Manuel António Pina (MAP) publicou no Jornal de Notícias de ontem uma crónica sobre a «manifestação», promovida por uns tantos blogues e cidadãos de Direita e anunciada para quinta-feira junto à Assembleia da República.
A crónica de MAP - excelente, pertinentíssima e, como sempre, muito bem escrita - provocou reacções de desagrado. Pelos vistos tantas e tão fortes que o autor sentiu necessidade de voltar ao assunto, hoje.
Infelizmente, voltou mal.
Sublinhando que o seu mal é ter memória - «o meu mal é andar por jornais há muito tempo» - MAP relembra casos semelhantes aos que, agora, surgiram em matéria de atentados à «liberdade de informação»- e que não mereceram manifestações de protesto, designadamente da parte dos promotores da manifestação de quinta-feira.
E cita, muito a propósito, alguns casos: «quando Marques Mendes ditava à RTP o alinhamento do Telejornal»; ou «quando Cavaco procurava calar o "Independente"».
Certíssimo. E podia, se quisesse, multiplicar por muitos os casos citados.
Eis senão quando, talvez por não conseguir livrar-se da tentação de fazer anticomunismo - que, como se sabe, é uma prática que serve para muita coisa e serve e alimenta muita gente... - MAP acrescenta aos dois casos anteriores um terceiro que explicita assim: «quando o PCP fez o mesmo na República» (leia-se: no jornal República).
Trata-se de um acrescento obviamente a despropósito.
Porquê?
Em primeiro lugar, porque, como sabe quem tem memória ou quer estar informado, em torno do chamado «caso República» foram organizadas muitas e muitas manifestações e concentrações e provocações - a começar nas gritarias histéricas orquestradas por provocadores profissionais (especialmente a dupla Mário Soares & Cia...), em frente ao República, e a terminar nas homilias proferidas por todo o País...
Confesso que me espanta o facto de MAP - que, certamente, já nessa altura andava por jornais - não ter visto o que se passou e ter gravado na memória apenas... o que não se passou.
Estamos a falar de um tempo, recorde-se, pródigo no desenvolvimento de campanhas e organização de provocações, regra geral encabeçadas pela dupla Soares & Cia..., com o objectivo de criar a ideia, cá e no estrangeiro, de que o PCP estava a liquidar a democracia e a instalar uma ditadura...
Ora, o chamado «caso República» é precisamente uma dessas provocações - hoje abundantemente desmontada - organizada e utilizada pela referida dupla Soares & Cia..., para espalhar cá, e levar a todo o mundo, essa imagem sinistra dos comunistas portugueses - e, assim, alimentar a contra-revolução de que Soares foi o chefe - no plano nacional, obviamente...
Espanta, por isso, que um homem informado, como é suposto ser MAP, revele tamanha desinformação.
Com tudo isto, estou em crer que o maior mal de MAP não é o de «andar nos jornais há muito tempo» - mas sim o de, andando por lá já nesse tempo, não ter conseguido enxergar, ali mesmo, a meio palmo do seu nariz, uma tão descarada provocação.
11 comentários:
Não conseguem resistir... e como dizes, vai dando o pãozito para a boca.
Abraço.
É preciso que a História dos tempos recentes fique escrita. Fidedignamente escrita. Para memória e estudo futuro.
Um beijo grande.
Eles enxergar, enxergar... até enxergam. Dá-lhes é jeito fingir que não.
Um abraço
Com o MAP não se percebe se é no melhor pano que cai a nódoa se é nas nódoas que cai o bom pano...
O MAP dá uma no cravo outro na ferradura. o patrão dele não está com o pé quieto!...
era preciso acabar com o jornal «A REPÙBLICA», para logo de seguida Formarem O joral «ALUTA», só com gente tipo «Soares &Companhia».
Esta gente já perdeu a noção do ridículo, ou será uma questão de carácter?
Abraço
Francamente não entendo o MAP. Mesmo que seja um “gancho” ninguém quer perder o emprego.
Por estes lados (Norte) há novamente uma epidemia do vírus do medo, também conhecido por, “anticomunismo crónico”. É terrível!
Bjs,
GR
Eu gostava muito do MAP. Tenho ideia de uma Crónica dele com o nome 26 de Abril que,na altura, apreciei bastante. E de muitas outras. Por isso sinto uma grande tristeza quando ele se vira para o anticomunismo. Não quero encontrar nele razões que justifiquem essas atitudes Fico mesmo triste.
Um beijo camarada.
samuel: é a chamada «atracção fatal»...
Um abraço.
Maria: há muito que escrever... - e, especialmente, há muito que insistir na desmontagem das falsidades.
Um beijo grande.
alex campos: se calhar...
Um abraço.
do zambujal: ou uma ou outra...
Grande abraço.
Antuã: uma no cravo e, de vez em quando, uma na ferradura...
Um abraço.
poesianopopular: o «caso República» insere-se na vaga de provocações anti-comunistas organizadas pelos contra-revolucionários.
Um abraço.
GR: MAP é um excelente cronista que, de quando em quando, entra na onda anticomunista.
Um beijo.
Graciete Reitsch: eu leio todas as crónicas de MAP e aprecio a maior parte delas. Só que, de vez em quando...
Um beijo.
Qualquer dia ainda vem com uma muito em voga em 74/75 cá para cima.Um Barradas bolsava no defunto Comércio do Porto:nas matas de S.Jacinto[Aveiro] há mais de 20.000 cubanos armados...
Saúde
Curioso do Mundo: essas e outras correram o país e o mundo...
Um abraço.
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