POEMA

INFÂNCIA


Não minha mãe. Não era ali que estava.
Talvez noutra gaveta. Noutro quarto.
talvez dentro de mim que me apertava
contra as paredes do teu sexo-parto.

A porta que entretanto atravessava
talhada no teu ventre de alabastro
abria-se fechava dilatava.
Agora sei: dali nunca mais parto.

Não minha mãe. Também não era a sala
nem nenhum dos retratos de família
nem a brisa que a vida já não tem.

Talvez a tua voz que ainda me fala...
... o meu berço enfeitado a buganvília...
Tenho tantas saudades, minha mãe!


José Carlos Ary dos Santos

7 comentários:

Sal disse...

Porque podem as palavras fazer doer o peito, muito mais do que uma dor?

Fernando Samuel disse...

sal: não sei porquê, mas é como dizes (quando as palavras são dor de condição humana...)

Justine disse...

"De palavras não sei...", dizia ele! Ah, se sabia. E de emoções, e de afectos,e de como os transmitir.
Comovente, este poema.

GR disse...

Como Ary sabia dizer, Mãe!
Tanta nostalgia e saudade. Tanto amor e afecto.

GR

Maria disse...

Que maravilha.....

Anónimo disse...

Soberbo!

Fernando Samuel disse...

justine: invade-nos a memória com tantas, tantas recordações, afectos, alegrias, tristezas...

gr: tanta ternura...

maria e antuã: de acordo!