O MENINO NEGRO NÃO ENTROU NA RODA
O menino negro não entrou na roda
das crianças brancas - as crianças brancas
que brincavam todas numa roda viva
de canções festivas, gargalhadas francas...
O menino negro não entrou na roda.
E chegou o vento junto das crianças
- e bailou com elas e cantou com elas
as canções e danças das suaves brisas,
as canções e danças das brutais procelas.
E o menino negro não entrou na roda.
Pássaros, em bando, voaram chilreando
sobre as cabecinhas lindas dos meninos
e pousaram todos em redor. Por fim,
bailaram seus voos, cantando seus hinos...
E o menino negro não entrou na roda.
«Venha cá, pretinho, venha cá brincar»
- disse um dos meninos com seu ar feliz.
A mamã, zelosa, logo fez reparo;
e o menino branco já não quis, não quis...
E o menino negro não entrou na roda.
O menino negro não entrou na roda
das crianças brancas. Desolado, absorto,
ficou só, parado com olhar de cego,
ficou só, calado com voz de morto.
Geraldo Bessa Victor
7 comentários:
Fala a voz da experiência, isto não só acontecia, como ainda acontece, o que é intolerável!
Já não vai é havendo muitos "Luises Cílias" dispostos a fazer cantigas com palavras como estas, que não sejam apenas para entreter distrair e dispor bem o querido público...
Abraço
Conheço este belíssimo poema.
Começa haver novamente muitos “meninos brancos”.
Os “meninos negros” já eram muitos, mas dia para dia aumenta mais.
GR
Belo poema, mais uma vez tão actual....
josé manangão: e acontecerá... até quando?
samuel: eu bem sabia que te lembrarias... Há quanto tempo!...
gr: são muitas, especialmente, as «mamãs, zelosas»...
maria: não há como os poetas para escrever o belo... e o actual...
E se for preto e comunista?!... E se for preto, comunista e deficiente?!...
antuã: e se for preto, comunista, deficiente, fumador e obeso e...?
Enviar um comentário