POEMA DE ABRIL
A farda dos homens
voltou a ser pele
(porque a vocação
de tudo o que é vivo
é voltar às fontes).
Foi este o prodígio
do povo ultrajado,
do povo banido
que trouxe das trevas
pedaços de sol.
Foi este o prodígio
de um dia de abril,
que fez das mordaças
bandeiras ao alto,
arrancou as grades,
libertou os pulsos,
e mostrou aos presos
que graças a eles
a farda dos homens
voltou a ser pele.
Ficou a herança
de erros e buracos
nas árduas ladeiras
a serem subidas
com os pés descalços,
mas no sofrimento
a farda dos homens
voltou a ser pele
e das baionetas
irromperam flores.
Minha pátria linda
de cabelos soltos
correndo no vento,
sinto um arrepio
de areia e de mar
ao ver-te feliz.
Com as mãos vazias
vamos trabalhar,
a farda dos homens
voltou a ser pele.
Sidónio Muralha
(«Poemas de Abril» - 1974)
Com este poema chega ao fim o ciclo dedicado a Sidónio Muralha.
O próximo convidado do Cravo de Abril é Mário Dionísio.
8 comentários:
O ciclo chegou ao fim e fechou com chave de ouro.
Obrigada camarada e um beijo.
Confesso-te que tenho pena que já chegue ao fim... este poeta é-me tão caro!... E este poema de Abril é comovente!
Um beijo, e obrigada pela boa poesia.
Que poema mais lindo para acabar esta série dedicada a Sidónio Muralha!
E sinto um arrepio bom....será uma questão de pele.
Um beijo grande.
e pronto... fiquei sem palavras.
resta-me a pele, que será farda enquanto cá estiver!!!
ENORME.
abraço do vale
Belo final!
Foi um ciclo altamente proveitoso... pelo menos para mim. :-)))
Abraço.
Graciete Rietsch: vamos ver se no próximo ciclo também há chaves de ouro...
Um beijo.
smvasconcelos: obrigado ao Poeta...
Um beijo.
Maria; é uma questão de pele, podes crer...
Um beijo grande.
duarte: resta o essencial.
Um abraço.
samuel: e também para mim...
um abraço
Espero que tenha chegado ao fim, por agora, mas que volte novamente.
Lindo, este poema de Abril!
Bjs,
GR
GR: um beijo muito amigo.
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