POEMA

COM FÚRIA E RAIVA


Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Junho de 1974


Sophia de Mello Breyner Andresen

4 comentários:

Maria disse...

Sophia é também Abril....

Beijo

Sal disse...

A pior coisa que Sophia fez... foi o Miguel Sousa Tavares.

bjs

Fernando Samuel disse...

maria: e de que maneira!
Beijo.

sal: ninguém é perfeito...
Beijo.

GR disse...

Uma grande poetisa.
Como gostaria que os prepotentes governamentais, lessem este poema.

GR