POEMA

VIAGEM ATRAVÉS DE UNS CABELOS TODOS BRANCOS


E
stamos a vê-lo todos e sabemos.

Foram anos de fome, quantas vezes
à beira dos mercados e das feiras.
Foram anos com o perigo a escorrer das paredes.
Foram anos de todas as esquinas vigiadas.
Anos de encontros mais cronometrados
do que o fio-de-prumo sobre a lâmina.
Foram anos eternos de prisão
numa ilha de mar, de guardas, de muralhas
e de silêncio com o olhar feroz
de grades sobre o dia.

Foi toda a vida com o coração
sem nunca se esquecer por que batia.

Mário Castrim

3 comentários:

Anónimo disse...

N�o conhecia este poema do M�rio Castrim, e tambem estou cheio de inveja, por n�o ter sabido descrever assim �lvaro Cunhal.

samuel disse...

Quando uma parte suficientemente importante do cérebro se deesloca para o coração, este ganha a consciência da razão porque bate...

Abraço

GR disse...

O poema narra a realidade da vida sempre em perigo, do nosso querido camarada Álvaro. Com tanta sensibilidade.
Viva a Poesia.

GR