Manhã de Junho

Talvez, talvez sejam os últimos

dias. Se for assim, são um esplendor.

Apesar dos aviões da Nato despejarem
bombas e bombas no Kosovo, a perfeição
mora neste muro branco
onde o escarlate
da flor da buganvília sobe ao encontro
da luz fresca da manhã de Junho.
A beleza (não há outra palavra
para dizê-lo), desta manhã
é terrível: persiste, domina –
apesar dos aviões, mesmo com
bombas a cair e crianças a morrer.

Eugénio de Andrade

7 comentários:

samuel disse...

Quem foi que disse que a beleza havia de salvar o mundo?
Calhando, tinha uma considerável parte de razão...

Abraço

Lúcia disse...

Esta capacidade de ver o pequeno mas belo no meio do horror não está, de facto, ao alcance de todos. Bela lembrança esta, das palavras do grande Eugénio.

GR disse...

Apesar da guerra, do horror e até da morte, havia para o poeta algo onde se podia agarrar para continuar a viver. A beleza (o futuro)!

E foi numa manhã de Junho que Eugénio nos deixou.

GR

Sal disse...

Eugénio de Andrade
Este poeta deixa-me (quase) sempre sem nada para acrescentar..
Que dizer, camarada?

beijinhos

Maria disse...

Talvez sejam...
... o dia 5 está tão próximo...
e o futuro é já agora...

Antonio Lains Galamba disse...

como para ti camarada, bem o sei, o andrade é o meu de eleição. um abraço. ate breve. volto a escrever aqui logo à noite. abraço

João Galamba disse...

Há coisas que se não dizem. E ainda bem que assim o é!!

Abraços,