POEMA

CARABINA Nº 5767

Esta é a crónica de Félix Faustino Ferrán
e da ficha da sua carabina de miliciano da Pátria.
Féliz Faustino Ferrán, na fria noite de 19 de Janeiro,
junto às trincheiras da Revolução,
num lugar qualquer de Cuba,
recitou-me o breve e enorme poema
da sua carabina nº 5767.

Eu digo que é o mais luminoso, o mais profundo,
o mais musical e cintilante de todos os poemas
da Revolução!

Disse-o com a voz grave e quente de negro cubano,
com o seu sorriso claro e grande de negro cubano,
e era a Pátria inteira que falava,
com as palavras simples como flores de aço
do miliciano 1061.

Esqueci-me da origem, da primeira palavra.
Oiço a sua voz e vejo a mão
fechar-se com ternura de diamante invencível
no cano da sua carabina.
Surpreendido, escuto:

António o cano,
Viviana o guarda-mão,
Caruca o manipulador,
Filiberto o carregador,
Irene o tampão de gases,
Lucía o atirador
Fabián o travão,
e a culatra sou eu.

Em cada peça da carabina um filho,
em cada peça uma flor do seu sangue,
uma face de amor com fúria defendida.
Por eles, para eles!
Por todos! Para todos aqueles cujos nomes
estão em cada peça das carabinas milicianas,
a voz rouca do miliciano Félix Faustino Ferrán,
negro cubano, operário da Pátria e da sua glória,
na fria noite inolvidável do 19 de Janeiro,
junto às trincheiras da Revolução
onde eu lhe lia os poemas deste livro,
mostrou-me o coração da poesia.

Félix Pita Rodriguez
(In Poesia Cubana da Revolução)

4 comentários:

samuel disse...

E o que é que alguém pode, contra uma tal carabina?
Grande texto!

Abraço

Anónimo disse...

Assim se percebe o triunfo da Revolução Cubana!

Justine disse...

Tão cubano este poema. Tudo está ligado, a vida é um todo. Comovente!

Anónimo disse...

vê lá se gostas deste, foi escrito no dia das eleições em que o Santana e a direita levaram na pá em 2005...

A virgem visionária

Num dia claro, todo puro,
A virgem visionária projectou o futuro:
Com pássaros a cantar no centro da cidade,
Respiraríamos alegria, paz e liberdade.

E nem ladainhas das velhas beatas
Com seus negros xailes e mil chagas,
Roídos rancores e ocultas adagas
Iriam ensombrar as nossas metas.

Podiam magos, jovens turcos e cientistas
Lançar pragas, palpites e más pistas,
Podiam os bezerros d’ ouro bufar, tugir…

Mas podia o Sol pôr-se tranquilo e a noite vir,
Nenhum potentado pouparia aos Céus
O assalto à vitória pelos plebeus.