POEMA

PRELÚDIO

Quando o descobridor chegou à primeira ilha
nem homens nus
nem mulheres nuas
espreitando
inocentes e medrosos
detrás da vegetação.
Nem setas envenenadas vindas no ar
nem gritos de alarme e de guerra
escoando pelos montes.

Havia somente
as aves de rapina
de garras afiadas
as aves marítimas
de voo largo
as aves canoras
assobiando inéditas melodias.

E a vegetação
cujas sementes vieram presas
nas asas dos pássaros
ao serem arrastadas para cá
pelas fúrias dos temporais.

Quando o descobridor chegou
e saltou da proa do escaler varado na praia
enterrando
o pé direito na areia molhada

e se persignou
receoso ainda e surpreso
pensando n'El-Rei
nessa hora então
nessa hora inicial
começou a cumprir-se
este destino ainda de todos nós.

Jorge Barbosa

5 comentários:

samuel disse...

Podia ser a Madeira, uma qualquer ilha dos Açores... mas pelo aspecto da areia molhada da praia, deve ser algures em Cabo Verde, não?

Fernando Samuel disse...

samuel: exacto! e para terminar esta viagem a África segue-se a Alda do Espírito Santo, de São Tomé e Príncipe.
Abraço grande.

Justine disse...

Ilhas desertas e secas, que se transformam em verdes mal caem alguns pingos de "chuva braba"!
Tão belo, o poema.

Maria disse...

Tantos poetas da lusofonia pouco divulgados no nosso país...
é um lindo poema...

GR disse...

Que maravilha.
Diariamente belíssimos poemas, de poetas tão diferentes.

É bom vir até aqui!

GR