POEMA

(Anos de seca, menos nos olhos dos pobres)


Vem, sol,
doirar cinicamente
os cabelos de hoje
destas crianças esfarrapadas
que se atrevem a ser loiras
com olhos de trono azul.

Vem, sol,
tu que secas os rios
e os segredos dos poços
- e não deixas na terra
um charco para as estrelas
tremerem de luz despida...

Vem, sol,
secar estas lágrimas
dos olhos dos pobres.

Torna-os duros, implacáveis e frios
como canos de pistolas
nas manhãs coléricas de lobos.

José Gomes Ferreira

4 comentários:

Maria disse...

Não cometo o pecado de comentar o Zé Gomes...
...o Zé Gomes, o Poeta Militante!

Beijo

samuel disse...

Mais um daqueles extraordinários textos que (infelizmente) parecem ter sido escritos ontem...

Fernando Samuel disse...

maria: Grande POETA e grande MILITANTE...
Beijo.

samuel: O que dirão destes textos os homens de daqui a... 50 anos?...
Abraço.

Anónimo disse...

Só um grande vate, como José Gomes Ferreira consegue, descrever em tão poucas palavras, o sentimento de tantas crianças, que ainda hoje se mantem, para vergonha dos homens.