POEMA

LÍRICA SEM NEBLINA


Já nos versos dos Vedas,
há 2 500 anos,
crepitavam as labaredas
dos problemas humanos.
Já então, quando as aves emigravam,
os homens não falavam de saudade,
mas simplesmente levantavam
uma canção à liberdade.
Então e sempre entrou a luta na poesia
como um pregão pela janela aberta
e enriqueceu-se dia a dia
numa perpétua descoberta.
Nem narcóticos, nem neblinas, nem adornos, nem véus,
pega o poeta em palavra, tijolos e argamassa,
e constrói um arranha-céus
que cada hora se ultrapassa.
E nesta maré de novo e de renovo,
movimento ascensional,
em cada poema o povo
põe a sua impressão digital.


Sidónio Muralha

(«Companheira dos Homens» - 1950)

4 comentários:

samuel disse...

"E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão."

...como algum tempo depois escreveria este...

Abraço.

Justine disse...

E as canções à Liberdade continuam a ser levantadas!

Graciete Rietsch disse...

Extraordinário poema!!!!!
Obrigada.

Maria disse...

Mais uma vez a poesia ligada à Liberdade... só assim é poesia.

Um beijo grande.