POEMA

SONETO DA METAMORFOSE


Mãos, simples mãos, moldaram os meus versos
e pés humanos pisam o que escrevo.
Aos outros que conquistem universos
e a mim que pague ao povo o que lhe devo.

Mesmo que os dias sejam adversos,
é um trevo a missão a que me atrevo,
dia e noite seus gestos são diversos
- detesta o escuro, de dia abre-se o trevo.

Abre-se como o pranto, como as fontes
que irrompem das montanhas e dos montes,
descem aos vales, vão até às casas...

Um soneto estremece a manhã cálida
e o povo, num silêncio de crisálida,
forja, no sofrimento, as suas asas.


Sidónio Muralha

6 comentários:

Anónimo disse...

Voando para a liberdade!
Este soneto do Sidónio Muralha é muito profundo!
abraço grande

Ana Camarra disse...

Fernando Samuel

Este Soneto é devastador, tem uma força incrivél, fabuloso, adorei!
Obrigado

Beijos

samuel disse...

E abre-as... e vai...

"lo más terrible se aprende en seguida
y lo hermoso nos cuesta la vida.
La última vez lo vi irse
entre el humo y metralla,
contento y desnudo:
iba matando canallas
con su cañón de futuro."
(Sílvio Rodriguez)

Maria disse...

O último verso pode ensinar-nos tanto...
Forjemos então as asas para um dia podermos voar...

Um beijo grande

Anónimo disse...

Forjando asas no caminho da Liberdade...
Abraço

GR disse...

“pés humanos pisam o que escrevo”
“forja, no sofrimento, as suas asas”
Lindo poema!

Fernando Samuel,
Contigo aprendi a conhecer melhor este grande poeta.

Bjs

GR