«LIVRES», DISSE ELE

Na sua boa acção pedagógica de Coimbra, Sócrates disse que «os sindicatos têm de ser livres, independentes de qualquer linha política».
Que é como quem diz: não, como a CGTP e sim, como a UGT.

Depois, seguiu-se a recorrente alusão à «luta contra a unicidade sindical» - que foi, como se diz lá por casa, uma das gloriosas batalhas democráticas travadas pelo heróico e patriótico PS.

Infelizmente, Sócrates não especificou o objectivo real dessa «luta».
Nem os caminhos seguidos pelo PS na sua abnegada defesa dos «sindicatos livres».
Nem especificou, obviamente, que expressões assumiu a intervenção do PS nessa «luta».

Se o fizesse, poderia começar, por exemplo, por referir as ligações, ainda antes do 25 de Abril, de Mário Soares com Irving Brown, na altura representante em Paris da Confederação Sindical dos EUA (AFL-CIO), função que acumulava com a de elo de ligação da CIA à Confederação Europeia dos Sindicatos Livres.
«Livres»: pois...
E poderia referir, também, as ligações de Mário Soares com Vernon Walters, o dipomata-espião - que fora grande amigo de Salazar e de Caetano - e que, logo a seguir ao 25 de Abril, veio a Portugal, onde teve encontros com o PS/Soares e com o PSD - encontros nos quais foram definidas as linhas de intervenção imediata da CIA em Portugal, a saber:
a vinda de Irving Brown para organizar a ofensiva contra os «sindicatos comunistas»;
e a nomeação de Carlucci para embaixador.
A tal operação chamavam eles - todos, em coro síncrono - «o apoio dos EUA à democratização de Portugal».
«Democratização»: pois...
(Entre parêntesis, recorde-se que Brown tinha uma vasta e proveitosa experiência de divisionismo sindical na Europa e que Carlucci era célebre, entre outras façanhas, pela organização do golpe de Mobutu e do assassinato de Patrice Lumumba, em1960, e pelos golpes fascistas do Brasil, em1964, e do Chile, em 1973.)

Depois, seguiram-se as remessas de dinheiro. Muito, muito, muito: milhões de dólares, de marcos, de libras, de coroas, de francos - sempre encaminhados em primeira mão para as mãos democráticas de Mário Soares, e com os quais foi feito tudo o que era necessário, desde a criação de «fundações» do PS, até à criação de empresas várias na área da comunicação, passando, naturalmente, pelo pagamento a homens para todo o serviço...
E sem esquecer, é claro, a criação da UGT! - a tal «independente de qualquer linha política», ou, como também é hábito dizerem, nascida da vontade dos trabalhadores e não dos partidos...

E no congresso fundador da UGT, a zelar pelo bom andamento dos trabalhos e pela independência da UGT em relação a qualquer linha política, lá estavam:
o CDS: Amaro da Costa, Ribeiro e Castro, etc;
o PSD: Sá Carneiro, Amândio de Azevedo, Rui Machete, etc;
e o PS: Mário Soares, António Macedo, Maldonado Gonelha, Edmundo Pedro, Rui Mateus, Marcelo Curto e Alfredo Carvalho.

Sócrates que, em Coimbra, disse o que disse, sabe tudo isto.
Sabe, até, muito mais do que tudo isto.
Pelo que, dizendo o que disse, sabe que está a assumir-se como continuador da ilustre cambada de vendidos que o antecederam nestas andanças.

10 comentários:

Anónimo disse...

Oportunas lembranças!
Sindicatos "livres"? De partidos políticos? Mesmo admitindo que esse seria o objectivo "deles", como explicam a gestação da UGT, criação artificial das cúpulas dos seus partidos?
E já que estamos em lembranças - mais que oportunas - quero acrescentar que esse tal Irving Brown, aliás como tu o dizes, teve papel determinante via-dolares na criação da FO em França logo no pós-guerra, para dividir os trabalhadores, e logo nos primeiros dias de Junho de 1974 andou pelos corredores de Genève, na Conferência Internacional do Trabalho, a rondar os sindicalistas portugueses. Sem êxito. Teve de ter, mais tarde, as ajudas explícitas e desavergonhadas de Mário Soares e Carlucci.
Independentes?, claro!, mas dos interesses dos trabalhadores e de quem os defenda para além de vendedores da mercadoria força de trabalho.

Anónimo disse...

Oportunas lembranças!
Sindicatos "livres"? De partidos políticos? Mesmo admitindo que esse seria o objectivo "deles", como explicam a gestação da UGT, criação artificial das cúpulas dos seus partidos?
E já que estamos em lembranças - mais que oportunas - quero acrescentar que esse tal Irving Brown, aliás como tu o dizes, teve papel determinante via-dolares na criação da FO em França logo no pós-guerra, para dividir os trabalhadores, e logo nos primeiros dias de Junho de 1974 andou pelos corredores de Genève, na Conferência Internacional do Trabalho, a rondar os sindicalistas portugueses. Sem êxito. Teve de ter, mais tarde, as ajudas explícitas e desavergonhadas de Mário Soares e Carlucci.
Independentes?, claro!, mas dos interesses dos trabalhadores e de quem os defenda para além de vendedores da mercadoria força de trabalho.

Anónimo disse...

Oportunas lembranças!
Sindicatos "livres"? De partidos políticos? Mesmo admitindo que esse seria o objectivo "deles", como explicam a gestação da UGT, criação artificial das cúpulas dos seus partidos?
E já que estamos em lembranças - mais que oportunas - quero acrescentar que esse tal Irving Brown, aliás como tu o dizes, teve papel determinante via-dolares na criação da FO em França logo no pós-guerra, para dividir os trabalhadores, e logo nos primeiros dias de Junho de 1974 andou pelos corredores de Genève, na Conferência Internacional do Trabalho, a rondar os sindicalistas portugueses. Sem êxito. Teve de ter, mais tarde, as ajudas explícitas e desavergonhadas de Mário Soares e Carlucci.
Independentes?, claro!, mas dos interesses dos trabalhadores e de quem os defenda para além de vendedores da mercadoria força de trabalho.

Anónimo disse...

Oportunas lembranças!
Sindicatos "livres"? De partidos políticos? Mesmo admitindo que esse seria o objectivo "deles", como explicam a gestação da UGT, criação artificial das cúpulas dos seus partidos?
E já que estamos em lembranças - mais que oportunas - quero acrescentar que esse tal Irving Brown, aliás como tu o dizes, teve papel determinante via-dolares na criação da FO em França logo no pós-guerra, para dividir os trabalhadores, e logo nos primeiros dias de Junho de 1974 andou pelos corredores de Genève, na Conferência Internacional do Trabalho, a rondar os sindicalistas portugueses. Sem êxito. Teve de ter, mais tarde, as ajudas explícitas e desavergonhadas de Mário Soares e Carlucci.
Independentes?, claro!, mas dos interesses dos trabalhadores e de quem os defenda para além de vendedores da mercadoria força de trabalho.

Anónimo disse...

Mas a maioria dos trabalhadores portugueses não quer nada com esses "sindicatos livres" apesar de tanta propaganda e de tanto dinheiro!...

O Puma disse...

Sócrates só ainda não teve

coragem para propor ao p.s.

a revisão do seu projecto

e estatutos

em consonância com o liberalismo

exarcebado que graça na chamada

europa faz de conta

samuel disse...

É tudo gente com percursos extraordinariamente "livres"...

Anónimo disse...

Peço desculpa do engarrafamento que provoquei com o meu gaguejar...
Por favor, apanhem as três cópias do comentário orgiginal...
Abraços

Sal disse...

Fernando Samuel:

de uma só cajadada mataste vários coelhos.

excelente post, como sempre.

beijinhos

Fernando Samuel disse...

zambujal: não é verdade que as verdades devem ser repetidas e repetidas e repetidas?...
(onde escrevi Mobutu devia ter escrito Tshombé...)

antuã: mesmo assim ainda enganam muita gente séria, infelizmente.

o puma: talvez não sinta necessidade de fazer isso: fazer o contrário do que diz,ou escreve, é a especialidade dele...

samuel: libérrimos...

sal: e muitas cajadadas são necessárias...