POEMA

A BANDEIRA

É preciso que tragam a bandeira.
É preciso que alguém vá até ao fim da noite
e desenterre a bandeira.
Se já não tiver mãos
que rasgue a terra com os dentes
mas que traga a bandeira.
Se já não tiver dentes
que afunde os olhos nessa terra
e lhe arranque a bandeira
que nela está sepulta.
É preciso que os tambores anunciem a chegada da bendeira.

Se não houver tambores
que os mortos se alevantem
e façam rufar seus ossos
em sol altíssimo à chegada da bandeira.

Iluminem iluminem iluminem o caminho da bandeira.
Se as nuvens de baionetas forem trevas no caminho da bandeira
que incendeiem a noite com as pedras da rua
mas que haja luz à passagem da bandeira
para que os olhos vazados vejam a bandeira
para que as bocas rasgadas cantem a bandeira
para que os ferros caiam à passagem da bandeira.


Carlos Maria Araújo

3 comentários:

Sal disse...

Gostei.
Não conheço o autor, mas é bonito.

beijinhos

Maria disse...

É lindíssimo este poema, de um poeta que não conhecia....
Obrigada, Cravo de Abril

Fernando Samuel disse...

sal e maria: Carlos Maria de Araújo nasceu em Lisboa, em 1921, saíu de Portugal em 1929, viveu na Suiça, na Inglaterra e, sobretudo, no Brasil onde praticou o jornalismo. Morreu em 1962 num desastre de avião.Publicou apenas três livros. Este poema é tirado de «Ofício de Trevas».
Beijos.