POEMA

UMA GOTA NO CAUDAL

Sozinhos, que somos nós?
Gota de água diminuta
sumida da terra enxuta.
Nem a sede de uma boca
pode assim ser saciada,
porque sós não somos nada,
nem fonte de nenhum rio,
nem onda do mar ou espuma,
maré de coisa nenhuma.

Gota a gota a terra bebe,
rompe o ventre e verte um fio,
cresce a fonte e faz-se rio.
Quantas rotas tem o mar?
Quantas vagas a maré?
Quem as conta perde o pé.
Gota a gota. Cada é pouca.
Mas se a vida é una e vária
cada gota é necessária.

Mesmo sós sejamos sempre
uma gota no caudal,
diminuta, fraternal.

Carlos Aboim Inglês

8 comentários:

Anónimo disse...

Desconhecia totalmente a veia poética do camarada Aboim Inglês, palavras profundas de unidade e de futuro!

Justine disse...

Muito belo! Não conheço nada dele, mas acabei de saber que há um livro dele cá em casa.Irei ler...

Sal disse...

Muito bonito.
E muito verdadeiro.
E cada gota é necessária.

Beijinhos

samuel disse...

Lembro-me sempre da afabilidade com que decorreram as poucas reuniões dirigidas por ele, em que participei, onde entre outras coisas se tratava de levar cantigas com versos urgentes a locais absolutamente improváveis...

Anónimo disse...

Foi uma surpresa simplesmente bela. Não o fazia poeta. estamos sempre a aprender e quando se aprende não se morre.

GR disse...

LINDÍSSIMO!
Com uma forte mensagem.

GR

Maria disse...

Muitos milhares de gotas diminutas podem sempre formar um imenso mar de gente...

Fernando Samuel disse...

josé manangão: palavras do nosso futuro...

justine: e vale a pena ler.

sal: gota a gota faremos a vaga...

samuel: bons tempos, esses...

antuã: é bem verdade que Portugal é um país de poetas...

gr: mensagem de esperança, de confiança...

maria: um desses mares de gente desfilará dia 5, em Lisboa...