NOCTURNO
Eram, na rua, passos de mulher.
Era o meu coração que os soletrava.
Era, na jarra, além do malmequer,
espectral, o espinho de uma rosa brava...
Era, no copo, além do gim, o gelo;
além do gelo, a roda de limão...
Era a mão de ninguém no meu cabelo.
Era a noite mais quente deste verão.
Era, no gira-discos, o Martírio
de São Sebastião, de Debussy...
Era, na jarra, de repente, um lírio!
Era a certeza de ficar sem ti.
Era o ladrar dos cães na vizinhança.
Era, na sombra, um choro de criança...
David Mourão-Ferreira
6 comentários:
Magnífico!
Magnífico.
(peço desculpa pela repetição, mas foi realmente o que pensei, quando li)
bjs
Eu diria: magnífico!! E acrescentaria: magnífico!! Quase apetece uma tamanha solidão desgostosa, se pudesse descrevê-la com esta maestria,esta elegância, esta doçura.
samuel, sal, justine: já somos quatro: magnífico!
A solidão!
Belíssimo!
GR
gr. belíssimo... ou «magnífico«...
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