Porque é que a TV foi essa «caixinha que revolucionou o mundo»? Faço a pergunta e as respostas vêm em turbilhão. Fez de tudo um espectáculo, fez do longe o mais perto, promoveu o analfabetismo e o atraso mental. De um modo geral, desnaturou o homem. E sobretudo miniturizou-o, fazendo de tudo um pormenor, reduzido ao quotidiano doméstico. Porque mesmo um filme ou peça de teatro ou até um espectáculo desportivo perdem a grandeza e metafísica de um largo espaço de uma comunidade humana.
Já um acto religioso é muito diferente ao ar livre ou no interior de uma catedral. Mas a TV é algo de minúsculo e trivial como o sofá donde a presenciamos. Diremos assim e em resumo que a TV é um instrumento redutor. Porque tudo o que passa por lá chega até nós diminuído e desvalorizado no que lhe é essencial. E a maior razão disso não está nas reduzidas dimensões do ecrã, mas no facto de a «caixa revolucionadora» ser um objecto entre os objectos de uma sala.
Mas por sobre todos os males que nos infligiu, ergue-se o da promoção do analfabetismo. Ler é um acto difícil e olhar o boneco não dá trabalho nenhum. Ler exige a colaboração da memória, do entendimento e da imaginação.
A TV dispensa tudo. Uma simples frase como «o homem subiu a escada» exige a decifração de cada palavra, a relação das anteriores até se ler a última e a figuração do seu sentido e imagem correspondente. Mas na TV dá-se tudo de uma vez sem nós termos de trabalhar. Mas cada nossa faculdade, posta em desuso, chega ao desuso maior que é deixar de existir. Mas ser homem simplesmente é muito trabalhoso. E o mais cómodo é ser suíno...
Já um acto religioso é muito diferente ao ar livre ou no interior de uma catedral. Mas a TV é algo de minúsculo e trivial como o sofá donde a presenciamos. Diremos assim e em resumo que a TV é um instrumento redutor. Porque tudo o que passa por lá chega até nós diminuído e desvalorizado no que lhe é essencial. E a maior razão disso não está nas reduzidas dimensões do ecrã, mas no facto de a «caixa revolucionadora» ser um objecto entre os objectos de uma sala.
Mas por sobre todos os males que nos infligiu, ergue-se o da promoção do analfabetismo. Ler é um acto difícil e olhar o boneco não dá trabalho nenhum. Ler exige a colaboração da memória, do entendimento e da imaginação.
A TV dispensa tudo. Uma simples frase como «o homem subiu a escada» exige a decifração de cada palavra, a relação das anteriores até se ler a última e a figuração do seu sentido e imagem correspondente. Mas na TV dá-se tudo de uma vez sem nós termos de trabalhar. Mas cada nossa faculdade, posta em desuso, chega ao desuso maior que é deixar de existir. Mas ser homem simplesmente é muito trabalhoso. E o mais cómodo é ser suíno...
4 comentários:
E então o homem tinha ou não tinha mau-feitio? :)
Texto infelizmente tão certeiro...
Abraço
É a velha história,"o caminho mais fácil é sempre o mais apetecido, mas nem sempre o melhor"
O mau feitio, do VFfazia parte daquela raivinha interior que sentimos, quando apontamos o caminho certo, -e as pessoas não vêm.
Lá chegará o tempo!
Samuel, Zé Manangão - Dizem que tinha mau feitio. Mas se o seu mau feitio fosse condição essencial para a sua sensibilidade nos problemas da desumanização capitalista imposta pela TV como nos diz o texto, então ainda bem que o tinha. Isto digo eu que o não conheci, claro está...
Abraços
Referiste no teu texto, e muito bem, uma peça de teatro. Como sabes, tenho uma ligação muito especial por esta 'área' e, no meu grupo, todos nós somos amadores, ou seja, fazemos o que amamos, sem nada em troca. Suponho que este 'sem nada em troca' esteja referido ao dinheiro, à compensação, sei lá. Só nós sabemos o que sentimos quando estamos em cima do palco, quando estamos meses a preparar uma boa peça e, na tarde ou noite de estreia, a plateia está a menos de metade ou os poucos que estão, são familiares. Dizemos: 'bem, para a próxima será melhor', 'deve ter sido por alguma coisa qualquer...' e todos nós saímos com uma dor no coração, uma vontade de gritar a todas as pessoas o porquê de não irem àquela modesta sala ver um grupo de pessoas fazerem o que mais amam: representar. Mas não, a essa hora ou dá o programa da tarde, com caras 'bonitas' que lhes enchem os olhos, ou a novela da noite, que adoram por aquelas pessoas (algumas) acabadas de sair das agencias de modelos serem 'bons actores'. Tudo isso nos doi. Recolta-nos. Mas nós continuamos. Pode ser que um dia a «caixinha que revolucionou o mundo» se lembre que há um mundo que lá fora. E as pessoas, essas, venham ao teatro.
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