POEMA

A MENINA

Sou eu que bato às portas,
às portas, umas após outras.
Sou invisível aos vossos olhos.
Os mortos são invisíveis.

Morta em Hiroxima
há mais de dez anos,
sou uma menina de
sete anos.
As crianças mortas não crescem.

Primeiro arderam os meus cabelos,
também os olhos arderam, ficaram calcinados.
Num instante fiquei reduzida a um punhado de cinzas
que se espalharam
ao vento.


No que diz respeito
a mim,
nada vos imploro:
não podia comer nem sequer bombons,
a criança que ardeu como papel.
Bato à vossa porta, tio, tia:
uma assinatura. Não matem as crianças
e
deixem-nas também
comer bombons.

Nazim Hikmet

6 comentários:

Delfim Peixoto disse...

Deixem-nas sim...
Não conhecia o autor
Abraço

Justine disse...

Pungente, este poema do Hikmet.
Abraço para ti, porque o publicaste, hoje.

samuel disse...

Se pudermos aprender com o passado...

Maria disse...

Não tenho palavras, mas estou cheia de lágrimas....

Um beijo

Fernando Samuel disse...

delfim peixoto: obrigado pela visita que, com muito agrado, retribuí - e voltarei.
Abraço.

justine: hoje era o seu dia...
Um beijo.

samuel: é uma aprendizagem difícil...

maria: um beijo grande.

Anónimo disse...

Camarada há poucos dias em conversa com amigos lembramo-nos do Hino de caxias cuja letra eu não sabia de cor e foi em busca da letra, para a decorar, que descubri o teu blogue! gostei muito e continuei a lê-lo.

Em relação a este poema...

É um poema que já conhecia descubri-o através dos agua viva que têm uma versão musicada dele. É uma versão muito forte!

Não sei se conheces mas vou, quando tiver blogue, passa-la para mp3 e disponibiliza-la!

Um abraço muito forte, cheio de camaradagem!

Parabens pelo excelente blogue!

David