POEMA

DOIS POEMAS DO SONHO


II

Desde sempre que o sol surge todas as manhãs anunciando um novo dia.
Desde sempre que as sombras se diluem.
Os homens saltam das camas amassadas
e voltam ao trabalho duro.

Desde sempre que a vida finge um recomeço.
(mas a verdade é que apenas continua
e os homens acordam já cansados.)

Desde sempre que o sol surge todas as manhãs anunciando um novo dia.

Mas nunca tanta alegria.
Nunca os bons-dias dos homens foram bons como os de hoje.
Nunca os cantos das aves foram assim expansivos
e penetraram tanto até ao fundo...

É que nunca a noite foi tão longa
e a miséria das almas tão intensa.

É que nunca em tudo se espelhou
esta suave ternura inexplicável
duma possibilidade que desponta.


Mário Dionísio

(«Com Todos os Homens nas Estradas do Mundo»)

6 comentários:

Justine disse...

"A ternura inexplicavel de uma possibilidade que desponta" - muito, muito belo!

Graciete Rietsch disse...

Grande poema!
E hoje, 36 anos depois de Abril, o Sol deixou, de novo, de nascer para todos.

Um beijo.

samuel disse...

Uma possibilidade que, afinal, é preciso continuar a fazer despontar todos os dias...

Abraço.

Maria disse...

Que poema lindo!
"nunca em tudo se espelhou
esta suave ternura inexplicável
duma possibilidade que desponta"
É belíssimo!

Um beijo grande

svasconcelos disse...

Poema sempre actual, "a possibilidade que desponta" ainda está na mira da nossa luta, como um sonho, sim, mas sobretudo como meta.
São lindos, estes poemas!
beijo!

Fernando Samuel disse...

Justine: haverá maior ternura?...
Um beijo.

Graciete Rietsch: mas Abril há-de voltar...
Um beijo.

samuel: até ao dia...
Um abraço.

Maria: um beijo grande.

smvasconcelos: meta que... lá chegaremos...
Um beijo.