UM DUETO AFINADO
Uma noite destas, inopinadamente, entraram-me em casa o Mário Soares e a Clara Ferreira Alves - ele de bochechas, ela de loura.
Estragaram-me a noite. Culpa minha, já se vê.
Na verdade, passado o susto inicial, pensei pô-los na rua, dizer-lhes: «façam favor, ponham-se lá fora, aqui na minha casa só entra gente séria» - e desligar a televisão, ou passar para não importa que outro programa, pior do que aquilo era impossível.
Não o fiz e bastante me arrependi.
Diziam eles que «o caminho faz-se caminhando» - e caminhavam, desta vez em Berlim, a expensas da televisão pública.
Assisti, então, a uma das mais desavergonhadas manifestações de anticomunismo primário que me foi dado observar nos últimos tempos - o que quer dizer que Soares e Clara justificaram bem a despesa suportada pela RTP-1.
Soares, cumprindo um hábito muito dele, foi desfiando mentiras, falsidades e provocações que Clara ia polvilhando com pózinhos de tontaria.
E pediam meças um ao outro: se Clara dizia «mata!», Soares dizia «esfola», e vice-versa, num serviço perfeitamente combinado - e, presumo, muito bem pago.
Soares dizia: «Ponho o totalitarismo comunista e o totalitarismo nazi mais ou menos no mesmo plano».
E Clara concordava e pedia mais.
Ora, Soares estava a mentir: na verdade, ele sempre preferiu o fascismo ao comunismo, como muito exuberantemente demonstrou ao longo da sua vida.
Soares dizia: «Churchil foi o grande herói da guerra, foi ele que venceu o nazismo».
E Clara aplaudia e pedia bis.
Ora, o parlapatão Soares estava a fingir que não sabia que «o grande herói da guerra», o que «venceu o nazismo», foi o glorioso Exército Vermelho e o heróico povo soviético com os seus mais de vinte milhões de mortos em defesa da liberdade e da democracia.
«Da segunda guerra para cá, nunca mais tivemos guerras na Europa»: gritaram ambos em coro síncrono - ele, com a memória a derramar-se-lhe pelas bochechas; ela, vazia de memória e de tudo.
E sempre em coro afinado proclamaram que, com a União Europeia, «está a nascer uma Europa aberta» - aberta a quê e a quem, não disseram; fechada a quê e a quem, também não disseram.
Por uma questão de higiene, dispenso-me de referir aqui outras abjecções proferidas por Soares - nomeadamente em relação à fuga de Caxias, onde desceu muitos graus abaixo de zero em matéria de desaforo e descaro provocatórios.
No entanto, no ouvido ficou-me, sarrazina, a apresentação de Soares feita por Clara: «Mário Soares, um homem que dedicou toda a sua vida à luta pela liberdade e que, creio bem, teria dado a vida pela liberdade se fosse necessário».
Este «creio bem» de Clara é um pró-forma, é claro: eu «creio bem» que «se fosse necessário» dar a vida pela liberdade, Soares ficaria vivinho da costa...
Porque a «liberdade» pela qual Soares se «bate», tem como primeiro princípio o de assegurar a total liberdade de exploração.
E por isso a luta à qual Soares «dedicou a sua vida» foi uma luta muito, muito bem paga: em dólares, em marcos, em libras, em coroas...
Uma noite destas, inopinadamente, entraram-me em casa o Mário Soares e a Clara Ferreira Alves - ele de bochechas, ela de loura.
Estragaram-me a noite. Culpa minha, já se vê.
Na verdade, passado o susto inicial, pensei pô-los na rua, dizer-lhes: «façam favor, ponham-se lá fora, aqui na minha casa só entra gente séria» - e desligar a televisão, ou passar para não importa que outro programa, pior do que aquilo era impossível.
Não o fiz e bastante me arrependi.
Diziam eles que «o caminho faz-se caminhando» - e caminhavam, desta vez em Berlim, a expensas da televisão pública.
Assisti, então, a uma das mais desavergonhadas manifestações de anticomunismo primário que me foi dado observar nos últimos tempos - o que quer dizer que Soares e Clara justificaram bem a despesa suportada pela RTP-1.
Soares, cumprindo um hábito muito dele, foi desfiando mentiras, falsidades e provocações que Clara ia polvilhando com pózinhos de tontaria.
E pediam meças um ao outro: se Clara dizia «mata!», Soares dizia «esfola», e vice-versa, num serviço perfeitamente combinado - e, presumo, muito bem pago.
Soares dizia: «Ponho o totalitarismo comunista e o totalitarismo nazi mais ou menos no mesmo plano».
E Clara concordava e pedia mais.
Ora, Soares estava a mentir: na verdade, ele sempre preferiu o fascismo ao comunismo, como muito exuberantemente demonstrou ao longo da sua vida.
Soares dizia: «Churchil foi o grande herói da guerra, foi ele que venceu o nazismo».
E Clara aplaudia e pedia bis.
Ora, o parlapatão Soares estava a fingir que não sabia que «o grande herói da guerra», o que «venceu o nazismo», foi o glorioso Exército Vermelho e o heróico povo soviético com os seus mais de vinte milhões de mortos em defesa da liberdade e da democracia.
«Da segunda guerra para cá, nunca mais tivemos guerras na Europa»: gritaram ambos em coro síncrono - ele, com a memória a derramar-se-lhe pelas bochechas; ela, vazia de memória e de tudo.
E sempre em coro afinado proclamaram que, com a União Europeia, «está a nascer uma Europa aberta» - aberta a quê e a quem, não disseram; fechada a quê e a quem, também não disseram.
Por uma questão de higiene, dispenso-me de referir aqui outras abjecções proferidas por Soares - nomeadamente em relação à fuga de Caxias, onde desceu muitos graus abaixo de zero em matéria de desaforo e descaro provocatórios.
No entanto, no ouvido ficou-me, sarrazina, a apresentação de Soares feita por Clara: «Mário Soares, um homem que dedicou toda a sua vida à luta pela liberdade e que, creio bem, teria dado a vida pela liberdade se fosse necessário».
Este «creio bem» de Clara é um pró-forma, é claro: eu «creio bem» que «se fosse necessário» dar a vida pela liberdade, Soares ficaria vivinho da costa...
Porque a «liberdade» pela qual Soares se «bate», tem como primeiro princípio o de assegurar a total liberdade de exploração.
E por isso a luta à qual Soares «dedicou a sua vida» foi uma luta muito, muito bem paga: em dólares, em marcos, em libras, em coroas...
8 comentários:
Camarada e amigo Fernando Samuel,
gargalhei, amarelamente... mas gargalhei, com este teu texto. Gargalhei pelo modo como contas, amarelamente por aquilo que contas. É que há limites para a desfaçatez. No entanto, comprovando a dialéctica, é bem verdade que há desfaçatezes que não têm limites, como a do bochechas e de algumas louras, quando toca a cumprir o seu papel na luta de classes.
Depois, bem... depois são bestiais em tudo. Muito simpáticos, muito aparentemente cultos mas muito "cá da malta", umas "joias" - tão joínhas eles são -, a destilarem o veneno peçonha sobre o que e quem - nem sempre bem, algumas vezes mal - fez da vida a luta contra a exploração do homem pelo homem (mas isto esiste?...), a luta pela liberdade de todos (a que é icompatível com haver uns muito livres e outros seus servidores).
Desde sempre, este Soares é meu inimigo (de classe) de estimação. Porque engana incautos. Porque é o verdadeiro símbolo do amarelo, do aparentemente culto (porque tem muitos livros em casa, conhece muita gente culta) aparentemente ignorante (porque finge desconhecer o que tão bem sabe), do contra-revolucionário, do individualismo e do egocentrismo sté à soberba e ao doentio, do "social-democrata" com o seu papel na História.
Assim, camarada, fizeste-me começar bem o dia - pelo que te li - e irritadíssimo - porque me fizeste lembrar que há quem nos seja metido em casa para nos insultar, com o ar de quem acha que o convidámos ou que a casa é sua, pois tudo deles seria. Mas não é!
Felizmente não os ouvi, felizmente li-te. Pelo que estou sorridentemente chateado.
também vi um bocadinho. Depois enjoei e virei-me para um jogo de futebol na RTP Memória.
Não dou pró pró peditório do Mário, prá Clara e prá crosta intelectual do Bairro Alto que vive do dinheirinho da fundação do Mário.
O que o Mário quer sei eu - ser proclamado pai da democracia em Portugal. Julga que já entrou prá história e , daqui a 30 anos ninguém saberá quem ele foi. Por muito que os fazedores de opinião queiram construir o mito.
Mas os Homens que ficam para a História, que perduram na memória colectiva dos povos para lá da sua sua geração contemporânea não são escolhidos pelos seus contemporâneos.
Fernando Pessoa em vida perdeu um concurso literário para um obscuro poeta de que ninguém hoje sabe sequer o nome...
Soares, sabe disso.
E a inveja que tem de ÁLVARO CUNHAL é absolutamente indisfarçável.
Porque no fundo, no fundo, o olhar fundo e seguro de Álvaro Cunhal em 1975 a dizer-lhe "olhe que não, olhe que não" é o olhar dos que verdadeiramente acompanham a História do Mundo, para lá do seu próprio tempo.
Felizmente deixei-me de ver televisã. Vejo-a excepcionalmente para ver como são tratados o Partido e as manifestações populares. Estas excepções confirmam a regra. E ainda me vêm as bestinhas aborrecer-me ao telefone para eu comprar canais codificados!... Isso é que era bom!...
O dr Mario Soares não é esquisito. Tambem aceita diamantes (da UNITA) e outros pagamentos em generos.
perdoem a violência. tenho champanhe guardado para o dia que esta próximo. Como dizia o Zeca "os velhos tiranos de há mil anos morrem como tu".
Brindemos, António lains galamba. Guarda champanhe para mim, que estou ansiosa por ver o Soares a ir dar uma volta até ao outro mundo. Mas ele que não pense que terá um funeral como o do Álvaro. Que tire o cavalinho da chuva...
Camaradas
Não percam tempo, com estes actores de trazer por casa, eu nem vêjo, nem a própria direita, acredita nestes floreados por serem demasiadamente ridículos, o homem está senil, daí gostar de fantochadas!
Abraço
José Manangão
O Soares merece bem a humilhação a que os seus correligionários do PS o votaram nas últimas presidenciais, lançando o Alegre como que à socapa.
Chorou, "coitado". Que chore muito sempre que perceber que, acabada a propaganda, não é nada para o povo português. É isso mesmo: um nada.
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