POEMA

COMPANHEIRA DOS HOMENS


A poesia dos senhores que propagam o nevoeiro e confundem as gentes
poesia tão pessoal como uma escova de dentes,
a poesia que eles queriam guardar nas suas casas
numa gaiola, como um pássaro a quem mutilassem as asas,
a poesia quebrou as algemas e saiu da prisão
e arrastou-se nas trincheiras, e dormiu nos campos de concentração,
e amou aqueles que negam mas que nunca se renegaram,
e conheceu prostitutas que nunca se entregaram,
e comeu na malga dos soldados aquela sopa de massa
que é igual para todos como o pré e a desgraça.

E os homens aprenderam nas noites de inclemência
a cantar os seus versos, a recitá-los de cor,
e a murmurá-los nessas horas em que tudo é confidência
e em que cada palavra ganha uma ressonância maior.


Sidónio Muralha

(«Companheira dos Homens» - 1950)

7 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Como sempre mais uma maravilhosa bandeira de luta.
Obrigada.

Maria disse...

A poesia é uma forma de luta. E este poema é muito forte!

Um beijo grande.

poesianopopular disse...

Porra! Que grande ode revolucionário!
Alguem tem dúvidas que o Sidónio Muralha, ainda se encontra entre nós?
Abraço, para ti,para nós!

svasconcelos disse...

Não se pode aprisionar a poesia, ela "está rua" e no coração dos homens...
beijo,

samuel disse...

É no que dá quando "os poetas são os próprios versos dos poemas"...

Abraço.

Mar Arável disse...

Sempre

Fernando Samuel disse...

Graciete Rietsch: a confirmar que a poesia é uma arma...
Um beijo.

Maria: a poesia de Sidónio Muralha (e de muitos outros poetas) deu uma grande ajuda à nossa luta contra o fascismo.
Um beijo grande.

poesianopopular: neste momento, está aqui mesmo ao pé de mim...
Um abraço.

smvasconcelos: está em tudo o que é humano...
Um beijo.

samuel: pior ainda se «cada poema é uma bandeira desfraldada»...
Um abraço.

Mar Arável: SEMPRE!
Um abraço.