UMA VEZ EU TIVE UM CRAVO
Uma vez eu tive um cravo
cravado no coração,
e eu não me acordo já se aquele cravo era
de ouro, de ferro ou de amor.
Só sei que ele me fez um mal tão fundo,
que tanto me atormentou,
que eu dia e noite sem cessar chorava
qual chorou Madalena na Paixão.
«Senhor, Vós que podeis tudo -
pedi a Deus numa ocasião -
dai-me valor para arrancar de um golpe
cravo de tal condição».
E deu-mo Deus e arranquei-mo.
Mas... quem pensara?... depois
já não senti mais tormentos
nem mais soube o que era dor;
soube só que não sei quê me faltava
onde o cravo me faltou,
e até penso que tive saudades
ai, meu Deus! da antiga dor.
Este barro mortal que envolve o espírito
quem o entenderá, Senhor!...
Rosalia de Castro
5 comentários:
Não conhecia este poema.
Mas o meu Cravo Vermelho
Não sai do meu coração,
tiro um de vez em quando,
para mostrar muita afeição.
GR
gr: e eu não conhecia esse...
Que grande poema da Rosalia! Muito belo, embora um bocadinho para o masoquista... :))
justine: talvez mais lamento...
Fui à Wikipédia. Sei agora (pouco) quem é Rosalia de Castro.
Não tenho desculpa.
Que vergonha, a minha ignorância.
GR
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