O MONSTRO

A tragédia que, no sábado, se abateu sobre a Madeira, deixou atrás de si um imenso rasto de destruição, de sofrimento, de dor, de angústia, de morte - um rasto, contudo, ainda não completamente identificado, dado que o número anunciado de desaparecidos - 250 - faz temer que a perda de vidas possa vir a ser muito maior do que a que é conhecida.

A solidariedade para com as vítimas da catástrofe - solidariedade em múltiplos aspectos e vertentes - coloca-se, agora, como a questão maior - e foram várias as manifestações de disponibilidade solidária concreta que, logo desde sábado, começaram a surgir.

No entanto, há que não deixar no esquecimento algumas questões fundamentais.
As catástrofes naturais são, no essencial, inevitáveis - mas as suas consequências são, por vezes em parte grande, evitáveis.
Basta para isso que, quem de direito, tome as medidas preventivas capazes de atenuar, ou até evitar, parte dessas consequências - e isso, regra geral, não é feito.
Assim aconteceu no Haiti, como na altura aqui sublinhámos, e assim aconteceu agora na Madeira.

«A dimensão desta catástrofe não pode estar dissociada das políticas criminosas e irresponsáveis do governo autónomo do PSD na gestão urbanística do território»: afirmou, no sábado, o dirigente comunista Edgar Silva, que acrescentou terem sido «cometidos vários erros no que respeita ao ordenamento do território, nomeadamente na gestão do litoral, na ocupação de margens e estrangulação de ribeiras e desvios de linha de água».

E não se trata, no caso de Edgar Silva, nem de estar a falar de cor nem de estar a falar depois do mal feito...
Bem pelo contrário: trata-se de uma afirmação responsável feita por uma pessoa responsável.
Ainda há pouco mais de dois anos, Edgar Silva, enquanto vereador da CDU na Câmara do Funchal, apresentou numa sessão camarária uma proposta - amplamente fundamentada no historial de desastres naturais que, ao longo do tempo, têm atingido o concelho do Funchal e toda a Região Autónoma da Madeira - visando «a elaboração da Carta de Riscos do concelho do Funchal, instrumento este que deverá definir as zonas de maior ou menor risco à acção da Natureza e do Homem, definindo claramente, entre outras vertentes, as áreas abrangidas por risco de incêndio florestal, cheias (ribeiras), aluviões, erosão costeira e risco de acidente industrial».
Tivesse esta proposta sido aprovada e levada à prática e certamente as consequências da catástrofe de sábado teriam sido muito menores e muito menos graves.

Mas, obviamente, essas não eram - nem são - as preocupações de Alberto João Jardim - que, igual a si próprio: abominável, pediu ontem aos jornalistas para «evitarem dramatizações» em torno da tragédia, de modo «a não prejudicar a imagem da Madeira no exterior», isto é: de modo a não prejudicar o turismo...
A confirmar que um monstro é um monstro: em todas as circunstâncias.

11 comentários:

samuel disse...

Em cheio! Tenho evitado escrever sobre a Madeira... mas estou a chegar ao limite.

Abraço.

Maria disse...

Dramático é esse senhor ser presidente do governo regional. A Madeira merecia muito melhor.

Um beijo grande.

João Moreira disse...

nós, comunistas, deviamos estar já habituados a que só nos ouçam depois das coisas acontecerem...

João Moreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Antuã disse...

O Alberto João sempre igual a si próprio.

svasconcelos disse...

Obrigada pelo teu post. De momento nem consigo comentá-lo à altura, porque continuo abalada na medida em que ainda tenho, no Funchal, familiares isolados. Mas ressaltou-me já a imbecilidade de um inergúmeno a n querer declarar estado de calamidade por razões de imagem exterior (???), a não assumir falhas de ordenamento, inexistência de um radar metereológico, e mais: a não endereçar palavras de alento e afecto a um povo que está fragilizado, assustado e num sofrimento inimaginável.
beijo.
:(

poesianopopular disse...

Esta catástrofe teve o seu inicio, quando elegeram o monstro pela primeira vez!
Abraço

Merengue Vermelho disse...

Camarada, esta muito bom o teu post, apenas tenho uma correção a fazer, Edgar Silva é deputado na Assembleia Legislativa Regional e não Vereador na CM do Funchal, o vereador CDU na Camara é o camarada Artur Andrade.

Saudações

Merengue Vermelho

GR disse...

Há dias em que J. Jardim incomoda, irrita, enfurece mais.
O absurdo é ridículo, o desrespeito é grande ao mencionar o número de mortos que para Jardim decresce diariamente, para não prejudicar o turismo.
Não sei como o camarada Edgar e todos os outros camaradas aguentam!
Como diz a Maria: “A Madeira merecia muito melhor”

Bjs,

GR

Graciete Rietsch disse...

Já fiz um comentário semelhante em relação ao Haiti. Quantos atentados criminosos contra a Natureza se cometam todos os dias apesar dos avisos e alertas!!!!!!
E depois quem sofre? Sempre os mais desfavorecidos.
O João Jardim é um autêntico monstro ao tentar minimizar a terrível catástrofe que se abateu sobre a MAdeira.
Um beijo trise porque é difícil desligar das calamidades (não só naturais) de que somos vítimas todos os dias.

Fernando Samuel disse...

samuel: tanto que tem (e não tem) sido escrito...
Um abraço.

Maria: ninguém merece uma coisa daquelas.
Um beijo grande.

JMM: ainda se nos ouvissem mesmo depois...
Um abraço.

Antuã: repelente...
Um abraço.

smvasconcelos: um beijo muito solidário, para ti, camarada.

poesianopopular: um forte abraço.

Merengue Vermelho: claro, e quem apresentou esta proposta foi o Artur Andrade.
Um abraço.

GR: Portugal merecia muito melhor...
Um beijo.

Graciete Rietsch: um beijo triste.