POEMA

DEIXO AO MIGUEL AS COISAS DA MANHÃ


Deixo ao Miguel as coisas da manhã -
a luz (se não estiver já corrompida)
a caminho do sul,
o chão limpo das dunas desertas,
um verso onde os seixos são
de porcelana,
o ardor quase animal
de uma romã aberta.


Eugénio de Andrade
(«O Peso da Sombra» - 1982)

4 comentários:

samuel disse...

Quanto vale um testamento assim?

Abraço.

Maria disse...

Pensando bem, esta era a herança que gostaria de receber (ou de ter recebido)...

Outro beijo grande

Fernando Samuel disse...

samuel: não tem preço...
Um abraço.

Maria: e quem não gostaria?...
Um beijo grande.

Ana Camarra disse...

Uma herança sem preço!