POEMA

TUDO O QUE EU QUERIA


Queria poder sentar-me com todos à mesa
e conversar tranquilamente, falar do tempo,
dos amigos, da cidade, tomar um copo
e um pires de caracóis (esta rodada é minha)
e assim, sem gritar, irmo-nos entendendo,
descobrirmos, todos juntos, por que sofremos
as moléstias do tempo em partes iguais,
e não achamos abrigo quando chove, que é quase sempre.

Queria, depois de jantar (claro que um bom jantar)
acender um bom charuto, abrir um livro
de versos de paisagem ou do mar do retorno
(cor de vinho dizem-me, e eu acho que tanto faz)
e lavar o meu olhar com o vaivém
da luz, da noite e do mar.

Queria, sem olhar para o norte
encontrar uma esperança sobre esta terra que é a minha
e a de todos; ver um amanhã melhor
conseguível no meu trabalho e no dos outros;
encontrar o amor; um pouco de paz se ainda há
e uma moral que não nos leve à morte, mas à vida.

Já terão adivinhado do que se trata,
o que lhes queria dizer
é que me lixa ter de escrever versos.


Jaume Pomar

9 comentários:

Anónimo disse...

Havemos de nos recuperar!

Anónimo disse...

Tudo o que eu queria!

ESPERANÇA E FELICIDADE

Espero a felicidade pousar em minhas mãos
Em noites iluminadas por corações cheios
De esperança e encantamento de flor.
Espero o amor vir para mim em insones
Momentos de entrega e deslumbramento.
Tempo, tempo diluindo em espelhos,
Em sonhos que acordam cada dia com
Olhos de futuro.Espero o que pode chegar
Espero calada, silenciosa mulher pisando
Descalça pela madrugada delicada.
Sento à beira de mim e sinto um jardim
Abrindo em bela claridade, em fantasia
E luar, em amante luar.Amiga de devaneios
E imaginação sagrada, inspiração cálida.
Sinto e espero a mente clarear, e medo
Fugir enquanto a felicidade me procura
E num acesso de profunda loucura, escrevo
Poemas, escrevo a espera e a esperança.
Escrevo a criança que ainda deseja dentro
De mim. Sou um ser siderante, distante
E crente no que há-de ainda vir. Espero
E espero a felicidade. Enquanto ela não
Chega, resta-me sonhar e talvez sorrir.

Karla Bardanza

Justine disse...

Espectacular, este Jaume Pomar! Amigo, devo-te a minha "educação poética" :))

Sal disse...

Espectacular. A Justine usou a palavra certa.
Adorei.
bjs

Anónimo disse...

A verdade da poesia,e das coisas, não está nos versos, mas na utopia palavras!
Este é um belo poema de Jaume Pomar
Abraço grande.

Sal disse...

Fernando Samuel:
...com que então a Callas, em 1958, no S. Carlos...
Vais ter de me contar tudinho. Percebeste? Tudinho!
Oh sorte.
beijinhos

Ana Camarra disse...

Olha outro poema lindo.
Eu também queria isso tudo, por vezes quase que consigo um momento assim , mas no fundo de mim a intraquilidade de saber que o resto do mundo não e isso só por si basta para não usufruir em pleno.
Mas havemos de lá chegar.

beijos

Maria disse...

Não conhecia este poeta....
Obrigada!

Um beijo grande

Fernando Samuel disse...

crn: sem dúvida...

maria teresa: mais um nome que eu desconhecia. Obrigado.
Um abraço amigo.

justine e sal: espectacular, pois.
Dois beijos.

poesianopopular: um dos muitos belos poemas de Jaume Pomar.
Um abraço.

sal: quando nos enconrarmos contar-te-ei esse dia para mim inesquecível.
Um beijo.

ana camarra: havemos de lá chegar e talvez mais cedo do que tarde.
Um beijo.

maria: é um catalão de grande qualidade...
Um beijo.