POEMA

É PRECISO ESTAR CEGO


É preciso estar cego
ou ter nos olhos aparas de vidro,
cal viva.
areia a ferver,
para não ver a luz que brota em nossos actos,
que ilumina por dentro a nossa língua,
a nossa palavra diária.

É preciso querer morrer sem um sinal de glória e de alegria,
sem participação nos hinos futuros,
sem ficar na lembrança dos homens que hão-de julgar o passado
sombrio da Terra.

É preciso querer já em vida ser passado,
obstáculo sangrento,
coisa morta,
seco olvido.


Rafael Alberti

3 comentários:

samuel disse...

Boa!!! Segundos depois de ler um "recado" de um velho companheiro de cantigas argentino, Enrique Llopis (esteve no Avante há muuuitos anos), a dizer que anda a fazer um recital sobre Rafael Alberti.
Ele há coisas assim...

Abraço.

Maria disse...

Temos de os acordar, é isso... acordá-los para a vida!

Um beijo grande.

Fernando Samuel disse...

samuel: coincidências...
Um abraço.

Maria:... para a luta.
Um beijo grande.