POEMA

NOCTURNO


Eram, na rua, passos de mulher.
Era o meu coração que os soletrava.
Era, na jarra, além do malmequer,
espectral, o espinho de uma rosa brava...

Era, no copo, além do gim, o gelo;
além do gelo, a roda de limão...
Era a mão de ninguém no meu cabelo.
Era a noite mais quente deste verão.

Era, no gira-discos, o Martírio
de São Sebastião, de Debussy...
Era, na jarra, de repente, um lírio!
Era a certeza de ficar sem ti.

Era o ladrar dos cães na vizinhança.
Era, na sombra, um choro de criança...


David Mourão-Ferreira

6 comentários:

samuel disse...

Magnífico!

Sal disse...

Magnífico.

(peço desculpa pela repetição, mas foi realmente o que pensei, quando li)

bjs

Justine disse...

Eu diria: magnífico!! E acrescentaria: magnífico!! Quase apetece uma tamanha solidão desgostosa, se pudesse descrevê-la com esta maestria,esta elegância, esta doçura.

Fernando Samuel disse...

samuel, sal, justine: já somos quatro: magnífico!

GR disse...

A solidão!
Belíssimo!

GR

Fernando Samuel disse...

gr. belíssimo... ou «magnífico«...