poucos para a miséria de muitos, mas ao serviço do nosso povo e da nossa pátria.
É erradicar a fome, a miséria, o desemprego.
É garantir a todos o bem-estar material e o acesso à instrução e à cultura.
É a expansão da ciência, da técnica e da arte.
É assegurar à mulher a efectiva igualdade de direitos e de condição social.
É assegurar à juventude o ensino, a cultura, o trabalho, o desporto, a saúde e a alegria.
É criar uma vida feliz para as crianças e anos tranquilos para os idosos.
É afirmar a independência nacional na defesa intransigente da integridade territorial, da soberania, da segurança e da paz e no direito do povo português a decidir do seu destino.
É a construção em Portugal de uma sociedade socialista correspondendo às particularidades nacionais e aos interesses, às aspirações e à vontade do povo português - uma sociedade de liberdade e de abundância, em que o Estado e a política estejam inteiramente ao serviço do bem e à felicidade do ser humano.
Tal sempre foi e continua a ser o horizonte na longa luta do nosso Partido.


(...) Não se trata de correr atrás da utopia. E Revolução de Abril confirmou que, nos longos anos de ditadura fascista, não foi correr atrás da utopia lutar pela liberdade.
E a evolução mundial do nosso século XX já mostrou que os homens podem transformar em realidade sonhos milenários.


Álvaro Cunhal (O Partido com Paredes de Vidro)

POEMA

E CADA VEZ SOMOS MAIS


Pela espora da opressão
pela carne maltratada
mantendo no coração
a esperança conquistada.
Por tanta sede de pão
que a água ficou vidrada
nos nossos olhos que estão
virados à madrugada.
Por sermos nós o Partido
Comunista e Português
por isso é que faz sentido
sermos mais de cada vez.

Por estarmos sempre onde está
o povo trabalhador
pela diferença que há
entre o ódio e o amor.
Pela certeza que dá
o ferro que malha a dor
pelo aço da palavra
fúria fogo força flor
por este arado que lavra
um campo muito maior.
Por sermos nós a cantar
e a lutar em português
é que podemos gritar:
Somos mais de cada vez.

Por nós trazermos a boca
colada aos lábios do trigo
e por nunca acharmos pouca
a grande palavra amigo
é que a coragem nos toca
mesmo no auge do perigo
até que a voz fique rouca
e destrua o inimigo.
Por sermos nós a diferença
que torna os homens iguais
é que não há quem nos vença
cada vez seremos mais.

Por sermos nós a entrega
a mão que aperta outra mão
a ternura que nos chega
para parir um irmão.
Por sermos nós quem renega
o horror da solidão
por sermos nós quem se apega
ao suor do nosso chão
por sermos nós quem não cega
e vê mais clara a razão
é que somos o Partido
Comunista e Português
aonde só faz sentido
sermos mais de cada vez.

Quantos somos? Como somos?
novos e velhos: iguais
Sendo o que nós sempre fomos
seremos cada vez mais!


José Carlos Ary dos Santos

CRITÉRIOS, NÃO È?...

O Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou a abertura de um processo de investigação por «crimes contra a humanidade», visando Muammar Khadafi e outros altos responsáveis do regime líbio.
O procurador-geral do TPI diz que dentro de pouco tempo espera ter os respectivos mandatos de detenção.

Apesar de surpreendido com esta repentina sede de justiça manifestada pelo TPI, acho louvável a decisão tomada: na verdade prender, julgar e condenar responsáveis por crimes contra a humanidade é um acto da mais elementar justiça - e se Khadafi os cometeu, então que pague por isso.

Só que o TPI, na sua intrépida acção justiceira, procede a uma muito peculiar selecção dos criminosos - uma selecção que o leva a deixar fora da rede da justiça os grande criminosos e a pescar apenas o peixe mais miúdo (e, mesmo assim, nem todo...)
Critérios, não é?...

Assim sendo, estou em crer que a acção justiceira do TPI é apenas para inglês (e especialmente norte-americano) ver...
E é óbvio que o TPI não tem mãos para deitar a mão aos grandes responsáveis por crimes contra a humanidade...
Eles são tantos!...
E tão poderosos!...
Além de que o TPI é deles e tem que fazer o que eles mandam...

Em todo o caso, e para o caso de o TPI - num rasgo de vergonha e verticalidade improváveis - decidir prender, julgar e condenar alguns grande responsáveis, directos e indirectos, por bárbaros crimes contra a humanidade, aqui ficam algumas sugestões: Obama, Bush-filho, Clinton, Bush-pai, Reagan... e mais os seus assessores locais, tipo Blair, Aznar, Barroso, e mil outros lacaios semelhantes.

POEMA

AO MEU PARTIDO


Deste-me a fraternidade com os desconhecidos.
Juntaste a mim a força de todos os que vivem.
Voltaste a dar-me a pátria como num nascimento.
Deste-se a liberdade que não tem quem está só.
Ensinaste-me a acender a bondade, como o lume.
Deste-me a rectidão de que precisa a árvore.
Ensinaste-me a ver a unidade e a diferença dos irmãos.
Mostraste-me como a dor de um ser morreu na vitória de todos.
Ensinaste-me a dormir na cama dura dos que são meus irmãos.
Fizeste-me construir sobre a realidade como sobre a rocha.
Fizeste-me inimigo do malvado e muro do colérico.
Fizeste-me ver a claridade do mundo e como é possível a alegria.
Fizeste-me indestrutível pois contigo não termino em mim próprio.


Neruda

DESINFORMAÇÃO ORGANIZADA

Os média dominantes dão-nos todos os dias exuberantes exemplos de manipulação e falsificação de notícias - em relação a tudo o que acontece no País e no mundo e, de forma muito particular, quando se trata de acontecimentos relacionados com os objectivos do imperialismo norte-americano
Casos como os do Iraque, do Afeganistão, da ex-Jugoslávia, das Honduras - entre muitos, muitos outros - foram pretexto para as mais desavergonhadas patranhas e invencionices, as quais, porque divulgadas massivamente e passadas de boca em boca, se impuseram como se de verdades incontestáveis se tratasse.

O mesmo acontece, actualmente, com a situação da Líbia sobre a qual nos chegam vagas sucessivas de «informações», todas puxando a brasa à sardinha imperialista e muitas claramente falsas.

Aqui fica um exemplo disso (e muitos mais poderiam ser dados):

O DN de hoje «informa» que, no discurso proferido na quarta-feira, Kadhafi afirmou que a pressão internacional lhe é indiferente e, face a uma eventual intervenção da NATO e dos EUA, «ameaçou ripostar com milhares de mortos».

Na realidade, o que Kadhafi afirmou foi que uma eventual intervenção da NATO e dos EUA provocaria milhares de mortos.

Como se vê, é grande a diferença entre o que ele disse e o que o DN diz que ele disse...

E o grande drama é que, provavelmente, os que leram a notícia do DN, na sua imensa maioria, jamais saberão que foram enganados - e, julgando-se informados, serão fiéis transmissores da falsidade que lhes foi vendida...

É essa, aliás, a grande perversidade da desinformação organizada.

POEMA

MAS QUEM É O PARTIDO?


Mas quem é o Partido?
Está ele numa casa com telefones?
São secretos os seus pensamentos, incógnitas ou as suas decisões?
Quem é ele?

Nós somos ele.
Tu e eu e vós - nós todos.
Está metade no teu fato, camarada, e pensa dentro da tua cabeça.
Onde eu moro é a sua casa, e onde tu és atacado, aí luta ele.

Mostra-nos tu o caminho que devemos seguir, e nós
segui-lo-emos como tu, mas
não sigas sem nós o caminho exacto.
Sem nós é ele
o mais errado.
Não te afastes de nós!
Nós podemos errar, e tu podes ter razão, portanto
não te afastes de nós!

Que o caminho curto é melhor que o comprido, ninguém o nega.
Mas quando alguém o conhece
e não é capaz de no-lo mostrar, de que nos serve a sua sabedoria?
Sê sábio connosco!
Não te afastes de nós!


Brecht

O FILME

TÍTULO:
«O mundo está a perder a paciência com Muammar Khadafi»


CENÁRIO:
O mundo que está a perder a paciência

ARGUMENTO: média dominantes

ADEREÇOS: democracia, liberdade, direitos humanos, ajuda humanitária

MÚSICA: Vira o disco e toca o mesmo


PERSONAGENS E FALAS (por ordem de entrada em cena):

OBAMA: «Todas as hipóteses estão em cima da mesa» - «Os EUA vão manter a pressão até Khadafi abandonar o poder».

DAVID CAMERON (primeiro-ministro britânico): «É inaceitável que Khadafi possa usar os seus aviões e helicópteros para matar o seu próprio povo»

PENTÁGONO: «Temos em marcha planos de contingência»

ANÓNIMO 1: «É necessário criar uma zona exclusiva aérea (ZEA) para impedir Khadafi de - como ameaçou - bombardear os manifestantes»

GENERAL JAMES MATTIS (Chefe do Comando Central dos EUA): «Criar uma ZEA pressupõe a destruição prévia da defesa anti-aérea líbia»

DAVID CAMERON: «Temos aviões em Malta prontos a voar num prazo muito curto»

CRONISTA DO PÚBLICO: «O Egipto já tomou medidas para começar a armar e treinar o exército de Bengasi e acelerar a queda de Khadafi»

VOZ OFF: «Os EUA enviaram para o Mediterrâneo centenas de marines em dois navios anfíbios»

Hillary Clinton: (os marines) «Destinam-se a apoiar a evacuação e a prestar apoio humanitário»

ANÓNIMO 2: «Não há ainda unanimidade sobre o caminho a seguir para travar a violência»


FIM DA 1ª PARTE
(a 2ª parte segue dentro de momentos)