POEMA

CONFISSÃO

No silêncio pesado do caminho,
ouviu-se um passo, cadenciado
na firmeza das horas decisivas.

A sentinela bradou:
- Quem vem lá?...

O Homem podia ter respondido
qualquer coisa parecida
com: «gente de paz»...

Mas não. Onde a paz,
se no seu peito ardiam agonias
enraivadas,
se no seus olhos boiavam
visões de fogo e de morte,
e as suas mãos,
(ó belas, generosas mãos!)
vinham ainda tintas
do sangue dos camaradas?...

Não trocou portanto as falas.

Respondeu simplesmente, sombriamente:
- EU!

E a sentinela, varou-o com três balas.

Alda Lara

5 comentários:

Justine disse...

Brutal! Sombrio e belo, muito belo.

GR disse...

Muito bonito e comovente este poema.
Não conhecia esta poetisa. Partiu muito cedo.
Na pesquisa que fiz, encontrei belíssimos poemas.
Obrigada.

GR

Maria disse...

É um belíssimo poema dos muitos que a Alda Lara escreveu.
São poucos os poeta angolanos (e moçambicanos) conhecidos em Portugal.
Tenho encontrado grande divulgação por aqui.
Obrigada.

Um beijo

samuel disse...

Muita vezes já não dá mais para disfarçar... por vezes isso (ainda) é fatal!

Abraço

Anónimo disse...

Este poema é imenso, e fatalmente profundo.