POEMA

OS OLHOS DAS CRIANÇAS


Atrás dos muros altos com garrafas partidas
bem para trás das grades do silêncio imposto
as crianças de olhos de espanto e de medo transidas
as crianças vendidas alugadas perseguidas
olham os poetas com lágrimas no rosto.

Olham os poetas as crianças das vielas
mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas
o que elas pedem é que gritemos por elas
as crianças sem livros sem ternura sem janelas
as crianças dos versos que são como pedradas.


Sidónio Muralha

(«Os Olhos das Crianças» - 1963)

4 comentários:

Maria disse...

Tremendo!
Sem mais palavras...

Um beijo grande

samuel disse...

Pedradas, sim, e assustadoramente certeiras.

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Ao ler este poema mais comovida fiquei.O futuro tem que ser nosso. Avante camaradas pois até mortos vêm ao nosso lado.

Fernando Samuel disse...

Maria: um beijo grande.

samuel: na mouche...
Um abraço.

Graciete Rietsch: Vozes ao alto! Vozes ao alto!
Um beijo.