POEMA

CORO DOS ÓRFÃOS


NÓS ÓRFÃOS
queixamo-nos ao mundo:
Cortaram-nos o nosso ramo
e atiraram-no ao fogo -
lenha de queimar fizeram dos nossos protectores -
nós órfãos jazemos nos campos da solidão.
Nós órfãos
queixamo-nos ao mundo:
Na noite os nossos pais jogam connosco às escondidas -
por trás das dobras negras da noite
as suas faces nos olham,
falam as suas bocas:
Lenha seca fomos nós na mão de um lenhador -
mas os nossos olhos fizeram-se olhos de anjos
e olham para vós,
através das dobras negras da noite
eles olham -
Nós órfãos
queixamo-nos ao mundo:
das pedras fizemos os nossos brinquedos,
pedras têm caras, caras de pai e mãe
não murcham como flores, não mordem como bichos -
e não ardem como lenha seca quando as metem no forno -
Nós órfãos
queixamo-nos ao mundo:
Mundo porque nos tiraste as nossas mães tenras
e os pais que dizem: Meu filho és parecido comigo!
Nós órfãos não somos parecidos com ninguém mais no mundo!
Ó Mundo
queixamo-nos de ti!

Nelly Sachs

1 comentário:

Justine disse...

Que violência, e ao mesmo tempo que humanismo.Muito belo, este poema.
Mais uma poetisa desconhecida-apesar de "nobelisada"- que vou conhecer. Não me dás mãos a medir!!