TUDO NA MESMA PAREDE
Portinari não morreu.
A morte é o mármore, o silêncio, o frio
e sobretudo o esquecimento.
Porque estamos vivos, tu e eu,
Portinari não morreu
e é ele que sopra o vento
e que faz correr um rio
no nosso pensamento.
Será teu companheiro se tu partires
o Portinari da eternidade
que pinta no balouço do arco-íris
as sete cores da amizade.
Foi ele que deu à parede
toda a força de um gesto
e que fechou numa rede
tudo isto e tudo o resto
- barco, ondas e conchas do mar,
água para matar a sede
e um homem a gritar
(tudo na mesma parede
e coberto de luar).
De luar ou do cristal das alvoradas,
lá no alto abrem-se vidraças
e crianças de todas as raças
avançam no asfalto, de mãos dadas.
Meninos dançam, e as cores
de Portinari são as mesmas do Brasil
- venham, senhoras e senhores,
ver dançar à volta das flores
os homens do ano dois mil.
Sidónio Muralha
(«Os Olhos das Crianças» - 1963)
6 comentários:
Que bem "pintado" está o quadro do Portinari!!
Já não será para o ano dois mili... mas as coisas não param de avançar...
Abraço.
Oortinari e Sidónio Muralha acompanham-se muito bem. Um beijo.
Justine: está lá tudo - como nos murais de Portinari.
Um beijo.
samuel: mais mil, menos mil...
Um abraço.
Graciete Rietsch: sem dúvida.
Um beijo.
Que maravilha... de parede, de estrada, de poema!
Um beijo grande.
Maria: o Poeta viu bem o Muralista...
Um beijo grande.
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