COMPATRIOTA
Que todos os meus anseios de poeta
possam cair no teu regaço,
velha lutadora, velha analfabeta
que não sabes dos versos que te faço.
Vejo-te de joelhos,
de joelhos e de mãos postas,
de joelhos e de mãos postas num velho esfregão
lavando, lavando casas...
A tua cabeça branca é uma acusação
- passa um poeta - e a acusação tem asas.
Velha que conheceste algumas gerações
e devias ser tratada como os doentes e as crianças
- atira o teu esfregão contra os nossos corações
e grita nos meus versos agudos como lanças.
Sidónio Muralha
(«Companheira dos Homens» - 1950)
7 comentários:
Saudações proletárias!
Que belo e que violento!
Cortante!
Dar asas às acusações. Continua a ser fundamental!
Abraço.
Dizer-te que adoro este poema é banal... que seja, é que adoro mesmo. Pela crítica "bela e violenta" como definiu a Justine e sempre actual.
beijo,
Por vezes fico a pensar, como escrevería hoje o Sidónio Muralha?
Decerto que os gritos seriam mais agudos e as setas mais afiadas, se possível fosse.
Abraço ao guerreiro!
Fortíssimo! E tão belo...
Um beijo grande.
ip16: iguais saudações para ti.
Um abraço.
Justine: assim como um murro...
Um beijo.
samuel: e os poetas são aves...
Um abraço.
smvasconcelos: e eu também o adoro.
Um beijo.
poesianopopular: os problemas de hoje são tão... iguais aos de então...
Um abraço.
Maria: belíssimo...
Um beijo grande.
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