foram momentos de uma amizade sem fim. vermelho colorido nos cravos da Guida, nos cravos de Abril, no pensamento de quem sabe amar a terra que comeu a sua juventude. às onze e meia da manhã, já os primeiros se aglomeravam em volta do lagar da Agrária. Da Reforma Agrária, memória dos dias mais bonitos que o sol já beijou no querer dos trabalhadores. invadimo-lo como quem quem o arranca ao latifúndio pela primeira vez! e logo, nos olhos e nas palavras dos homens e mulheres de Ervidel que nos acompanharam, se soltaram roldanas, cabos, mós, e o azeite que iluminou, que ilumina, a esperança da revolução que ainda não cumprimos. Lá estavam eles... o Viriato, o Domingos, o Valverde, o Caixinha... todos... todos os nomes que aqui faltam e que, na sua biografia, escrevem o súor com que arrancaram à fome o sustento dos filhos. nos ouvidos dos meus camaradas que cá se deslocaram, cintilava, bem a pressenti, a comoção de quem descobre com que linhas se faz um sonho, nas palavras inauguradas por amigos acabados de se fazer. depois veio o museu rural. Arados, charruas, foices. e a fome. sempre afome. Mas também as lutas, as alfaias do sonho com que ergueram o descontentamento perante o imperialismo do latifúndio. E logo o riso aberto de quem ama! de quem ama e faz o Partido da sua luta e da sua querença. simbolo da união dos operários e camponeses, simbiose que Ervidel e Aljustrel encarnam nas gentes que as habitam. Foi esta aliança, a sua consciência, que nos uniu ali. girando em torno de um sonho que também neste blog se materializa e afirma! depois, depois veio uma mesa cheia de amor. E quero lembrar o esforço dos camaradas que, trabalhando, o possibilitaram. O queijo, o paio, as azeitonas, o pão alentejano... e os grãos com carne onde cada um encontrou a metamorfose da união. e as lágrimas ainda estavam por vir. mas não demoram, como combinado desde o inicio dos tempos em que os alentejanos cantam. e ouviram-se, nas gargantas colectivas, das mais belas modas resistentes que esta gente, a minha gente, compôs. Foram grandolas, operários, searas, alquevas de ternura lembrando a nossa luta. a nossa revolução que virá para cumprir Abril e fazer justiça ao luis, ao copa, ao artur, a todos os pseudónimos que estes homens, clandestinos comunistas no fascismo, usaram para honrar a sua gente, a sua classe. Lá esteve também o Raimundo, poeta popular que aprendeu a rimar ao som das ripadas da fome dos filhos. lá estiveram o nobre e o ildefonso, cantando como ninguém, ao som da viola, as mais belas letras da esperança. E a Joaquina no poema do Ary e das portas que ninguém mais cerrará. e as crianças que vieram trazer aos cravos a juventude que muitos lhe querem negar. passou também um gato. conheço-o. é o pantufa, reside na Adega do Moreira ( que belo vinho que nos ofereceu! obrigado). passou galopando como cavalo e paladino. parou por moimentos. olhou-nos. deve-nos ter sabido comunistas. pediu festas. enroscou-se ali perto. adormeceu tranquilo. Amanhã Abril virá! e nem os bichos lhe são indiferentes!
Foi dos dias mais belos da minha existência. obrigado
Foi dos dias mais belos da minha existência. obrigado
21 comentários:
Quem te agradece sou eu, a ti e aos restantes Camaradas, que tornaram possível que hoje festejassemos Abril. Da maneira mais bonita que sabemos. A recordar as lutas, a cantar a terra, a cantar Abril. Com um cravo na mão. e uma lágrima que teimosamente ainda me tolda o olhar...
Obrigada, Camarada.
Um abraço forte
Este texto, a modos que de reportagem mas prenhe de amizade e camaradagem, fez-me voltar ao ano já distante de 68, quando um grupo de quatro jovens de Lisboa rumou a Beringel, para se regalar com umas caras de borrego assadas, comidas no monte, também bem regadas de um bom tinto, e depois prolongar no final da tarde e pela noite dentro, nos fundos recatados da taberna de um "amigo", uma cadeia de solidariedade inolvidável entre os do campo e os da cidade, contando, cantando, confidenciando, fraternizando como só "os amigos" (ali mesmo, desconhecidos que éramos quase todos) sabiam/sabem fazer.
Dois tempos tão afastados e com emoções tão próximas...
Grato pelas bonitas palavras e recordações que a sua leitura inesperadamente despertou neste leitor. Um abraço.
Comovente o texto, imagino o acontecimento, regado a Vale do Côvo :)
Saudações ao Alentejo
Mais um texto digno de ser publicado num jornal, onde leitores que desconhecem o que é a camaradagem, a fraternidade não iriam ficar indiferente a este relato tão comovente.
O Alentejo é assim, o baluarte da Luta, do Sonho da Revolução.
Abril está em boas mãos, com jovens sensíveis e dinâmicos como tu camarada António,
Parabéns.
Bjs,
GR
A minha tristeza aumentou depois de ler este post. Questões de saude impediram-me de viver convosco estes momentos, por isso aqui fica o meu obrigado António a ti, por um dos mais bonitos texto com que poderias brindar a minha existência.
Muntos Jinhos Tovarich
Parabéns pelo belo texto, como sempre, mas a emoção ainda tocou mais fore!!!
Há momentos que nunca se esqucem...
Que pena que sinto em ter podido ir, sabendo de antemão que iria ser um momento de grande emoção.
E a beleza do teu texto ainda me deixa mais triste.
Não faltei ao 1º, mas faltei ao 2º. Para a próxima, no 3º aniversário não faltarei!
beijinhos
em "não ter" podido ir...
ai. os computadores...
Sal
O Partido é uma família
Foi um daqueles dias belos que nos dão força, que nos lembram por que lutamos, quem somos, como somos - e que, por tudo isso, nos «explicam» o significado profundo da nossa frase «25 de Abril sempre, fascismo nunca mais» e nos mostram que a luta continua.
Como gostaria de ter aí estado!
Parabéns ao Cravo de Abril!
Abraço colectivo.
Eu não poderia ter aí estado, separa-me um oceano de vocês. Mas adoraria ter aí estado, pois nada me aparta do que sentiram e vivenciaram nesse dia.
Nem do que se alimentaram: amizade, camaradagem, fraternidade...Até os animais foram conviventes com tais nobres princípios. E eles nunca se enganam... :))
abraços,
Sílvia MV
maria: desta estepe somos feitos comunistas. um beijo
filipe: recordação que pode ser sempre recordada e revivida. Há um alentejo inteiro à nossa espera. Abraço
rapariga do tejo: Vale Côvo, pois claro! beijo
GR: abril sempre esteve em boas mãos! talvez por isso haja aí umas mãos de colarinho a tentar dar cabo das suas conquistas! obrigado por teres estado da forma que estiveste. Trago-te no coração. Beijo
Xica: estiveste lá. porque lá estiveram todos os bons corações que conheço. espero noticias das tuas melhoras. Abraço grande.
Anamar: é impossivél esquecer Abril, e a Agrária! a nossa agrária! beijos
sal: também vieste! estiveste cá. na memória de todos ao sentirmos a tua falta. Teremos ainda muitas marés. assim nos continue a sobrar a vontade para navegar! um beijo
Faustino: é a casa grande. o Partido. o Nosso Partido! não há nada mais belo. um abraço do teu «irmão».
Fernando Samuel: meu querido amigo... Foi lindo! lindo lindo como uma romã aberta. Fascismo nunca mais! Nunca Mais! aquele nosso abraço.
Samuel: estiveste cá...pelo menos na lembrança da tua tão notada ausência. mais que justificada aliás... a revolução faz-se em muitos lados e com muitas datas. cheguei atrasado à tua agenda... Mas sei bem que nunca chegaremos atrasados as corações uns dos outros. Abraço muito grande. Como a tua voz no vento que passa.
Silvia: o mesmo oceano une-nos no sonho! a mesma distância é o tamanho do nosso sonho. Um beijo
Um aniverário muito belo!
Abraço fraterno a todos os presentes e a todos que, não podendo, não estiverem pela inspiradora freguesia de Ervidel.
eh joão, tira-me essa gravata camarada.. :)
hehe,
Nada disso, é a minha farda de trabalho!
eh pa, ainda assim... tira-a! eheheheheheeh
tira a gravata e tira o resto!
eh lá joão! tens aqui admiradoras secretas ou quê????
Obrigada camarada.......hoje sei que somos muitos muitos "MAIS" a familia comuna existe.
Caramba! Este texto é lindo! garanto que não sou mulher de lágrima fácil e elas cá estão, teimosas, a querer rolar...
Obrigada por me abrirem as janelas deste vosso convívio... mais, muito mais do que isso!
Abraço vermelho!
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