O REGINO
O Regino era um homem sem trabalho;
de tanto padecer fez-se mendigo
e levava já de ofício vinte anos.
De cór sabia o bater das portas,
os degraus das catedrais
e as pedras de todos os caminhos;
polia com as costas as esquinas,
aquecia ao sol suas sardinhas.
Tinha calos de pedir esmola,
a mão curtida pelos ventos
e uma ferida no centro da palma
por onde já caíam as moedas.
Fora seu ofício o de mineiro
porém tossia quando ia à mina
e o médico aconselhou «mudança de ares»;
mendiga desde então
pelas aldeias da serra.
Glória Fuertes
(In Poesia Espanhola do Após-Guerra)
3 comentários:
Bela "estória"!
Por cá, se não nos pomos a pau, não vai haver aldeias na serra que cheguem...
Abraço
Retrato pungente e perturbante, poema que podia referir-se ao tempo actual.
samuel e justine: «estórias» como esta são, de facto, muito actuais...
Abraço e beijo.
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