SEIS NOTAS

Seis notas, a propósito de alguns comentários de desacordo e desagrado com o conteúdo dos meus dois post's relacionados com a terrível tragédia que se abateu sobre a Madeira e os madeirenses:

1 - a importância do Turismo na economia da Madeira é um facto incontestável e que, por isso, tem que ser tido em conta, inevitavelmente, em todo o processo de resposta às consequências da catástrofe.
Não deve ser, no entanto, na minha opinião, a prioridade das prioridades, como está a acontecer - e muito menos nos termos brutais e desumanizados que o boçal Jardim tem vindo a utilizar.

2 - perante uma tragédia com as dimensões e a gravidade humanas desta - em que milhares de pessoas ficaram mergulhadas no sofrimento e na dor; na perda irreparável de familiares, amigos e vizinhos; e totalmente desprovidas dos meios mais elementares de subsistência; de habitações; de acessos, etc. - as prioridades em todo o tipo de apoios devem ser, antes de tudo, para essas pessoas.

3 - ora, as notícias que chegam mostram que não é assim: «na Madeira, a prioridade é "lavar a cara" do Funchal para turista ver», diz o insuspeito Público - e dizem, por outras palavras, todos os outros igualmente insuspeitos jornais.

4 - outra questão é a da reconstrução.
Nesse sentido, não pode esquecer-se o passado: os crimes urbanísticos e de ordenamento do território, a total ausência de medidas preventivas em relação a flagelos como o de sábado passado.
Nem podem esquecer-se os alertas que foram sendo lançados - designadamente, por eleitos da CDU - e aos quais o governo regional e as suas sucursais espalhadas pela região fizeram orelhas moucas, dando prioridade aos negócios...

5 - as declarações ainda ontem proferidas por Jardim sobre essa matéria são mais do que preocupantes: para ele, a sua obra é o expoente máximo da excelência, tudo estava bem e é preciso voltar a fazer tudo igual, eu é que sei, mandem para cá o dinheiro e calem-se...

6 - sobre o assunto, aqui ficam opiniões de dois técnicos (insuspeitos, também, e citados pelo Público):

a) - Danilo Matos, ex-directos do Gabinete de Planeamento da Câmara do Funchal:
«A Madeira não pode ser a mesma depois de 20 de Fevereiro. Tem que ser estrategicamente planeada para fazer face a este tipo de catástrofes (...) A construção deve ser entregue a quem sabe, pondo um ponto final no aproveitamento político e no oportunismo de alguns».

b) - Raimundo Quintal, Geógrafo:
«Parte do que agora aconteceu é o resultado de 33 anos de Madeira "nova" - uma Madeira sem modelo, sem planeamento e governada para ganhar eleições».



Mais palavras para quê?
Só não vê quem não quiser ver.

12 comentários:

svasconcelos disse...

Excelente post, o teu. Certeiro na análise, preciso nos factos. A primeira declaração pública de João Jardim foi mais ou menos isto: " Não pode passar lá para fora esta imagem de calamidade, palavra que eu não disse- acrescentou - isto tem de ser resolvido internamente, bla, bla, bla". Tinham passado poucas horas da morte de dezenas de pessoas, outras tantas desaparecidas, danos pessoais e materiais irreparáveis, lágrimas imensas num povo amedrontado e devastado... e nem uma palavra afectuosa de conforto, de encorajamento à população!
Que se ouviu? "Turismo, imagem lá para fora, festa da flor em Abril" e, que grande lata!, "reconstruirei tudo igual outra vez", sem reconhecer que é preciso repensar o ordenamento face às características orográficas e climatéricas da ilha.

Um beijo, Fernando Samuel.

Antuã disse...

Excelente este teu texto. Espero que não restem dúvidas sobre quem atempadamente deu alternativas para a ordenação do território e do urbanismo.

Antonio Lains Galamba disse...

aposto que muitos continuam a não querer ver... muito ao jeito do que cantava o J M Branco, no seu FMI!

abraço

samuel disse...

Muito bem!
Só não vê, realmente, quem não quer... mas infelizmente, há muito quem não queira.

Abraço.

Melo disse...

Olá a todos:
Realmente o que aconteceu na Madeira foi uma enorme tragédia natural(uma força da Natureza).
O que aconteceu foi um recado aos seus governantes que, como dizes no post, é de uma política de muitos anos de autentico, eu mando, posso e quero.
Depois de gastarem milhões e milhões de euros, sendo que a dívida estava a zero, como foi possivel tal aumento de dívida?
vem agora este senhor (democrata)exigir cada vez mais dinheiro dos contribuintes do continente enquanto este dito senhor cobra 14%Em IVA no seu país.
(desculpem, queria dizer ilha) rsrsrs
Isto prova que este jardim... è pior que o 1º Ministro no que toca ao control da informação.

Afinal quem é mais que...
Um abraço a todos
camaradas
Melo

Graciete Rietsch disse...

Querido camarada tocaste no ponto funamental. A ânsia do lucro e o comportamento arrogante do líder deram uma ajuda tremenda ao desastre natural. O que aconteceu na Madeira aconteceu no Haiti. A ganãncia do ser humano, surdo aos alertas e conhecimentos que a Ciência cada vez mais vai desvendanao, ainda há-de destruir o planeta e a espécie humana.
Gosto muito dos teus postes camarada e nunca deixo de os ler.

Um beijo.

Maria disse...

O ordenamento do território e os interesses do capital são incompatíveis. É isso... e não é só na Madeira.
Clarinho, o teu post.

Um beijo grande.

GR disse...

O pior cego é, aquele que não quer ver!
Ao menos se seguissem os pareceres dos técnicos.
Não é só cegueira, há muito egoísmo e desumanidade.

Excelente post.

Bjs,

GR

leitor não identificado disse...

Faço este derradeiro comentário e não voltarei mais cá:

Fico pasmo com um artigo "de blog" tão bem escrito e fundamentado com ideias vagas e infundadas o que o torna descalabrado (queiram o senhor que escreve e consequentes comentadores desculpar que o diga, depois não chateio mais)

Ponto 1:
Quando escreve que o turismo não pode ser a prioridade das prioridades afirma que se baseia numa opinião, a sua. Eu conheço a realidade da Madeira, tenho familiares "brindados" por este temporal, casos próximos que sentiram na pele o que toda a gente diz que imagina, e foram-lhes garantidas todas as condições muito antes de qualquer ajuda "nacional ou internacional".
Essa garantia permanecerá válida e quem o comprova são experiências passadas porque aqui ninguém é esquecido por muito que custe a admiti-lo.
Ao fim de menos que uma semana temos quase recuperadas todas as vias de acesso, transportes públicos, as lojas reabriram e as cidades estão quase completamente limpas (o "quase" ainda vai aparecendo nos telejornais que os senhores assistem e fazem capas de Visão e Público)

Resumo todos os seguintes pontos com este conselho que não passa disso, um conselho:
Não se deixem influenciar por tudo o que o Público e restante comunicação social faz chegar a "pessoas capazes"

eu poderia ainda perguntar "quais crimes urbanísticos" e quais os políticos que deram "o alarme" antes da tempestade (porque essas coisas ficam registadas) e onde eles estão agora mas seria retórica, não espero resposta de quem não a tem (até porque não a irei ler).
O Raimundo Quintal é um senhor que já andou nas lides políticas regionais, pessoa preocupada essencialmente com o ambiente e ainda assim posso afirmar que esse excerto está fora de contexto! O outro senhor, Danilo Matos, não conheço e nunca ouvi falar (mas gostei do que ele disse apesar de tão vago e tão vasto).

Também tenho uma sugestão:
São vozes como a vossa que dão razão e força àquele "abjecto governador"... como são sempre os mesmos que escreve (no singular) e comentam, porque não arranjam um quarto e vão conversar para lá? (sei que não obrigam a frequentar estas modernices dos blogs e por isso vou fazer valer esse meu direito, até sei que me agradecem)

O senhor que fez o comentário do "Fundo Monetário Internacional" acertou no que disse mas terá essa consciência? Como se costuma dizer, acertou sem saber... e mais não digo.

poesianopopular disse...

Tudo é consequência DE...
Neste caso o desrespeito pela Natureza, que ainda não é considerado crime, teve este desfecho trágico, que pelos vistos não vai servir de emenda porque o desconhecimento de uns e o egoismo e o interesse de outros leva-os a esquecer, porque a festa da flôr está para breve.
Qual a diferença, entre uma vida, e uma flôr?
O grande mal é que:nesta terra, a culpa é sempre do destino.
Abraço

Crixus disse...

Só agora li os posts e concordo plenamente. Alias, há ainda muito que podia ter sido dito e não foi por respeito ao sofrimento dos madeirenses, na minha opinião. O facto é que segundo um estudo de 2008, e apesar de todos os benificios do turismo (para as contrutoras, empresas de retalho, centros comerciais, berardos, jorges sás, pestanas e etc) mais de metade da população da Madeira vive em risco de pobreza e 15% em situação de pobreza persistente, e isto apesar das operações de maquilhagem da realidade e das megatrasferencias de dinheiro para a RAM. Apesar de tudo, agora o que importa é recontruir as vidas das pessoas afectadas e ignorar o AJJ, que também tem os seus indefectiveis, como se vê.

Um abraço

Fernando Samuel disse...

smvasconcelos: de facto, só quem não quiser ver é que não vê...
Um beijo.

Antuã: entre as pessoas lúcidas não há dúvidas...
Um abraço.

António Lains Galamba: há quem só veja o que lhe dizem que deve ver...
Um abraço.

samuel: e esses lá caminham para o barranco...
Um abraço.

melo: os defensores do capitalismo são todos gémeos...
Um abraço.

Graciete Rietsch: é a ganância do grande capital...
Um beijo.

Maria: basta olhar aqui para o Continente...
Um beijo grande.

GR: há negócio...
Um beijo.

leitor não identificado; se não volta mais cá, passe bem.

poesianopopular: quando os negócios prevalecem sobre as pessoas, é nisto que dá...
Um abraço.

Crixus: De acordo.
Um abraço.