ISTO ANDA TUDO LIGADO...

Os jornais dos últimos três dias dedicaram páginas e páginas às «comemorações oficiais» do Centenário da República, ontem iniciadas, com pompa e circunstância - ou seja, com blá-blá-blá até dizer chega...

Esses mesmos jornais deram, igualmente, grande destaque a uma «comemoração» do mesmo acontecimento - realizada à margem das «comemorações oficiais»: um almoço, também no Porto, com Manuel Alegre y sus muchachos...

Esses mesmos jornais - todos! - silenciaram a iniciativa com a qual o PCP abriu o seu programa de comemorações da implantação da República: a inauguração de uma exposição sobre o acontecimento e uma sessão pública na qual esteve presente o secretário-geral Jerónimo de Sousa e em que interveio um membro do Secretariado do Partido, Albano Nunes.

Percebe-se o silenciamento da iniciativa do PCP: não convém que se saiba que há quem tenha da implantação da República e de todo o processo que se lhe seguiu, uma visão que não coincide, entes diverge profundamente, da visão das «comemorações oficiais» - e muito menos convém se, quem tem essa visão não coincidente e divergente, é o PCP.

Pior ainda se, com as suas comemorações, o PCP pretende:
«contribuir para um melhor conhecimento do que foi e do que representou a revolução de 1910; avaliar que circunstâncias sócio-económicas e ideológicas a determinaram e que problemas e contradições se propôs resolver e superar; analisar quais as classes e camadas sociais que nela se empenharam, que reivindicações e bandeiras levantaram e quais foram afinal os seus principais beneficiários; saber como foi possível o avanço e finalmente o triunfo das forças mais reaccionárias e do grande capital no golpe militar de 28 de Maio de 1926 que abriu caminho a quase meio século de ditadura fascista» - como se vê, tudo questões que se situam a milhas de distância das preocupações das «comemorações oficiais»...

Muito pior ainda se, como aconteceu, o dirigente comunista, aludindo às «comemorações oficiais», afirmou:
«Não está na natureza do PCP integrar-se no cortejo de um comemorativismo que dá uma visão deformada e passadista dos acontecimentos, (...) que subestima o papel decisivo da componente popular no 5 de Outubro, (...) que ignora as motivações profundas das grandes luta operárias e populares que percorreram os dezasseis anos da República, (...) que passa ao lado da violenta repressão que frequentemente se abateu sobre os trabalhadores».

Assim sendo, silenciar estas opiniões impedindo que elas cheguem aos leitores e estraguem a festa das «comemorações oficiais», é obviamente a tarefa desses jornais.
Nem outra coisa esperavam os donos deles - que, aliás, aplaudem entusiasticamente as «comemorações oficiais»...

Não há dúvida: isto anda tudo ligado...

7 comentários:

samuel disse...

Para a esmagadora maioria desta corja, desde que lhes fosse garantida uma cadeira à mesa do orçamento, até o regresso da monarquia seria muito bem-vindo...

Abraço.

Manuel Rodrigues disse...

Infelizmente, cá temos o primeiro episódio da série "Soares, Soares e Companhia". Agora, seguir-se-ão outros. Tantos episódios quantos os necessários para reescrever a História e apagar o papel do seu herói: as massas populares, a classe operária... o Povo. E arrenegar até "aos quintos dos infernos" a luta de classes. Luta de classes, a mesma que não para e que, queiram ou não queiram, mantém a História em movimento. E, para seu azar, há-de provocar novas transformações revolucionárias.
Um abraço.
Manuel Rodrigues

cetautomatix disse...

Que mania que vocês têm de aborrecer os espíritos elevados com essas sensaborias de luta de classes e outras coisas complicadas que dão uma dor de cabeça horrível. Só mesmo uns chatos como vocês para virem estragar umas comemorações tão atraentes, só com gente lavada e que não anda a lutar com as classes! Ainda bem que há gente fina, sim.

Maria disse...

É exactamente como dizes.
Acho que vai haver em Montemor qualquer coisa dia 17. E se fossemos lá comemorar?

Um beijo grande.

Antuã disse...

Tudo gente muito fina e aristocrata a armar ao republicano.

Graciete Rietsch disse...

Fui á inauguração da exposição mas hoje vou vê-la em pormenor. Para já posso dizer que gostei muito do que vi e ouvi.
Abraços.

Fernando Samuel disse...

samuel: não tenhas dúvida...
Um abraço.

Manuel Rodrigues: acertaste em cheio - e vais continuar a acertar...
Um abraço.

Cetautomatix: tens toda a razão, pois claro...
Um abraço.

Maria; vamos pois!
Um beijo grande.

Antuã: gente fina é outra coisa...
Um abraço.

Graciete Rietsch: a intervenção do Albano Nunes foi brilhante.
Um beijo.