«OS LIVROS QUE ANDO A LER»

Os jornais têm falado - e hoje dão grande destaque, inclusive com chamada de primeira página - dos elevados salários e respectivos «prémios de desempenho» com que alguns gestores vêem compensado o seu intenso, suado e profícuo labor profissional.

Assim, a REM premiou o esforçado José Penedos com 243. 750 euros, mais coisa menos coisa - prémio que o incansável gestor juntou aos 27 mil euros, mais coisa menos coisa, de salário mensal.

E, a confirmar que a «face oculta» é o que está a dar, os gestores da PT, no seu conjunto, receberam, em 2009, 7 milhões de euros, mais coisa menos coisa, em salários e prémios - sendo que, curiosamente, os prémios são maiores do que os salários...
O bolo foi, naturalmente, distribuído de acordo com a cadeia hierárquica: 6 milhões, mais coisa menos coisa, para os três grandes e o resto para os restantes.
Assim, subiram ao pódio:
3 - o jovem gestor Rui Pedro Soares - conhecido adepto do FC Porto - que se classificou em terceiro lugar - medalha de bronze - com 1,5 milhões, mais coisa menos coisa;
2 - logo a seguir - medalha de prata - classificou-se Henrique Granadeiro, «o encornado», com um score de 1,6 milhões, mais coisa menos coisa;
1 - a medalha de ouro foi, como estava previsto, para Zeinal Bava - o big boss visível - com 2,5 milhões, mais coisa menos coisa.

Estavam as coisas neste pé, eis que um dos três premiados - para o caso Henrique Granadeiro - foi convidado pela presidente da Casa Fernando Pessoa - Inês Pedrosa, benza-a Deus - para ali ir falar, mais coisa menos coisa, sobre «os livros que ando a ler».
E ele foi. Ontem. Ao fim da tarde.

Perante reduzida assistência - compensada pela abundante presença de médias - o convidado de Inês não disse muito sobre os livros que anda a ler.
E, nesse aspecto, terá sido, até, uma desilusão, especialmente para quem ali se deslocou na esperança de ser informado sobre onde é que se pode arranjar a obra «Como influenciar pessoas e arrecadar um rendimento anual de 1, 6 milhões de euros, mais coisa menos coisa».

A dada altura, o convidado de Inês disse: «Sou um homem introspectivo para quem a palavra nem sempre é fácil, por isso os livros sempre foram para mim a melhor das companhias»- obviamente, estava a referir-se a livros de cheques.
(e imaginem quantos milhões mais teria por ano se a palavra lhe fosse fácil!...)

Depois, falou da crise: não, é claro, da crise que, a pretexto da crise, vai encher de crise as casas de milhões de portugueses em crise; sim, é claro, da crise, que a pretexto da crise, proporcionou a meia dúzia de portugueses rendimentos de, mais coisa menos coisa, 1,6 milhões de euros no ano de crise de 2009.

E falou do «papel fundamental que cabe à sociedade», para debelar a crise.
E falou nos «políticos que não têm ajudado nada».
E fechou as falas deste jeito:
«O Estado só quer tomar conta do que corre bem», revelação que considero espectacular. Eu que - ignorância minha - estava convencido de que o Estadoprivatizava (isto é: oferecia aos granadeiros) o que dá lucro, e guardava para si (isto é: para nós todos) o que dá prejuizo...

O que uma pessoa aprende ouvindo um gestor de sucesso a falar sobre, mais coisa menos coisa, «os livros que ando a ler»!

11 comentários:

Aristides disse...

"O Estado só quer tomar conta do que corre bem"? Quem é que o
G(r)anadeiro quer enganar? Ou está a chamar-nos estúpidos a todos?
Cambada!

poesianopopular disse...

ESPECTACULAR! O real e o surreal.
Abraço

Graciete Rietsch disse...

E onde estão os livros que anda a ler excepto claro os livros de cheques que recebe?
É um escândalo os ordenados e os prémios recebidos por essas e outras pessoas.
Beijos.

Maria disse...

Fiquei esclarecida com o tipo de livros que, mais coisa menos coisa, o HG anda a ler...
E que "o Estado só quer tomar conta do que corre bem". Mais coisa menos coisa foi o que aconteceu com o BPN...

Cambada!!!

Um beijo grande.

Antonio Lains Galamba disse...

ai ai.. ai ai ai...!!!!
que cambada!!! (de leitores!)

abraço

GR disse...

O teu post está fabuloso!

A situação é escandalosa, desumana.
Se H. G. não tem um pingo de vergonha, Inês Pedrosa não lhe fica atrás.
De um Grande livro precisava ele, mas era nas trombas!

Bjs,

GR

Anónimo disse...

Brilhante post! Fartei-me de rir com o GR. Na mosca, no que respeita aos Granadeiros e Pedrosas deste Portugal. Dá-lhe com o "Sumo" do Helmut Newton que mede 50x70 cm, pesa 30 kg e... a melhor parte, pois os Granadeiros deste mundo iriam gostar, custa 10000 (dez mil) euros (tá esgotado). Levavam e em grande, como eles gostam :-) Abreijos

samuel disse...

São uns "artistas"...
Todos com inveja do Paulo Teixeira Pinto... que pinta escreve poesia, é editor...

Abraço.

Fernando Samuel disse...

Aristides: é a desfaçatez levada ao cúmulo.
Um abraço.

poesianopopular: a pouca vergonha...
Um abraço.

Graciete Rietsch: os livros de cheques são a especialidade desses «leitores»...
Um beijo.

Maria: ora aí está!...
Um beijo grande.

Antonio Lains Galamba: Um abraço.

GR: nas fuças...
Um beijo.

Anónimo: um abraço.

samuel: graças a uma boa ´reforma»...
Um abraço.

Anónimo disse...

uns não leem por serem analfabetos, outros por seram analfaburros.
e depois há aqueles que coleccionam e nunca abrem a porra de um livro. ainda havia outros que diziam: verbouten, muito parecidos com estes. e agora estes que sabem que livros são de ter, ficando a escrita para quem pode!
e não nos esqueçamos do outro papel que eles usam com (muita) frequencia... em rolo claro.
abraço do vale

subterrâneo da liberdade disse...

Caro Fernando Samuel,

Mais um bom post.

No entanto as referências que tens feito ao FC. Porto eram evitaveis, para não perderes a consistencia.

Ou então falas, mas pões os podres todos e de todos à LUZ do dia.

Cumprimentos

Subterrãneo da Liberdade