POEMA

SERENIDADE


Serenidade podre como um peixe a boiar.
Paisagem de papel azul esconde a paisagem humana.
As árvores tormentadas são pintadas de luar
e os frutos são de cera, e os ninhos de porcelana.

Serenidade da violência mascarada de afago,
serenidade dos gritos camuflados de trilos,

serenidade como o espelho de um lago
infestado de crocodilos.


Sidónio Muralha

(«Companheira dos Homens» - 1950)

6 comentários:

poesianopopular disse...

Fizeste de prepósito? é que se esta poesia tivesse sido escrita hoje, ela identificava o momento presente na perfeição.
A visão do Sidónio Muralha, era de um verdadeiro homem comunista.
Obrigado camarada!
Abraço

Maria disse...

Uma serenidade como a paz podre que começa a fermentar para depois explodir nas ruas, em Luta! É isso!

Um beijo grande.

Graciete Rietsch disse...

Eu acho que hoje existe uma grande revolta camuflada pelo conformismo.
O povo esquece-se da sua força porque migalha aqui, migalha ali, lá vai sobrevivendo.
É preciso, é urgente,denunciar "essa serenidade infestada de crocodilos" que Sidónio Muralha tão bem descreve.
Um beijo camarada.

samuel disse...

A paz podre já foi descrita de muitas formas; mas esta...

Abraço.

GR disse...

Quando a falsa paz é imposta vai crescendo o inconformismo e com ele a revolta.
Temos que ser prudentes quando a agitação estalar nas ruas, haverá muito joio no meio do trigo!

Mais um belíssimo e intemporal poema.

Bjs,

GR

Fernando Samuel disse...

poesianopopular: ele - o Sidónio Muralha - é que fez de propósito...
Um abraço.

Maria: e explodirá, mais tarde ou mais cedo...
Um beijo grande.

Graciete Rietsch: no meio da política de direita, os crocodilos espreitam...
Um beijo.

samuel: ...é notável...
Um abraço.

GR: quando isso chegar...
Um beijo.