POEMA

AS CRIANÇAS E OS MONSTROS


A criança entrou numa casa de brinquedos e perguntou:
- Tem carícias para vender?
E o homem respondeu: - essas coisas não temos,
mas vendemos revólveres, metralhadoras
e canhões para crianças subdesenvolvidas,
e bombas atómicas em miniatura
para meninos de fino trato,
pagáveis em dez prestações
e com entrega mensal
de um monstro mais ou menos domesticado
ao cliente
que tiver praticado o crime atómico
em miniatura
mais horrível do mundo.


Sidónio Muralha

(«Que Saudades do Mar» - 1971)

7 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Será que o Sidónio muralha quis fazer um retrato dos Estados Unidos e dos seus admiradores?
Um beijo.

Op! disse...

Fantastico!

samuel disse...

É artigo que continua a ter grande saída. Felizmente, as carícias vão fazendo o seu caminho...

Abraço.

Maria disse...

Tremendamente belo!
Carícias temos nós, aos molhos, para lhes dar. E é tão bom...

Um beijo grande.

CRN disse...

Fernando,

Por um lado... Ainda bem que não se encontram caricias à venda.
Por outro, esta questão do armas - ferramentas para desbravar terrenos onde quem as fabrica se depoje do pão que com elas rouba - e do poder nuclear - ainda que em miniatura -, continua a ser o estandarte da economia americana, basta ouvir as declarações do artista obama, anunciando uma nova era de proliferação de centrais nucleares. Dessas que, em conjunto, com todo o risco que comportam e com a destruição ambiental que impõem os seus resíduos, continua a representar apenas pouco mais de 3% da energia produzida no planeta.

A revolução é hoje!

GR disse...

Um retrato real dos dias de hoje.
Há sempre alguém que tem carícias e sorrisos para dar.

Bjs,

GR

Fernando Samuel disse...

Para todos/todas: Viva a Poesia!
abraços e beijos.