PASOLINI

Por três vezes - com dois poemas do Autor e um fotograma do filme Teorema - o Cravo de Abril recordou essa figura maior da cultura italiana (e europeia) que foi Pier Paolo Pasolini.

Hoje, partilhamos com os nossos visitantes parte da intervenção proferida por Pasolini no comício realizado no Verão de 1974, em Milão, no decorrer da Festa do Unitá (então órgão central do então Partido Comunista Italiano).

«Eis a angústia de um homem da minha geração, que viveu a guerra, os nazis, as SS, de que sofreu um traumatismo nunca totalmente vencido.
Quando vejo à minha volta os jovens que estão perdendo os antigos valores populares e absorvem os novos modelos impostos pelo capitalismo, arriscando assim uma forma de desumanidade, uma forma de afasia atroz, uma brutal ausência de capacidade crítica, uma facciosa passividade, recordo que estas eram precisamente as formas típicas das SS: e vejo assim estender-se sobre as nossas cidades a sombra horrenda da cruz gamada.
Uma visão apocalíptica, certamente, a minha.
Mas se ao lado dela e da angústia que a produz, não existisse em mim, também, um elemento de optimismo, isto é, o pensamento de que existe a possibilidade de lutar contra tudo isto, simplesmente eu não estaria aqui, convosco, a falar».

8 comentários:

samuel disse...

E que diria de diferente se viesse falar connosco... hoje?

Maria disse...

Que belo discurso ele fez... parece falar hoje, 30 anos depois...

Anónimo disse...

Samuel
Diría precisamente a mesma coisa ou talvez pior.
Sem generalizar, e os jovens que se interessam pela politica, mesmo sem seguirem uma carreira politica, não têm que ficar ofendidos, mas na realidade existe algum desinteresse por parte dos jovens em se assumirem, como parte inteira da sociedade.
A muitos jovens nem lhes passa pela cabeça o que foi a ditadura, muitos dos que nasceram após 25 de Abril, nem acreditam, o que foram aqueles 50 anos.

Sal disse...

...A luta é o caminho. Pasolini sabia-o. Nós também não estaríamos aqui a falar se não acreditássemos que a mudança é possível.

bjs

samuel disse...

Pois não, Sal. E isso é bom!

Fernando Samuel.
O pessoal desatou todo a conversar mas faz de conta que estás em tua casa... :)))

Abraço

Anónimo disse...

Uma visão apocalíptica? Só aí é que eu poria uma reserva no contributo do Pasolini para esta nossa conversa que se alarga... Estariamos, então, a começar esta "curva". Na História. Que poderia ter sido feita em contra-curva - controlada - mas foi nesta "desgraça" a partir do final dos anos 70 e década de 80...
E 30/40 anos no "tempo histórico" podem ser um ápice. Nós é que vivemos pouquinho tempo e parece-nos uma eternidade.
Agora que o Pasolini estava a ver (e a sentir) o que estava a acontecer ah! isso estava. E que o nosso Fernando Samuel está a trazer à conversa gente que nos está a ajudar muito, ah! isso está.

Fernando Samuel disse...

Se não se importam, sento-me aqui neste lugar vago desta mesa redonda dirigida por Pasolini - que, há 34 anos, via o desenrolar sombrio das coisas, a sua evolução previsível, os perigos que nos espreitavam... E via o mais importante: com a luta é possível alterar o rumo dessas coisas, e nós estamos cá para lutar sejam quais forem as circunstâncias...

(melhor do que isto, seria se esta mesa redonda não fosse virtual e se concretizasse... sei lá, em casa de um de nós, por exemplo, com uns comes e bebes a participar na conversa: um queijo lá de cima, da Serra, um panito alentejano, um vinho especial ali de Palmela, uns pastéis de Belém, uma Trança de Espinho, etc, etc...)

Abraços e beijos para todos.

Fernando Samuel disse...

Ah!: e agora, se não se importam, passo ao segundo poeta catalão. O primeiro disse-nos «Não direi», o segundo, diz-nos «E agora direi» - e, «não dizendo» e «dizendo» é o mesmo que «dizem»...