POEMA

CANÇÃO DO MESTIÇO


Mestiço!

Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando a cor
no olho alumbrado de quem me vê.

Mestiço!

E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição.

Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso:
- mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.

Ah!
Mas eu não me danei...
e muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor!...

Mestiço!

Quando amo a branca
sou branco...
Quando amo a negra
sou negro.

Pois é...


Francisco José Tenreiro

5 comentários:

Anónimo disse...

Não conheço o autormas este poema encerra uma grande verdade, felismente que o Mundo caminha para a mestiçagem!
José Manangão

Esquerda Comunista disse...

VITÓRIA NA VENEZUELA!

Após intensa luta dos trabalhadores da SIDOR (empresa siderúrgica de capital argentino), o governo bolivariano declarou a nacionalização da empresa!

Nas última semana, depois dos lacticínios "Andes" (que controlam 40% da indústria do leite) e da cimenteira CEMEX (que controla a quase totalidade da produção), chega a vez da SIDOR (a 4ª maior produtora de aço da América Latina)!

Lê pormenores em http://tirem-as-maos-da-venezuela.blogspot.com/

Justine disse...

FS, mais um autor que me apresentas, e que irei investigar para conhecer melhor.
Este poema dele é uma lição de história!

Fernando Samuel disse...

josé manangão: vale a pena ler este poeta são-tomense cujo primeiro livro (Ilha de Nome Santo) foi publicado na colecção Novo Cancioneiro ao lado de outros grandes poetas neo-realistas.

rui faustino; viva a Venezuela bolivariana!

justine: a obra poética de Francisco José Tenreiro está publicada no volume «Coração em África» (editora África, 1982); muitos dos seus poemas (especialmente os dos anos 40) começaram por ser publicados na Vértice e na Seara Nova. Tenreiro era um militante anti-fascista: há uma célebre fotografia de um passeio de barco no Tejo (esses «passeios» estavam, então, muito em voga e eram, de facto, reuniões disfarçadas de passeios...)em que está ele e o Redol, o Soeiro, etc.

Anónimo disse...

Fernando Samuel obrigado pelos poetas que nos tens dado a conhecer.