POEMA

O SONÂMBULO E O OUTRO

Durante a noite não pregou olho.
Seguia os passos do sonâmbulo sobre o tecto.
Cada passo, pesado e ôco,
ressoava infindamente num canto
vazio de si próprio.
Fica à janela, esperando
apará-lo nos braços, se viesse a cair.
Mas se o outro o arrastasse na queda?
Era a sombra de um pássaro na parede?
Uma estrela? Era o outro? As suas mãos?


Ouviu-se um baque surdo no pavimento.
Amanhecia.
Abriram-se janelas. Os vizinhos acorreram.
O sonâmbulo descia rapidamente
as escadas de serviço
para acudir àquele que tombara da janela.

Yannis Ritsos

4 comentários:

Maria disse...

Os recados que os poetas nos dão em dúzia e meia de linhas...

Um beijo

Fernando Samuel disse...

maria: em primeiro lugar um beijo de boas vindas!
Quanto ao poema: os poetas são mesmo assim, não é?

GR disse...

Não é necessário cair, nos gestos solidários.
Tenhamos a serenidade necessária e a vontade precisa.

Só hoje o comento.
Na realidade aconteceu a um amigo meu, ao tentar ajudar o irmão.

GR

Fernando Samuel disse...

gr: insisto: a poesia só o é quando é Vida...
Um beijo amigo.