FRACTURAR OU NÃO FRACTURAR

Eis a grande notícia do Diário de Notícias (DN) de hoje, gritada na sua primeira página:

«Bloco abre Parlamento com temas fracturantes»
«Louçã apresenta hoje leis para casamentos "gay" e uniões de facto»

Depois, em página interior o DN desenvolve a notícia à maneira...
A dada altura, talvez tocado por não sei que remoto problema não sei de que consciência, o DN sente-se obrigado a dizer - para não se dizer que não disse... - que «ontem, o PCP apresentou um pacote de nove diplomas que proporá no Parlamento» - e por aí se fica em relação aos «nove diplomas» do PCP, logo voltando ao seu objecto de estimação: «hoje o Bloco de Esquerda toma idêntica iniciativa».
Recorde-se que, neste caso, «idêntica iniciativa» significa «casamentos "gay"» e «uniões de facto»...

Como é sabido, o DN pela-se por «temas fracturantes» - como são os do BE - e não suporta temas não fracturantes - como são os do PCP.
E estou em crer que o dono do DN tem a mesma opinião...

E têm razão: na verdade é muito mais divertido fracturar do que não fracturar.
E, francamente, aquelas questões chatas que os comunistas querem pôr à discussão já chateiam: é sempre a velha cassete, não sabem falar de outra coisa, não percebem nada de modernidade...
Digam lá se faz algum sentido, se tem alguma piada, pôr à discussão no Parlamento coisas como estas que o Avante! anuncia:

«Alargamento dos critérios de acesso e prolongamento do período de atribuição do subsídio de desemprego»;
«alteração dos aspectos negativos do Código do Trabalho e da legislação laboral da Administração Pública»;
«aumento dos salários, nomeadamente do salário mínimo nacional»;
«combate à precariedade»;
«valorização das pensões de reforma, salvaguarda do direito à reforma aos 65 anos e possibilidade da sua antecipação sem penalizações para carreiras contributivas de 40 anos»; «revogação do Estatuto da Carreira Docente, alteração do modelo de avaliação dos professores e revogação da lei de financiamento do Ensino Superior»;
«alteração do regime tributário das grandes empresas, bem como das micro, pequenas e médias empresas, no sentido de uma maior justiça fiscal»...

Como se vê, tudo temas chatos, chatérrimos, não fracturantes - e que, por isso mesmo, não merecem ser «notícia», e muito menos de primeira página...
Os «temas fracturantes», esses sim: são divertidos, dão bagunçada... - e, acima de tudo, não tocam em nada de estruturante...

7 comentários:

Anónimo disse...

Pois, estáo sempre a procurar comer as papas na cabeça do pessoal.
O pior é que vão espalhando alguma confusão.
Mas, digam lá se há alguma coisa mais moderna no mercado do que os óculos faiscantes do guru louçã ou o cachimbo displicente do rosas.
Digam o que disseram não há nada mais charmoso do que a esquerda caviar.

Campaniça

samuel disse...

O caviar é um petisco extremamente sobreavaliado! Para o meu gosto, claro...

Abraço.

Maria disse...

E pensar que vamos levar 4 anos com este tipo de 'temas fracturantes'...
Será que na AR há stock suficiente de talas, ligaduras e gesso? Só para o caso de... fracturarem alguma coisita...

Um beijo grande

Zé Canhão disse...

O melhor é fracturar a tromba aos responsáveis do DN.

filipe disse...

Todos eles gostam muito de "fracturar", pois isso é que lhes permite facturar...
E, em geral, os seus donos são generosos a pagar-lhes estes sujos trabalhinhos...
Abraço.

Fernando Samuel disse...

Campaniça: a esquerda que mais interessa à política de direita...
Um beijo.

samuel: se é!...
Um abraço.

Maria: e tudo fracturas ... expostas...
Um beijo grande.

Zé Canhão: é uma hipótese...
Um abraço.

filipe: de facto,estas «fracturas» vêm sempre ligadas às respectivas «facturas»...
Um abraço.

Ana Camarra disse...

Mas o que é isso comparado com o tema fracturante?!
Salários?! Carreira Docente?!Justiça Fiscal?!

Ninharias...