AS FÉRIAS
Deixei o anzol em casa
e a isca, nem tive tempo de pensar,
mas o dia tem uma brandura de asa
- vou pescar.
Pesca sem anzol nem isca.
Ter férias, tem, quem sente
a vida que mordisca
a linha negligente.
Ao pescador que se deixe
a tarefa de pescar.
Ter férias é deixar o peixe
ter suas férias no mar.
Hoje a suavidade
da areia e do sol.
Amanhã, a cidade
e o anzol.
Sidónio Muralha
(«Que Saudades do Mar» - 1971)
5 comentários:
Os pescadores são dos poucos que nunca têm férias. Ou quando as têm, têm-nas forçados, porque ir ao mar é o que eles mais desejam.
Achei deliciosa a expressão "Ter férias é deixar o peixe ter suas férias no mar"
Um beijo grande
A cidade.
Todos os anzóis, todas as armadilhas, todas as redes... todo o cuidado é pouco!
Abraço.
Os anzóis da cidade são bem mais perigosos que os dos pescadores.
Este poema tem o aroma da maresia.
Bjs,
GR
Tanta coisa dita na aparente simplicidadfe. Muito belo!
Tão belo, tão simples e com tanto conteúdo.
Beijos.
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