UM, DOIS, TRÊS...

UM
Diz o Público que as propostas apresentadas pela UGT para a revisão do Código do Trabalho «não repudiam as propostas do Governo» e que, no documento apresentado, «não se lê a palavra "inaceitável"».
No entanto, à saída da reunião onde entregaram as suas propostas, os dirigentes da UGT disseram que «tal como estão, as propostas do Governo vão ao encontro das ideias do patronato (...) e, por isso, necessitam de ser clarificadas.»
Compreensivo, o ministro do Trabalho, Vieira da Silva apressou-se a garantir que «as posições governamentais iriam ser clarificadas»...
A confirmar a boa harmonia laboral existente entre a UGT, o Governo e o patronato, «o secretário-geral da UGT, João Proença, afirmou ao Público que as posições da UGT reuniram a compreensão dos parceiros e do próprio Governo.» - que é como quem diz: «Temos Código do Trabalho!»

DOIS
No mesmo Público, José Manuel Fernandes, abordou em editorial o desejado Código.
Recorrendo à cassete do grande capital (que, mais uma vez, mostra saber de cor e salteado) concluiu que «a proposta de revisão do Código de Trabalho vai no bom sentido».
E aplaude o facto de também a UGT estar a ir no bom sentido - ao contrário da CGTP, evidentemente...
Diz ele que «é muito significativo que as atitudes da CGTP e da UGT se revelem tão distintas». E, expelindo modernidade por tudo quanto é sítio, dispara que «a CGTP está, no essencial, agarrada ao passado, às "conquistas" e aos "direitos"»... essas coisas obsoletas, arcaicas, percebem?
Quanto à UGT - prossegue o colaborador do empregador Belmiro - essa, sim!, «dá sinais de compreender como o mundo mudou. E como é mais importante criar postos de trabalho do que proteger "empregos"»...
Ainda assim, o fidelíssimo colaborador da Sonae lança um severo aviso à UGT, porque, segundo ele, «ainda hesita», continuando «a fazer coro com a CGTP» na absurda não aceitação de que «um trabalhador e um empregador cheguem a acordo sobre uma redução salarial.»
Ora, avisa o Director do órgão central da Sonae, tal não aceitação não passa de «um preconceito» velho que, obviamente, não tem em conta essa exigência da modernidade que é a necessidade imperiosa de os «empregadores» aumentarem sempre, sempre, os seus lucros - questão primeira a ter em conta na revisão do Código do Trabalho...
«Preconceito» do qual a UGT deve urgentemente libertar-se - sem o que não cumprirá plenamente a tarefa que lhe foi destinada, em acto de criação, pelos seus progenitores PS/PSD/CDS, mais conhecidos por partidos da política de direita.

TRÊS
Mal o PCP anunciou a apresentação da sua moção, o PS decidiu levar por diante a realização de uma série de «plenários distritais com militantes do partido, para explicar os objectivos do Governo com a revisão do Código do Trabalho».
O primeiro desses plenários - informa o inevitável Público - realizar-se-á amanhã, em Coimbra, tendo como explicadores José Sócrates e o seu ministro do Trabalho.

Até à hora de fecho deste post, não foi possível confirmar se o secretário-geral da UGT participará em alguns desses plenários - e, em caso afirmativo, se o fará na condição de explicador ou de explicando.
Quanto a José Manuel Fernandes, sabe-se que não participará em nenhum dos plenários, por razões que se prendem com o facto de não ser militante do PS.
Nem de qualquer outro partido, aliás.
Como a independência e a isenção de análise lhe exigem, José Manuel Fernandes é, apenas, militante da política de direita.

6 comentários:

Anónimo disse...

Excelente post, fernando samuel.
É assim mesmo. E acho muito curioso sermos acusados de repetitivos quando não temos feito mais que ser obrigados a repetir o que sempre dissemos contra o que "eles", repetidamente, iam fazendo, passo a passo, obrigando-nos a dizer que não aceitávamos aquele passo até porque o seguinte seria o que... vinha mesmo a ser. Bruxo!
E lá teremos nós de repetir, de transcrever, de evidenciar a actualidade do "Manifesto", fresquíssimo com 160 anos porque são velhas e revelhas as práticas de quem explora. Sem pingo de originalidade: poder despedir, baixar os salários, destruir o respeito por horários de trabalho, fazer do trabalhador apenas o depositário de uma mercadoria, a força de trabalho.

Anónimo disse...

Fernando Samuel
Tiraste-me as palavras da boca. Quero dizer, li no Público precisamente essas "peças" jornalísticas o que me fez decidir escrever sobre isso no meu blogue. Felizmente passei por aqui antes e como está muito mais bem escrito do que eu o faria, peço-te licença para copiar este post para o meu blogue
Um grande abraço

Anónimo disse...

Seria bom que os portugueses, tivessem conhecimento do vencimento mensal destes senhores opinadores, para ficarem a perceber melhor, o que os faz falar e defender estas posições, é que para eles, a situação nunca esteve má, antes pelo contrário:-está cada vez melhor.
Manangão

Fernando Samuel disse...

zambujal: o Manifesto até parece que foi escrito hoje...

aristides: não ´preciso pedir licença, camarada - e não concluas que não farias melhor porque o teu blogue «desmente-te»...

josé manangão: eles vivem disso, são mercenários do grande capital...

samuel disse...

Excelente texto!
Como estou sempre pronto para ajudar, já que tanto a UGT como o MInistro do Trabalho querem ser "clarificados", que tal com umas dúzias de ovos na tromba?
Poucas coisas são mais "clarificantes"...

Fernando Samuel disse...

samuel: ou isso.. com a vantagem de as gemas serem amarelas...