INFÂNCIA
Não minha mãe. Não era ali que estava.
Talvez noutra gaveta. Noutro quarto.
talvez dentro de mim que me apertava
contra as paredes do teu sexo-parto.
A porta que entretanto atravessava
talhada no teu ventre de alabastro
abria-se fechava dilatava.
Agora sei: dali nunca mais parto.
Não minha mãe. Também não era a sala
nem nenhum dos retratos de família
nem a brisa que a vida já não tem.
Talvez a tua voz que ainda me fala...
... o meu berço enfeitado a buganvília...
Tenho tantas saudades, minha mãe!
José Carlos Ary dos Santos
7 comentários:
Porque podem as palavras fazer doer o peito, muito mais do que uma dor?
sal: não sei porquê, mas é como dizes (quando as palavras são dor de condição humana...)
"De palavras não sei...", dizia ele! Ah, se sabia. E de emoções, e de afectos,e de como os transmitir.
Comovente, este poema.
Como Ary sabia dizer, Mãe!
Tanta nostalgia e saudade. Tanto amor e afecto.
GR
Que maravilha.....
Soberbo!
justine: invade-nos a memória com tantas, tantas recordações, afectos, alegrias, tristezas...
gr: tanta ternura...
maria e antuã: de acordo!
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