Perante a tradicional homenagem prestada pelos comunistas a Catarina Eufémia, não faltam as acusações por parte dos «do costume» de esta ser uma farsa que pretende, através da mistificação, apenas manipular com a falsidade aqueles que, «comandados» pelo aparelho dos comunistas, lá se deslocam . Os argumentos são variados e vão desde a mais pura desvergonha que é a negação da morte de uma camponesa comunista em luta por paz, pão e trabalho, até aos que tentam a descredibilização da homenagem, dizendo que esta se baseia em mentiras e exageros manietados pelo Partido Comunista, afim de promover uma cultura de classe que, bem dita fosse a verdade, cairia por terra. E a bendita verdade é que, pasme-se, Catarina não estava grávida. A prová-lo o relatório da autópsia do dr fascista. Não vou entrar por discussões que me parecem ser de assunto oco, palmilhados que estão os argumentos que se travam de um lado e outro. Como antropólogo – e admitindo que Catarina é mártir de uma causa - parece-me muito mais importante, como lembrou há uns anos Paula Godinho num artigo publicado no diário Público, analisar o que leva à existência de mártires de causa – criados pela morte dos dominados perante os dominantes – do que enveredar por argumentos que mais não fazem que desviar a atenção do essencial. E a verdade é que no dia 19 de Maio de 1954 Catarina tombou face às balas da repressão. Nesta morte a classe operária reviu a sua condição de vida oprimida. Este facto criou a necessidade da lembrança/homenagem. Seja nas gravatas pretas ostentadas pelos camaradas de classe no aniversário da sua morte, ainda em pleno fascismo, seja na «romaria» efectuada todos os anos de 1974 para cá. Porque, parece-me, muito mais importante que saber a verdade absoluta de pormenores – que na verdade não o são – se havia mais uma vida dentro da mulher assassinada, é saber que necessidade levou à criação de uma mártir pela classe oprimida. Ajudada, claro, pelos assassinos fascistas. E nenhum argumento lhes tira a ambos, esta condição. Oprimidos de um lado, fascistas de outro. Catarina no meio. Mas morta por defender um dos lados. Por pedir pão, para os braços que trabalhavam. E, já agora, por aqueles que ainda não o faziam mas a isso estavam destinados. Os braços tenros que, acredito – porque acredito em quem conhecia bem Catarina – esta trazia na barriga, prometendo mais uma boca que alimentar.
Este texto foi hoje publicado com a edição do semanário Alentejo Popular, propriedade da Cooperativa Cultural Alentejana.
3 comentários:
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer...
Congratulo-me pela homenagem feita porque Catarina simboliza a luta pelos direitos paga com o preço mais elevado: a vida.
Cumprimentos
Mário Figueiredo
Execelente post. Uma abordagem muito correcta, fundamentada e desapaxionada. Talvez por essa razão, com mais força ainda.
Campaniça
Campaniça: o «desapaixonada» é apenas fachada...
Mário: o que sabemos é que hoje a ofensiva prossegue. mas também nós estamos cá com aquilo que temos. A luta é continua. Até ao Socialismo!
abraços camaradas
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